segunda-feira, dezembro 17, 2007

O fim!

Este blog está definitivamente encerrado!

É, eu sei, é trágico. Mas é assim, fazer o quê?

São as nossas memórias, as nossas lembranças e eu mesma vou voltar aqui várias vezes. Uma pena ter perdido a maioria dos comentários...

Mas, não tem notícia ruim sem notícia boa.

Estou inaugurando um novo blog! Novinho em folha virtual!

Esse aqui era pra falar do nosso tempo na França, e esse tempo acabou há exatamente um ano. Nossa! Como passou...

Quero continuar falando, mas não tinha sentido fazer isso aqui. Esse espaço é da nossa experiência por lá. E ela já terminou.

No novo endereço vou continuar com minhas histórias. Mas também vou falar de livros, vou contar os "causos" da Quiltéria, e mais tudo o que me der vontade.

O novo endereço é www.julianavermelhomartins.blogspot.com.

Espero todos os meus quatro leitores por lá!

terça-feira, dezembro 12, 2006

Uma invasão

Eu sei que estou devendo notícias nossas! Calma! Estamos quase de volta...

Mas vou pedir licença aos meus quatro leitores pra publicar aqui um texto para minhas amigas de patchwork! Não tem nada a ver com nossa vida na França... Quer dizer, até tem um pouquinho já que eu me inspirei em histórias acontecidas comigo e com minhas amigas. Mas foge um pouco dos nossos causos habituais.

É só um empréstimo, prometo!

Lá vai!

============================================
CASO SÉRIO

Eu vou lhe contar tudo, desde o início...

Ela sempre gostou de artesanato. Adorava frenquentar feirinhas, comprava coisas pra alegrar a casa, até fazia um bordado de ponto cruz de vez em quando. Um dia, uma amiga que tinha chegado dos Estados Unidos trouxe uma revista. Uma simples revista. Inofensiva. Pelo menos, era o que eu pensava...

Já estávamos casados há alguns anos, dois filhos, tudo ia bem na nossa vida. Mas aquela revista...

Era uma revista de decoração em estilo country. Minha mulher ficou encantada com umas colchas e falou:

- Nossa! Que lindo isso!! Será que é difícil de fazer ?

E a amiga disse:

- Acho que não. Olha só, aqui no final da revista tem uns moldes e umas explicações. Eu te empresto a revista e você tenta.

Ela deixou a revista num canto e ficou se enrolando uns tempos. Até que vieram as férias e ela reclamou que estava sem saber o que fazer nos dias em que passaríamos na praia. E eu sugeri:

- Por que você não tenta aqueles trabalhos da revista que a sua amiga te emprestou? Faz semanas que está aí. Se não for pra fazer é melhor devolver.

Quando penso que EU sugeri! Não consigo me conformar...

Ela saiu, comprou uns panos e, no final de uma tarde, tinha um pegador de panelas pronto. Me mostrou orgulhosa do resultado e eu incentivei. EU INCENTIVEI!!! Mesmo não entendendo nada de costura dava pra ver que não tinha ficado lá essas coisas, e a confirmação veio quando, na primeira lavada, o negócio praticamente se desintegrou. Mas ela estava empolgada e tinha até descoberto um curso numa loja de tecidos. O curso durava 8 semanas, só que ela convenceu a professora de que não poderia, por causa do trabalho, fazer em 8 semanas. Precisava fazer em 4, já que seria só pra ter as bases mesmo, era só um hobby, não era?

Foi aos poucos. Eu nem percebi. Hoje eu olho pra trás e tento identificar o momento em que tudo começou, mas não consigo...

No começo foi legal, ela estava empolgada, alegre. Logo terminou uma manta, “um sampler”, ela disse. Comecei a ouvir as conversas pelo telefone com as amigas e vi que era uma linguagem incompreensível pra mim:

- Oi! Terminei meu quillow! Sério. Não, quiltado à mão! Juro! Uns blocos em foundation outros em apliqué, com as bordas mittered. É verdade! Tô tão orgulhosa... Agora estou aqui pensando se faço uma colcha em Baltimore ou um panô em Bargello. O que vc acha?

