sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Notícias geladinhas de Nantes! Está nevando na terra de Júlio Verne (eu já tinha contado que ele nasceu aqui?)!


Na verdade, foi só uma nevezinha muito xexelenta. Mas já deu pra tirar uma foto e guardar de recordação!

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

"Parabéns pra você!
Nesta data querida..."

Dia de edição especial Ana Luíza em comemoração aos seus dois meses!

Antes, só pra vocês acompanharem minha pequerrucha, uma foto. Vocês lembram do cabelo do personagem do Agildo Ribeiro, que falava "Coisa horrorosa"? Olha o cabelo dele aí:


Ela está super bem. Adora tomar banho! Às vezes, faz um barulhinho pra chupar a chupeta que me lembra a Mary Simpson (quem conhece o desenho vai entender...). Dá muita risada, já começou a balbuciar sons e, a cada quinze dias, tem um acesso de choro de uns vinte minutos seguidos pra mostrar que, afinal de contas, ela não é um bebê de plástico (como diria minha tia Zica)!

Hoje de manhã, tivemos mais um "momento ternura". Olha só que legal:


Também quero contar pra vocês os eventos que envolveram o nascimento dela. Algumas coisas legais, outras nem tanto...

Sabe o quê? Não quero ficar falando de coisas tristes aqui! Escrevi um texto sobre os dias que antecederam o nascimento dela e vou disponibilizar pra quem quiser saber sobre o que aconteceu comigo, sobre o hospital, sobre o sistema de saúde e essas coisas. Clique aqui para ler essa parte da história. Vou contar nesse blog coisas mais divertidas... Como o registro, por exemplo...

O registro de nascimento dela devia ser feito no próprio hospital e o Vidal tinha quatro dias corridos para fazer isso. Se ela tivesse nascido numa segunda ou terça-feira, tudo bem. Mas ela nasceu na sexta. Portanto, o último dia para registrá-la era na segunda. Como vocês podem imaginar, o "balcão de registros" não funcionava nem sábado, nem domingo. Ela nasceu no início da tarde de sexta e, até chegarmos ao quarto, nos instalarmos e o Vidal poder sair pra ver o que precisava, já tinha fechado o guichê. Já comentei que aqui eles não ficam nem trinta segundos a mais do que o tempo regulamentar, né? Se possível, eles fecham antes até!

Mas, o Vidal já é "macaco velho" nessa história de registrar crianças e, depois de tantos meses em contato com a burocracia francesa, já estava escolado o suficiente para saber que devia chegar bem cedo e com todos os documentos necessários (até certidão de nascimento e passaporte do Felipe!). Não ia ter problema nenhum...

Na segunda-feira ele chegou ao hospital por volta das 11h30. Não era tão cedo quanto ele gostaria, mas, como o guichê fechava às 17h00 ele estava tranqüilo. Quer dizer, mais ou menos tranqüilo... "Deixa eu ir de uma vez lá! Esse pessoal deve fechar pro almoço e eu ainda quero fazer um monte de coisas de tarde. Ainda nem compramos o berço, a banheira! De hoje não passa!"

E ele foi. Fiquei no quarto esperando a chegada do registro francês da minha lindinha, quando vejo um Vidal, já meio vermelho, entrar no quarto e ir como uma flecha pro telefone. "Que foi?"

"Aqui na França as crianças não podem ter o sobrenome do pai e da mãe. Só pode um sobrenome!"

"Como assim? Mas a gente não viu que agora tem uma lei que muda isso?"

"Tem! Só que a lei entra em vigor dia primeiro de janeiro e hoje é dia 29 de dezembro!"

"E aí?"

"E aí que eu tenho de ter um documento dizendo que no Brasil é permitido ter dois sobrenomes!"

"Mas você não mostrou que o Felipe tem dois sobrenomes? Isso sem contar que eu mesma tenho dois sobrenomes! Isso não deixa claro que no Brasil é permitido?"

"Eu falei isso! Mas precisa de uma declaração do consulado brasileiro dizendo literalmente. Ela me deu o telefone de lá. Tô ligando. Péraí. Atendeu! Alô? Bonjour!"

E a ligação, estranhamente, continuou em francês. Consulado brasileiro? Ligação em francês? Devia ser alguma secretária.

O Vidal continuou falando. Em francês. "Comment? (Como é que é?) Pardon? (Como é que é?!) Et alors? (Como é que é?!!)". Desligou. Já era meio-dia.

"E aí?"

