quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Encontrei uma Dalila pela frente!

Esses dias parei pra fazer uma análise crítica e realista a respeito do meu estado físico geral. Vamos aos resultados obtidos:

- quem inventou o velcro também teve de passar um tempo lavando as mãos constantemente. A pele estava tão ressecada que eu já nem precisava mais pegar coisas de tecido, elas simplesmente "colavam" na minha mão e vinham junto comigo pela casa. Muito útil na hora de fazer uma organização geral, mas um tormento em outros momentos. Durante a noite, por exemplo. Cada vez que eu ia dar a chupeta pra Ana Luíza acabava trazendo junto o cobertor dela...

- lembram que eu disse que fazia tempo que eu não via minhas sobrancelhas? Pois bem, era melhor continuar sem ver: elas estavam parecendo duas taturanas. Naquele dia em que fiz o rabo-de-cavalo meu primeiro ímpeto foi de afugentar os bichos que estavam na minha cara. Foi só depois que eu percebi que eram as sobrancelhas.

- meu cabelo? Sem comentários. A última vez que ele passou por um salão foi ainda no Brasil. Minhas luzes não passavam de, no máximo, um abajurzinho. A franja estava um verdadeiro caminho de rato, já que eu tinha feito a besteira de tentar fazer justiça com as próprias mãos: cortar eu mesma.

- ainda tem esses quilinhos (dezenas deles) que se apaixonaram por mim e relutam em ir embora.

Apesar de tudo isso, estranhei quando me olhei no espelho e percebi um leve sorriso no meu rosto. Será que eu estava aprendendo a ser feliz mesmo na adversidade? Foi aí que eu olhei mais de perto e vi que o sorriso na verdade era a pele do rosto repuxada. Tinha acabado meu creme hidratante!

Decidi dar um basta na situação!

Com as mãos decidi ser radical: uso luvas para tudo (até pra fazer xixi...). As sobrancelhas eu mesma dei uma ajeitadinha. Coisa pouca. Só tirei os fios que estavam caindo dentro dos olhos e emendando as sobrancelhas sobre o nariz. Com o rosto foi fácil! Fui ao supermercado comprar um creme hidratante. Só que aqui eu tenho um problema realmente grave. Gravíssimo, eu diria... Sou obrigada a usar cosméticos nacionais!!! Ha ha ha! Essa é a parte boa de estar morando na França: cosméticos, queijos e vinhos, só os nacionais... Que chato! Pois bem, fui lá e escolhi um anti-rugas leve. Primeiras rugas. Coisa pra quem acabou de passar dos trinta... Nisso eles são incríveis! É uma prateleira imensa em qualquer mercadinho de esquina com todos os tipos de creme que se pode imaginar! Até um pra afinar o rosto. Estou pensando em experimentar. Quem sabe eu não consigo acabar com essa cara de lua cheia e não fico igual à Mortícia Adams?

Com o cabelo a coisa era mais complicada. Eu precisava de uma solução profissional!

Eu já tinha contado sobre o corte de cabelo do Vidal e do Felipe, né? Pois é, aqui temos o médico da família (atende a todos nós, até à Ana Luíza). Achei que devíamos ter também o cabeleireiro da família. O Vidal não estava gostando muito dos cortes. Então decidi eu mesma testar pra ver se ficamos com ele de vez ou procuramos outra opção.

Foi anteontem. Marquei horário. Terça-feira. Dezoito horas. Era o grande dia!

Cheguei e o assistente foi lavar meu cabelo. Me fez uma pergunta que eu achei estranha: "Quando foi a última vez que você lavou o cabelo com xampu?" Será que aqui eles lavam o cabelo sem xampu? Fiquei cabreira.

Sentei na cadeira e fiquei esperando pelo "chefe". O dono do salão. O mesmo que cortou o cabelo do Vidal e do Felipe.