Quillow? Quilt? Foundation ? Bargello? Baltimore pra mim sempre foi uma cidade dos Estados Unidos, mas, aparentemente, eu estava enganado. Nossa comunicação estava começando a ficar difícil.

Mas o pior nem era isso...

O problema era a invasão silenciosa da nossa casa. Aos poucos começamos a encontrar tecidos, livros, e todo tipo de material de costura em todos os cantos. Sentar no sofá era um perigo! Ser picado por uma agulha era o mínimo que podia acontecer. Isso, claro, quando a gente conseguia um espaço pra sentar. Geralmente tudo estava tomado pelo estojo de costura, o bastidor e a colcha King Size que ela estava quiltando.

Andar descalço era uma temeridade. Alfinetes malignos e mal intencionados insistiam em chamar a atenção para o fato de estarem caídos pelo chão e pediam pra ser levados pra caixinha usando, pra isso, de meios sórdidos como se enfiarem nos nossos calcanhares que doíam pra caramba! Nem Aquiles suportou um ataque covarde no calcanhar, que dirá nossos pobres calcanhares mortais...

A estante foi tomada pelos livros e revistas de patchwork que chegavam dentro de sacolas a cada vez que ela saía e passava numa livraria ("estava em promoção, olha só!"), mas também pelo correio, com as coisas que ela pedia pela internet ("você sabia que livros NÃO PAGAM imposto de importação? Não é o máximo?").

Tecidos então... Estavam por tudo. Acho que algum cientista ainda vai descobrir que tecidos têm vida própria e que, ainda por cima, se reproduzem! Afinal, como explicar as vezes em que eu fui buscar uma toalha de banho no escuro e descobri ao acender a luz que era um tecido de florzinhas roxas? Sem contar que quando ela viu, deu um grito e disse:

- O QUÊ?! Você não está pensando em se enxugar com meu tecido Debbie Mum novinho, né?

Não sei quem é essa Debbie-não-sei-o-que, mas deve ser alguém muito importante... Muito mais do que eu e nossos filhos que já não tinham roupas limpas porque os tecidos tomavam conta dos varais e, quando esses acabaram, das portas, das janelas e de onde mais fosse possível pendurar alguma coisa.

- A gente tem de lavar os tecidos antes de usar pra soltar toda a tinta e encolher tudo o que for necessário, senão o trabalho fica horrível depois.

Horríveis, na verdade, tinham ficado nossos almoços e jantas...

Primeiro ela começou a fazer só coisas super rápidas (tinha ficado costurando até as barrigas roncarem mais alto do que a máquina), depois começaram os PFs, já que não tinha nenhum espaço na mesa que não fosse tomado por moldes, tecidos, régua, tesouras, alfinetes, etc., etc., etc. Sobravam exatos 10cm de mesa, suficientes, quando muito, pra colocar um pratinho de sobremesa pra cada um. E ai de quem respingasse uma só gota de qualquer coisa naquilo tudo!

Num domingo, estávamos todos em casa quando, de repente, tocou um despertador. Eu levei um susto! Perguntei porque o despertador estava tocando no meio da tarde e não acreditei na resposta que ela deu sem nem levantar os olhos do EPP que estava fazendo:

- Ah! É o horário de ir buscar as crianças na escola. Eu coloquei pra despertar pra eu não esquecer... Você sabe, quando eu pego numa costura não vejo a hora passar!

E tem mais! Nos armários, começaram a aparecer sacolas e mais sacolas. Aliás, as sacolas estavam também na sala, do lado do sofá, no nosso quarto, do lado da cama, na área de serviço... Essas sacolas eram um mistério pra mim até que um dia interceptei uma conversa e vi que a coisa era ainda pior do que eu imaginava!