"Sei lá. Atendeu um homem. Parecia gago. Um francês horrível! Deve ser algum segurança... Disse que já está quase fechando mas que pode me esperar por mais meia hora. Quero ir de uma vez pra poder comprar pelo menos a banheira de tarde. E não dá pra esquecer que hoje é o último dia pro registro!"

Discutimos rapidamente a localização do consulado e o Vidal saiu. Fazia um tempo horrível. Frio até não poder mais. Vento. E a chuva. Não era torrencial, mas antes fosse! Pelo menos cairia de cima pra baixo somente. Nesses casos de chuva fraca e vento forte não tem como não se molhar. Olhei pela janela e vi que os pingos voavam em todas as direções, inclusive de baixo para cima! Fiquei meio com pena do Vidal, mas depois lembrei de todas as dores que eu estava sentindo e achei que uma chuvinha não era assim tão grave...

Depois de um tempo de espera, volta o Vidal. Não estava mais vermelho. Estava bordô! Da cor dos vinhos da cidade que queríamos ter ido visitar quando fui internada...

"Você não vai acreditar!"

O problema começou para achar o consulado. O endereço era Praça Graslin, número 3. Ele sabia qual era a praça. Beleza. Só que, chegou lá, procurou e viu que não existia o número 3! Ele rodou, rodou (literalmente, porque a praça é redonda) e não encontrou! O que fazer? Entrou num banco e perguntou. E olhem que para um homem pedir informações é porque o caso é grave mesmo! Disseram que era na esquina. Ele chegou lá e realmente tinha um prédio. Só que não tinha porta. Será que ele teria de escalar? Pra piorar, ele procurava uma bandeira do Brasil, uma placa com o símbolo da República e não via nada... Consulado tem de ter bandeira, não tem? Começou a desanimar. E ainda por cima (pela frente, pelo lado, por baixo...) a chuva!

Aí ele teve a idéia de procurar na rua lateral. Tinha uma porta! Etiquetas coladas ao lado dos botões do interfone se sucediam: Advogado, Médico, Dentista, Consulado Brasileiro, Detetive particular... Aha! Pelo menos existia. Era lá mesmo. Tocou o interfone (de novo a voz daquele homem estranho), subiu e entrou no consulado. (Ah! O detetive foi uma "licença poética", tá? Mas só o detetive...)

Pausa para uma descrição física do ambiente. Um prédio velhíssimo. (até aí tudo bem. O centro de Nantes só tem prédios velhos mesmo!). Uma única sala (também tudo bem, na Europa os espaços costumam ser bem otimizados...). Meio escura. Móveis velhos ("Não são antiguidades, pois isso custa caro e faz bem aos olhos, é velharia mesmo!"). Sem sofá (só duas cadeiras). Desorganização total. Papéis por todos os lados. Numa parede, uma foto do Fernando Henrique Cardoso colada com durex (eles estão meio desatualizados aqui). Na outra parede, uma grande bandeira do Brasil que não tinha a parte verde! Pelo menos, tinha outras três bandeirinhas brasileiras inteiras no aparador da lareira (pelo menos ele achou que aquele buraco negro fosse uma lareira) e... o que é isso? Uma bandeirinha dos Estados Unidos!!! Será que o Brasil foi invadido e não ficamos sabendo?! Avaliando o estado geral da sala, o Vidal chegou à conclusão de que tinha sido só a intenção de invasão ali pela década de 60, e que esqueceram de avisar o Cônsul que não tinha dado certo...

Outra pausa. O Cônsul. Era aquele que tinha falado com o Vidal no telefone. O gago. Uns 90 anos mais ou menos e... pasmem: espanhol! O Vidal ficou tão chocado que não conseguiu perguntar porque no consulado brasileiro tinha uma bandeira dos Estados Unidos no aparador da lareira e um Cônsul espanhol!!! E que não falava um francês muito fluente. Tudo bem. O Vidal estava com pressa. Sem tempo para amenidades.

Mas o Cônsul queria amenidades. Acho que fazia tempo que não aparecia ninguém pra conversar com ele. Alguém pra contar que o presidente era o Lula o que deixava evidente que os Estados Unidos não tinham conseguido invadir o país!

Agora me ocorreu uma coisa. Quase todo francês acha que no Brasil se fala espanhol. E o governo nomeia um Cônsul espanhol pra confirmar a crença deles!!! Como diria o pessoal do Casseta & Planeta imitando o FHC: "Assim não pode, assim não dá!"