Ele chegou e me perguntou o que eu queria. Aí eu disse: "Não sei!" E era verdade. Fiquei dias pensando como eu ia querer cortar o cabelo e não sabia o que fazer. Disse que ele podia fazer o que quisesse. Eu só queria manter a franja (bem cortada, é claro). E não deixar o cabelo muito curto. E também que ele ficasse com volume. E que fosse prático pra arrumar (com duas crianças não dá pra ficar horas na frente do espelho). Ah! E que, se possível fosse igual ao daquela foto ali na revista... ou seja, ele era totalmente livre pra fazer o que quisesse...

Ele se armou de tesoura e pente, pegou uma mecha do alto da cabeça e... tac! Cortou pela metade! Gelei na cadeira. Será que quando eu disse "não muito curto" acabei esquecendo de falar a negação? Fiquei ainda mais cabreira.

Aí chegou o assistente e ficou (como todo bom assistente)... assistindo. Ele queria saber qual era a técnica de corte que estava sendo usada. O cabeleireiro explicou, o assistente disse "ahhhn" e continuou assistindo. Aí ele fez um comentário que iniciou o momento mais tenso do dia: "Uma vez eu vi uma técnica de cortar que era bem estranha. Eles juntavam o cabelo todo em cima e faziam um único corte".

Pra não ficar repetindo ele, ele, ele, vamos dar nomes aos bois, quer dizer, aos dois. Algo bem didático, por exemplo, X para o assistente e Y para o cabeleireiro, certo? Não, não ficou legal. Deixe ver... A para o assistente e C para o cabeleireiro, tá? Ai, estou sem inspiração hoje... Vamos continuar como estava...

Nesse momento,o cabeleireiro disse: "É verdade! Você faz assim, ó..." Juntou todo meu cabelo no alto da cabeça, chegou a tesoura perto e... "tac"! Ele só falou o tac, não fez o tac (ainda bem). Eu me encolhi alguns centímetros. Aí ele se empolgou. Começou a descrever todas as técnicas de juntar o cabelo numa parte da cabeça e "tac". Só que ele falava e fazia. Junta tudo na esquerda e tac. Junta tudo na direita e tac. Junta em cima, no meio, atrás e tac, tac, tac. Claro que ele não cortava, mas repuxava todo meu cabelo, chegava com a tesoura perto e falava: "tac". Além de estar ficando com dor de cabeça, a cada tac daqueles eu apertava os olhos e encolhia mais um pouquinho. O meu medo era que ele esquecesse o que pretendia fazer no meu cabelo quando começou...

Teve uma hora que ele descreveu uma técnica em que o cabeleireiro coloca a cliente de quatro sobre a cadeira do salão, joga o cabelo todo pra baixo e... tac! Essa técnica foi ele mesmo que demonstrou. Ele não me pediu pra fazer isso, mesmo porque eu me recusaria. Mas fiquei pensando... Isso tudo foi um curso "ma-ra-vi-lho-so" que ele fez em Barcelona onde ele aprendeu "tu-do" o que ele sabe! O que acontece é que quando eu tinha 18, 19 anos eu fazia exatamente isso: juntava todo o cabelo no alto da cabeça e... tac! Eu mesma cortava meu cabelo. Se eu soubesse que essa era uma técnica refinadíssima tinha aberto um salão e hoje estaria rica... Fiquei, se é que isso é possível, ainda mais cabreira.

Na verdade, eu até nem me importaria de ser cobaia, desde que ele não estivesse cobrando (bastante) por isso.

Felizmente acabou a "aula". Eu já nem me via mais no espelho, de tão encolhida que estava. Sentei normalmente de novo. Ele voltou a cortar. Foi cortando, cortando. Cheguei a achar que ele ia cortar tudo. "Não faz isso, não! É pouquinho, é fininho, mas é tudo o que eu tenho..."

Durante esse tempo eu ia pensando: "Gostei. Não gostei. Detestei!!! Aí, aí, tá bom. Adorei! Não, do outro jeito. Não dá pra colar de novo esse pedacinho?". Ele terminou o corte. Eu estava parecendo um fósforo: uma bolinha no alto da cabeça e o resto espremido nos lados do rosto.