- Tô arrasada! Tenhos uns 10 UFOs aqui em casa! Não, ainda não consegui dar um fim naquele da sala, acredita? Só faltam as flores de fuxico e o viés e eu não me animo! Não, não é nem mais um WIP, jé é UFO mesmo! O problema é que tem pelo menos uns outros 10 projetos que eu quero começar, mas estou me segurando. Então, menina, tem aquela revista japonesa que tem umas bolsas em chenille que são demais! Mas eu já disse que só pego na bolsa depois de terminar pelo menos aquela aplicação em freezer paper que está me esperando há séculos no quarto!!!

Dentro das sacolas tinham UFOs?!!! Minha mulher estava recebendo marcianos em casa e ainda fazendo fuxicos com eles? Logo ela, que nunca foi de falar mal da vida de ninguém! Será que ela estava a ponto de ser abduzida?! E que história era aquela de coisa congelada no quarto? Talvez fosse esse tal de WIP, de quem eu nunca ouvi falar! E se a polícia baixasse aqui em casa? A NASA, a CIA, o FBI? Já estava até vendo a cena...

Helicópteros sobrevoando a casa, as crianças apavoradas num canto e aqueles homens em macacões e capacetes de astronauta entrando na casa, vasculhando tudo e dizendo: "Soubemos que a dona desta casa mantém WIPs congelados no quarto, enrolados em papel pra freezer, além de ter UFOs reféns, presos em bolsas de chenille" (Chenille, o que é isso, meu Deus?!). E ela, com ar de desdém: "Humpf, esse macacão deles podia pelo menos ter um quiltzinho à máquina!"

Achei que aquilo tudo já estava indo longe demais! Conversei, tentei ser compreensivo. Disse que estava sentindo falta dela, de passearmos juntos, só nós dois, propus uma viagem. Ela relutou por uns tempos, mas depois aceitou. Ficou bem feliz com a idéia. Feliz demais, até. Eu devia ter desconfiado... Ela disse que organizaria tudo, que passaríamos 4 dias num lugar bem romântico. Era novembro e nós fomos... pra Gramado!!!

Na volta, ela dizia pra todo mundo:

- Não sei porque ele ficou tão bravo! A gente saiu pra passear todas as noites! E depois, ele sempre reclama que trabalha demais, que está sempre cansado... Quando eu arranjo dias inteiros pra ele ficar de papo pro ar, sem fazer nada, dormindo até tarde ele acha ruim! Agora, amiga, vou te contar: o festival é TU-DO-DE-BOM!!!

Comecei a ficar desesperado. Procurei os maridos das amigas e vi que todos estavam na mesma situação. Criamos um grupo de auto-ajuda, e nos reuníamos, enquanto elas quiltavam, pra trocar experiências. As histórias eram escabrosas!

- Levei minha mulher pra uma viagem à Itália pra ver se ela se desligava um pouco. Quando entramos na Basílica de São Marcos, em Veneza, ela deu um grito e caiu de quatro! Ficou o tempo todo olhando só para o chão. Disse que era uma fonte de inspiração infinita pras colchas . Quis tirar foto, era proibido, então ela se ajoelhou e ficou desenhando, tirando os modelos. Todo mundo olhando pras obras de arte, pros mosaicos, e ela ali, copiando o chão! E foi a mesma coisa em todas as outras cidades, Milão, Florença... Eu já não sabia mais o que fazer. Nosso álbum de fotos só tem foto de chão!!! Agora ela só fala em participar de um cruzeiro nas Bahamas. Patchwork em regime de confinamento!

- Comigo foi pior! Tinha uma obra perto de casa. Uma nova linha de ônibus. Eles estavam instalando os postes de luz e os tais postes vinham embrulhados em um tipo de feltro, sei lá. Só sei que ela foi até o meio da obra, uma rodovia!, e saiu carregando uns 10 metros daquele feltro todo sujo de lama! Eu perguntei: "E se a polícia te pega roubando material na rua?" E ela disse: "Imagine! Eles iam JOGAR FORA! Quer heresia maior do que jogar tecido fora?! E dá uma fibra excelente pra usar nos meus sanduíches!". Eu fiquei em pânico pensando que a gente ia começar a comer tecido também, mas ela me acalmou dizendo que era outro tipo de sanduíche...