O homem foi super atencioso. Simpático mesmo. Disse que o Vidal era muito jovem (avaliação relativa, né?) e que parecia ter, no máximo, uns 26 anos. O Vidal até já não estava achando tão ruim assim a conversa... Mas logo lembrou do prazo se esgotando e explicou a situação.

O Cônsul disse que havia um acordo entre Brasil e França explicitando que não seria necessário nenhum tipo de documento para provar que no Brasil são aceitos dois sobrenomes e que, portanto, ele poderia fazer o registro sem problemas. Qualquer coisa a mocinha podia ligar e ele confirmaria a história. Por isso o Vidal chegou tão rubro no hospital. Tinha tomado toda aquela chuva sem necessidade!!! E o guichê tinha fechado pro almoço. Ele estava começando a achar que ia ser difícil fazer tudo o que tinha previsto para a tarde...

Corta pro hospital. Eu, completamente chocada com o que o Vidal tinha contado, nem sabia o que dizer. Ele deu um tempo e foi pro guichê.

Esperei de novo a chegada do documento que provava que minha princesa já tinha feito sua estréia em terras francesas. Quando entra o Vidal. Dessa vez, púrpura!

"E aí?"

"Não deu! Eles EXIGEM um documento escrito!"

"O Cônsul não confirmou a história por telefone?"

"CONFIRMOU!!! Mas mesmo assim ela QUER um documento!!! Pediu pra ele mandar um FAX, mas ele disse que era melhor que EU fosse lá buscar o MALDITO DOCUMENTO às três horas da tarde!!!!!"

Vai ver que a moça não entendeu o francês do cônsul brasileiro que, afinal de contas, era espanhol e gago. Vamos dar um desconto pra ela, né?

Toca o Vidal pro consulado de novo. Na chuva. Pelo menos ele já sabia onde era.

Chegou lá. Novos salamaleques do Cônsul. Ele não deve ter enxergado o tom arroxeado com bolinhas brancas no rosto do Vidal...

E aí o Cônsul começou a fazer a declaração. Perguntou para o Vidal o que é que ele, Cônsul, deveria escrever no documento. A MÃO! Sim, porque, nosso consulado não tem nem máquina de escrever, quem dirá uma coisa assim tão avançada como um computador! Não! Não ia combinar com a decoração anos 80 do ambiente. 1880! Pelo menos a caneta era esferográfica. Nem era nem caneta tinteiro, vejam que moderno... Por isso o Vidal tinha de ir lá. É óbvio! No consulado não tem fax!!!

Depois ele carimbou o documento (era oficial, não era? Ainda bem que em 1880 já existia carimbo). Duas vezes. "Pra ficar mais autêntico, sabe?" E então, a apoteose: ficou alguns minutos segurando o papel próximo à luz do abajur para secar a tinta mais rápido! Mencionou isso!! E, a cada vez que o silêncio ficava insuportável, ele dizia: "Dois carimbos! Para dar mais credibilidade!" E segurava o papel sob o abajur. Repetiu isso não uma, mas quatro vezes!!! O Vidal só juntou o queixo que estava no umbigo na hora de pensar em protestar pelos 20 Euros que ele cobrou pelo serviço. "O consulado não recebe verba nenhuma do governo, sabe?". "Dá pra acreditar pelo estado geral do lugar..." Isso ele só pensou. Não falou. Não tinha voz para tanto.

Voltou voando pro hospital. Eu, no quarto. Não conseguia andar direito, portanto, só sabia do que estava acontecendo por meio das notícias que recebia pelo meu pai que, de vez em quando, ia perto do lugar onde o Vidal estava esperando para ser atendido.

Uma hora e meia de espera. "Vai fechar. Vai fechar. Essa p...rra vai fechar!". Palavras do Vidal. Vocês conhecem. Uma única vez meu pai chegou perto do meu tranqüilo marido e perguntou se daria tempo. Ele disse que aqueles laz...ntos não seriam loucos de fechar aquela b...sta sem atendê-lo e que ele quebraria toda aquela m...rda se eles OUSASSEM fazer essa c...ada (ele só é assim tão gentil em momentos extremos). Só fiquei sabendo desse desabafo depois. Meu pai não quis me preocupar mas, por via das dúvidas, resolveu manter uma distância segura de uns três metros quando ia fazer suas inspeções. Mesmo assim dava pra enxergar as manchas verde-azuladas que se espalhavam por todo rosto e corpo dele. Pelo menos já tinha secado toda a água da chuva que ele tinha tomado. O aquecimento aqui é uma beleza!