Já não tinha como ficar mais cabreira. Desisti de me preocupar. Cabelo cresce, né?

Ele começou a secar. As mulheres vão me entender, ele girava o secador e amassava o cabelo. Eu tinha pedido volume, não tinha? Desligou o secador e pegou a lata de spray. (Eu detesto spray!). Fiquei sufocada de tanto que ele apertou o dedo naquela latinha. E ele puxou, puxou pros lados, pra cima...

Acabou! Ele pegou o espelho pra me mostrar atrás. Não vou dizer que eu parecia uma leoa porque as leoas não têm juba (vi isso num filminho do Futuroscope sobre a África no final de semana). Mas eu estava parecendo... quem?... Já sei! Toni Tornado quando cantava "... na BR3...".

Murmurei um "très bien" meio engasgado, levantei, paguei e saí.

Ainda bem que o salão é na frente de casa. Felizmente não encontrei ninguém pela rua. Cheguei em casa, abri a porta e voei como um raio para o banheiro. O Vidal na sala com as crianças... "E aí?" Fiquei no banheiro um tempo observando. Passei um lápis nos olhos. Um batom. Talvez estivesse estranhando minha cara sem maquiagem. Não adiantou. Peguei uma escova e comecei a tentar tirar aquele spray todo. Foi difícil. Lágrimas escorriam dos meus olhos de tanto puxar o cabelo. Pensei em entrar embaixo do chuveiro e arrumar do meu jeito. Mas aí achei que seria um desaforo! Pagar caro no salão pra chegar em casa e desmanchar tudo? Isso eu fazia no Brasil quando era poderosa. Agora não estou com essa bola toda, não.

Fui na sala para o Vidal ver o resultado. Ele disse que com aquela toalha na cabeça não dava pra ver nada. Brincadeirinha! Só lembrei da Renata que, aos oito anos, amarrou uma toalha na cabeça quando minha mãe mandou cortar o cabelo dela curtinho. Ela disse que só ia tirar a toalha quando o cabelo crescesse. Só hoje, quase 20 anos depois, consegui compreender a atitude da minha irmã... Tive vontade de fazer o mesmo.

O Vidal olhou. Ficou quieto por alguns (torturantes) segundos e, para meu horror, disse: "O que foi que ele fez aí atrás?". Quase surtei! Balbuciei algumas explicações para o que não tinha explicação e ele tentou consertar: "Nem fez diferença!" Foi pior! Como não fez diferença? Quando eu saí tinha todos os fios quase do mesmo tamanho com as pontinhas viradas para baixo. Agora cada um tem um comprimento diferente com as pontinhas viradas para todos os lados!!!

O Vidal decidiu ser solidário. "Eu também não gostei do trabalho dele. É um cara legal, mas não dá. Vamos procurar outra pessoa...". Me senti mais reconfortada, mas, por via das dúvidas, decidi cobrir todos os espelhos da casa, afinal, "o que os olhos não vêem o coração não sente, né?".

O travesseiro acabou fazendo um bom trabalho. No dia seguinte o cabelo já tinha baixado bem. Agora ele está praticamente normal. Já sei, já sei, vou ter de colocar uma foto aqui. Senão terei minha caixa postal abarrotada por milhares de mensagens de protesto (vocês sabem, esse blog é super popular...) Aí vai a foto (sem comentários, por favor!). Ela é recente. Foi tirada hoje, dois dias depois do ocorrido. Vocês acham que eu ia documentar a catástrofe? De jeito nenhum. Isso ia acabar aparecendo depois em algum site sacana da Internet. Nem pensar! Não quero recordações materiais desse dia.


Bem, acho que resolvi todos os problemas que tinha detectado em mim mesma... Quer dizer, faltaram os quilinhos... Mas até 2006 eu tenho tempo de tentar dar um jeito neles...

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