- Isso não é nada! Minha mulher voltou a estudar inglês. Eu fiquei contente porque pensei que, enfim, ela estava se libertando dessa coisa. Nada disso! Ela voltou a estudar inglês pra poder assistir um canal americano de patchwork pela internet! 24 horas por dia! Isso sem falar numa Universidade do Quilt, também americana, também por internet. O que é que eu vou fazer?

E começou a soluçar. Os outros maridos, penalizados, ofereceram mais uma cerveja e suspiraram em uníssono! Todos sabiam muito bem o poder da Internet! E agora, depois do tal de Orkut, as coisas tinham piorado! Um deles andou bisbilhotando o perfil da mulher e descobriu que ela agora se auto-denominava "Serial Quilter" e que fazia parte de uma comunidade (que ele já estava a ponto de chamar de ‘seita’) chamada (com muita razão, diga-se de passagem) de Patchahólicas Anônimas!!! É o fim!

É por isso que eu vim aqui, Doutor. Vim para saber se isso tem cura, se tem alguma coisa que eu possa fazer pela minha mulher!

O médico era um especialista. Uma das maiores referências nacionais em Psiquiatria. Esse médico era realmente a última esperança de toda a família. Depois de escutar toda a história em silêncio profundo, com os braços cruzados sobre o peito e o olhar grave, o médico apoiou os cotovelos sobre a mesa, respirou fundo e disse:

- Bem... Por acaso o senhor não poderia me dar o endereço desse grupo de maridos? Minha mulher também faz patchwork!!!!

E começou a chorar!

domingo, outubro 22, 2006

Com São Pedro não se brinca!

Segunda-feira passada eu fiz o que faço todas as segundas-feiras de manhã: acordei e liguei direto a televisão no canal de previsões meteorológicas pra saber como seria a semana e como vestir as crianças pra escola. Se fosse um programa cômico eu não teria dado mais risada. Olha só o que o apresentador falou: “Aproveitem o dia de hoje, que deve ser o último dia agradável do ano! A temperatura vai ser amena, com sol em todo o país. Amanhã chega uma frente fria que trará chuvas, e o pior dia da semana vai ser quarta-feira, com temporais generalizados.” Não é de morrer de rir? Não entenderam? Vou explicar...

Quem acompanha fielmente esse blog deve lembrar do dia 18 de outubro do ano passado, dia do meu aniversário, quando eu tentei tomar um café no centro de Nantes, mas quase me afoguei no temporal que caiu bem naquele momento, lembram? Foi por isso que eu achei tão engraçada a previsão da segunda passada. Era tão óbvia!

Levei as crianças pra escola e voltei pra casa com uma idéia na cabeça... antecipar minha comemoração particular de aniversário. Assim, de uma hora pra outra! Eu cheguei a pensar no que um amigo me disse uma vez: comemorar aniversário antes do dia dá azar. Mas eu achei que uma mocinha já grandinha como eu, não devia ficar dando atenção a superstições e deixei pra lá... Eu ia pregar uma peça em São Pedro!

Cheguei em casa, e gastei umas duas horas pintando o cabelo, tomando banho sem ninguém pra bater na porta, perguntar onde está o brinquedo, chorar porque levou um safanão do irmão, etc, etc, etc... Terminei a sessão beleza, saí e fui levar meus olhos pra passear numa loja que tem TUDO pra uma casa e que eu adoro! Depois comi uma omelete num restaurante que eu namorava desde que chegamos por aqui. Em seguida fui pro centro da cidade e voltei ao mesmo café do ano passado. Eu tinha uns 50 minutos dessa vez! E estava um sol maravilhoso, temperatura agradável, um sonho! Pedi meu café, peguei meu livrinho e fiquei por ali, saboreando o momento um ano depois...

Só teve uma coisa que me incomodou... a fumaça de cigarro. É incrível, mas tinha gente à esquerda, à direita e na minha frente. Todos fumando. E o mais inacreditável é que a fumaça de TODOS eles vinha na minha direção! O vento ficava mudando de lugar só pra mandar aquela fumaça fedorenta pro meu lado! Decidi me convencer de que nada é perfeito mesmo, e que tudo até ali tinha corrido super bem...

Veio a terça-feira e, com ela, as nuvens. Eu até achei divertido. Comecei a esperar ansiosamente a quarta-feira só pra escrever nesse blog, dizendo “Te peguei, São Pedro!!!”, mas, qual não foi a minha surpresa, quando acordei na quarta-feira, abri a janela e... SOL! Um dia sem nuvens, temperatura agradável, exatamente o contrário do que tinha sido previsto insistentemente nos dias anteriores! Sim! Eu tinha visto novamente a previsão e eles diziam sempre a mesma coisa: temporais na quarta-feira. E quando eu acordei, aquele sol!

Achei que São Pedro tinha decidido me dar uma liçãozinha, do tipo, ponha-se no seu lugar, quem você pensa que é, etc, etc, etc. E, pra falar a verdade, até achei engraçado essa minha questãozinha particular lá com o povo de cima... E, no fim das contas, toda aquela história de azar por comemorar o aniversário antes do dia tinha sido uma grande bobagem, muito pelo contrário, eu tinha até ganho de presente um belo dia de sol no meu aniversário, coisa que não acontecia há muito tempo, quando...

Era umas sete da noite, eu estava me arrumando e arrumando também as crianças pra ir buscar o Vidal na estação de trem. Ele tinha ido participar de um congresso e estava voltando num TGV (trem de grande velocidade) que chegava às oito da noite. O programa era passar numa pizzaria e trazer uma pizza pra casa, pra comemorar meu aniversário. Fazia já mais de um mês que eu estava sonhando com a tal da pizza...

... e o telefone tocou! Era o Vidal:

- Ju, estou vivendo um pesadelo! Alguém roubou meu notebook dentro do trem. Já andei em todos os vagões olhando e não achei nada. O controlador disse que isso tem sido comum, os ladrões entram no trem, roubam e descem antes de o trem partir. O pior é que dentro da mala estavam todos os meus documentos, passaporte, cartões de crédito, tudo! Sem contar na minha tese...

- Mas você não fez cópia do seu trabalho?

- Fiz! Mas estava na chave USB que TAMBÉM estava junto do micro! Eu queria que você abrisse o arquivo que eu copiei no micro aí de casa no domingo assim que terminei o trabalho pra ver se está tudo bem.

- ...

- Que foi?

- É que eu não sei exatamente o que aconteceu, mas hoje o mouse e o teclado do nosso micro pararam de funcionar e eu não consegui fazer nada no micro o dia todo... Não sei o que é, vamos ter de chamar alguém aqui pra ver o que está acontecendo...

- Mas aí é pesadelo demais!!!! Eu vou ter perdido todo o trabalho do fim de semana!

- Bem, vamos ver isso quando você chegar. Eu vou estar lá na estação te esperando...

Desliguei o telefone meio catatônica, pensando nas fotos que tinham ido embora e que eu não tinha feito cópia, no trabalhão pra refazer os documentos e tudo o mais. Comecei a desconfiar da tal história do azar, mas afastei o pensamento. Principalmente porque eu consegui trocar o teclado pelo do finado notebook e funcionou, fiz cópia do trabalho do Vidal, liguei pra ele pra contar isso e respiramos um pouco aliviados.

Fui buscar o Vidal na estação, passamos no mercado pra comprar um novo mouse e chegamos em casa ainda sob o choque do acontecido. Foi quando abrimos a caixinha do correio e tinha um envelope. Pensaram que era um cartão de aniversário pra mim? Nada disso! Era uma cartinha do proprietário do antigo apartamento em que morávamos dizendo que tínhamos uma dívida de 500 euros de conta de água pra pagar! Acho que o choque foi ainda maior! Mal estamos tirando a cabeça pra fora de um novo período de vacas magérrimas e aparece uma conta dessas! Todo um mês de supermercado! Pensamos em fazer jejum nas próximas semanas (o que não seria mal, estamos precisando perder uns kilinhos mesmo...) mas não daria... As crianças não agüentariam...

O moral não poderia estar mais lá em baixo. Mesmo assim eu ainda não estava convencida daquela história de azar, quando chegou a pizza que tínhamos pedido.

Mais de um mês sonhando com a tal da pizza... Pedimos no mesmo lugar de sempre, e ela estava HORRÍVEL!!!! Veio faltando queijo em dois pedaços, a carne que foi usada devia ser de segunda, tinha um gosto de sebo intragável. Foi nesse momento que eu pensei: ok, você venceu! Não dá mesmo pra comemorar o aniversário antes da hora! Isso dá um azar danado!

No dia seguinte, começamos a ver tudo o que era necessário pra refazer os documentos, cartões etc... Eu saí de manhã pra levar as crianças na escola e fazer umas outras coisas. Voltei pra casa só na hora do almoço... Estranhei o computador estar desligado e fui entrando em casa igual filme policial: me escondendo rapidamente atrás das paredes, o rolo de macarrão em punho, mas, nada! Ninguém estranho em casa. Já que tinham roubado as chaves de casa também, todo cuidado era pouco, né? Então, porque o computador estava desligado? Foi aí que notei que tudo estava desligado, ou seja, estávamos em luz! Tinha sido cortada!

Na mudança de um apartamento pra outro acabou acontecendo uma confusão com os contratos de luz e justamente aquele dia a companhia de energia elétrica tinha escolhido pra cortar a nossa luz! Não parece coisa feita?

Alguns telefonemas mais tarde essa coisa da luz já estava resolvida, mas, por via das dúvidas fui dar uma olhada nas encruzilhadas aqui perto pra ver se não tinha uma vela vermelha e uma galinha preta dando sopa nas redondezas... Não tinha! Devia ser ainda reflexo da “mardição” do dia anterior mesmo...

Achei que o pior já tinha passado e que tudo ia começar a voltar ao normal. E não é que melhorou mesmo?

No fim da tarde eu estava conversando pelo MSN com o Vidal (computador funcionando, inclusive o mouse!). Estávamos tentando decifrar o texto do site do consulado pra saber se ele teria de ir buscar o passaporte em Paris ou se eles mandariam pelo correio quando o Vidal disse, quer dizer, escreveu:

Vidal diz:
Olha só! Tem uma seção de achados e perdidos no site do consulado! Vou ficar de olho pra ver se meu passaporte ou carteira de motorista aparecem por lá.

Juliana diz:
É mesmo? Vou ver se minha carteira de motorista está por lá! Me mande o link.
(Parênteses: quando chegamos aqui eu perdi misteriosamente minha carteira de motorista... Uma história pra contar um outro dia...)

Vidal diz:
http://www.consulat-bresil.org/index.php?option=com_content&task=view&id=26&Itemid=47

Vidal diz:
TÁ LÁ

Vidal diz:
TÁ LÁ

Vidal diz:
TÁ LÁ

Gente, vocês não imaginam a emoção de ver seu nome numa lista de consulado! Parece que eu tinha achado meu nome numa lista de aprovados no vestibular! Que coisa mais engraçada! E o negócio funciona mesmo! Há três anos minha carteira perdida e eu reencontro. Dá pra acreditar?

Agora, vejam só que coisa chata... A GENTE VAI TER DE IR PRA PARIS!!! Pra buscar carteira de motorista, passaporte, mas é Paris, né? Dar mais uma olhadinha na torre, um passeiozinho na Champs Elisée... ai ai

No fim das contas, até que não foi tanto azar assim, né? E eu ganhei de presente de São Pedro um dia de sol no meu aniversário... Definitivamente, nessa vida, tudo tem um lado bom!

terça-feira, setembro 26, 2006

Hoje tem Marmelada?

Tem, sim Senhor!
Hoje tem goiabada?

Não! É claro que não! Não existe goiaba na França... Mas marmelo tem, e eu acabei de fazer um panelão de marmelada! Estou realmente me superando!

Puxa! Dois meses sem escrever? Tanta coisa aconteceu nesse tempo...

A viagem ao Brasil foi extremamente cansativa por causa dos sustos com a Varig. E eles fizeram questão de nos deixar em suspenso até o último minuto! Tudo bem, já passou.

Agora já estamos contando os dias, literalmente, para a volta. Em 83 dias estamos partindo...

Às vezes fico contente, às vezes fico triste. Quero estar de volta ao Brasil, mas não quero passar pelo fim. Vai ser muito difícil. Tanto por questões práticas quanto por questões pessoais. Fizemos amigos, não criamos raízes, mas começamos a nos espalhar um pouquinho. Vivemos experiências maravilhosas e outras duríssimas. Crescemos muito. Foram três anos vividos intensamente em tudo o que tivemos de bom e de menos bom. Felizmente não tivemos nada de extremamente ruim, graças, tenho certeza, às orações e aos bons pensamentos de vocês!

Estou procurando aproveitar ao máximo os últimos instantes, com menos tempo para outras coisas como escrever por aqui, por exemplo. É uma pena... Por outro lado, tenho tido a oportunidade de ter momentos como esse de hoje: ir até a casa de uma amiga pra colher frutas e fazer geléia e marmelada. Tive direito até à colheita de champignons no jardim. Um luxo!

Por hoje é só. Estou bem cansada.

Até a próxima!

quarta-feira, julho 26, 2006

Viemos e já estamos indo!!!

O avião tá saindo!!!!! Notícias depois!!!!!!!!!!!!

FUI!!!!!!!!!!!!!!!!

sábado, junho 17, 2006

Esqueci de mostrar pra vocês!

Olhem só o meu Harry Potter particular!

Ele me pediu pra fazer essa fantasia depois de ter visto uma igual na casa do Aksel, amigo da escola. Eu estava cheia de coisas pra terminar antes de a gente ir pro Brasil, mas não podia deixar de atender um pedido do pimpolho, né? Fui comprar os tecidos e, como, apesar do calor que tem feito, não estejamos enchendo a banheira com moedas de euros pra podermos nadar um pouquinho, eu tentei achar aquele que tivesse o menor número gravado na etiqueta!

Foram dois dias inteirinhos pra fazer o chapéu mais a roupa. Domingo e segunda, meio sem parar. Na segunda-feira, fim de tarde, eu comecei a aplicar as estrelas e a lua, nesse tecido prateado que é chatíssimo pra trabalhar. Eu não desisti! Queria terminar logo pra que essa fantasia não virasse mais um UFO na minha vida. Vocês não sabem o que é um UFO? É uma expressão que a gente usa entre patchworkeiras. Foi inventado pelas americanas e quer dizer UnFinished Objects, em português, objetos inacabados, ou seja, todos aqueles trabalhos que a gente começou mas não terminou. Pelo jeito esse é um fenômeno mundial entre as malucas que fazem patchwork: mil coisas começadas e não terminadas. Eu não sou diferente! Tinha um monte de UFOs quando a gente estava aí no Brasil e trouxe tudo pra cá, pensando, "já que vou ficar lá 3 anos sem fazer nada, então vou terminar tudo o que eu tenho começado!". Não só não terminei, como comecei várias outras coisas, o que quer dizer que a Nasa está jogando dinheiro fora com essa busca de UFOs pelo espaço. É só abrir o armário aqui de casa! (E de todas as que fazem patchwork aí pelo mundo...)

A regra de ouro para não dar à luz mais um UFO na sua vida é: comece e termine imediatamente! Enrolou uns dias, encostou num cantinho, pronto! Lá está mais um ser desses pra te atormentar o sono! É por isso que eu não queria deixar passar muito tempo da fantasia. Eu tinha de começar e terminar logo!

E assim foi. Tanto que na segunda-feira, uma da manhã mais ou menos (o que quer dizer que já era terça, mas tudo bem), eu dei o último ponto que fez parar no lugar a última estrela! Eu estava acabada de cansaço, mas feliz!

Como eu tive de fazer as aplicações a mão por conta de detalhes técnicos que não têm muita importância, elas estavam meio "gordinhas". Eu achei que tinha de dar uma passada a ferro pra assentar bem. Só que, uma da manhã, depois de dois dias inteiros, mais o cansaço, mais todo o resto, e sem contar a minha mais absoluta falta de senso, atenção e sei-lá-mais-o-que, liguei o ferro no último e, infelizmente, só percebi isso quando encostei ele na roupa e vi abrir um buraco!

É, eu também fiquei com vontade de chorar! Falei uns 10 palavrões, bati o pé no chão igual criança, olhei o buraco de novo, falei mais uns 50 palavrões, solucei, fiz beicinho e nada adiantou! Comecei a pensar no que fazer, mas só me vinham à mente idéias nefastas, desde jogar o ferro pela sacada, até a picar a fantasia em mil pedacinhos. Achei que o melhor era ir dormir...

No dia seguinte, mostrei pro Vidal e ele disse: "Coloca uma cauda aí nessa estrela, transforma ela num cometa e pronto! Nem mostra pra ele!". Eu achei uma ótima idéia e foi o que eu fiz...

Só que demorei uns dias, e a fantasia só não virou um UFO de verdade porque o Felipe ficava perguntando "Já tá pronta?" a cada uma hora e meia mais ou menos.

Enfim, eu terminei e chamei ele pra experimentar. Só que o danado é super observador e a primeira coisa que ele disse foi: "Olha só, tem um buraquinho aqui..." mostrando uma aberturazinha mínima que o ferro tinha feito na estrela do lado do buraco. Eu fiz um "Ahn? O que?" e fui chamando atenção pra outra coisa e puxando ele pra sacada pra poder tirar fotos. Ele foi, tirou as fotos, depois deu uma esticada na roupa e ficou olhando pra baixo meio pensativo. Eu perguntei o que era e ele disse: "Na fantasia do Aksel tinha esse cometa?". Eu só não gelei porque estava um calor do caramba. Já pensei que a fantasia que eu passei horas fazendo ia ficar pra sempre dentro do armário pra ser, quem sabe, abduzida por algum UFO. Eu conheço a peça. Ele não fala nada, mas simplesmente não usa mais a roupa, ou o brinquedo se ele não estiver impecável. Daí eu disse: "Claro que não! Mas é que a sua é especial! Esse aí é o cometa do poder!"

Se ele engoliu, não sei... Ainda não vi ele usando a fantasia...

sexta-feira, junho 16, 2006

Primeira noite do Felipe fora de casa!

Hoje, pela primeira vez, o Felipe vai dormir fora de casa. Sozinho! Ele que decidiu, simplesmente pegou a chave da porta e disse "Fui! Não sei a que horas volto. Tchau."

CLARO QUE NÃO!

Ele foi convidado pra dormir na casa de um amiguinho da escola. Que sensação mais estranha essa... Eu quero mais é que ele se divirta muito, não tem coisa mais gostosa do que ir pra casa dos amigos...

Mas se ele me ligasse lá pela meia-noite dizendo "Mamãe, quero voltar pra casa!" acho que uma vozinha lá no fundo, mas bem no fundinho mesmo, toda escondida e fraca, quase afônica ia dizer: "Ai que alívio! Ele ainda precisa da gente..."

Eu preparei a mochila de manhã com pijama, roupa pra trocar, toalha de banho, escova de dente, um homem aranha fofinho e um tubarão de pelúcia que ele chama de Oscar e que dorme com ele todas as noites para "protegê-lo e evitar que ele tenha um pesadelo e acabe terminando a noite na nossa cama!".

Ele está crescendo! Ai! Que coisa... Não foi no mês passado que eu segurei aquele bebê todo molinho na maternidade que me olhava com aquela carinha de duende e disse "Bem vindo!"

Já sei que toda hora vou dar uma olhadinha no messenger pra ver se não tem chamado da Kim (a mãe do Louis, o amigo dele) e se o telefone está no gancho mesmo.

Como o tempo passa...