O guichê não fechou e o Vidal conseguiu ser atendido. Já eram quase cinco horas. Tudo o que ele pensava em fazer tinha dançado. A moça pegou o documento. Leu. Olhou pro Vidal. Olhou pro documento. Olhou de novo para o Vidal.

"Veja bem senhor, eu não entendi nada do que ele escreveu aqui. Pra mim esse documento não tem valor nenhum".

Nem os carimbos tão cuidadosamente secos no calor do abajur deram qualquer credibilidade... Talvez fosse algum problema na caligrafia oitocentista do Cônsul... Ou ele esqueceu que devia escrever em francês e, como bom Cônsul brasileiro, escreveu em espanhol, não sei. Só sei que, naquele momento deve ter nascido um anjo no céu e, como ainda estava sem designação, resolveu dar uma força pro Vidal.

"Mas eu vou aceitar."

Pode ser que ela tenha ficado com pena do Vidal e visto que ele era um cara legal. Também é possível que ela tenha ficado assustada com aquelas nódoas negras que começavam a aparecer e com a expressão de fúria no rosto dele... Não sei se vocês já tiveram a oportunidade de ver essa expressão. Não recomendo.

Enfim, o registro foi feito. O Vidal ainda teve de corrigir a profusão de hífens que ela tinha distribuído pelo nome da Ana Luíza (todas as palavras compostas em francês têm hífen) e inverter os sobrenomes. Voilá! Ana Luíza Vermelho Martins agora existe pra valer! Ela não é francesa (já que os pais são brasileiros) nem brasileira (já que ainda não tem registro no Brasil). Na verdade, a gente não sabe o que ela é! Vamos deixar pra descobrir isso um outro dia. Vai que eles pedem pra gente fazer algum documento no consulado...

terça-feira, fevereiro 24, 2004

"Alá la ô ô ô ô ô ô ô
Mas que friô ô ô ô ô ô ô..."

É, porque, calor mesmo, só pra vocês aí. A gente aqui continua congelando a pontinha do nariz quando sai de casa (é a única coisa que fica de fora)! Hoje de manhã tínhamos a agradável temperatura de zero grau. Pelo menos comecei a observar algumas florezinhas mais animadas que, apesar do frio, já estão mandando sinais de que a primavera está a caminho!!!

Ontem foi domingo de carnaval e é a primeira vez desde que eu me entendo por gente que não vou ver o desfile das escolas de samba pela televisão!!! Me deu um vazio... Isso fazia parte da minha vida!

Estou pensando em organizar um carnaval particular aqui mesmo pra não passar em branco, que tal? Quer dizer, acho melhor não... Sei lá, os vizinhos podem achar esquisito ver o Vidal vestido de baiana e eu de fio dental cantando "Mamãe eu quero" na sacada. Pode não pegar bem, né? Deixa pra lá.

Hoje vou contar uma história jóia apesar de saber que está todo mundo despencado na folia e que ninguém está nem aí pra computadores...

No início do mês aconteceu um negócio bem legal: o Vidal foi paraninfo de uma turma do curso de Ciência da Computação da PUC. E fez o discurso ele mesmo! Calma! Ele não fez a sacanagem de ir até o Brasil e não dar a chance de vocês fazerem um churrasquinho pra ele (ai que saudade...). Foi um discurso virtual!

Ser homenageado por uma turma é uma coisa muito importante para a gente que é professor. Ainda mais quando a homenagem é a de paraninfo. Significa o reconhecimento máximo do trabalho. Para o Vidal, era super importante poder fazer o discurso na formatura dessa turma, com quem ele se identificou bastante. Mas, como não está dando pra dar uma chegadinha no Brasil, então o jeito foi apelar pra maravilhosa Internet.

Era para ter sido ainda mais legal. A idéia original era ele ter feito o discurso ao vivo mesmo, pelo Messenger. Mas dificuldades técnicas lá na PUC fizeram com que essa idéia não desse certo. O que ele fez foi o seguinte: gravou o discurso com sua própria voz e mandou o arquivo com essa gravação para um dos formandos. A gravação foi, então, executada na hora da formatura. Para que os convidados pudessem ter um lugar para olhar enquanto ouviam aquela voz descarnada, ele mandou também uma foto que foi projetada no telão com os seguintes dizeres: "Professor Vidal Martins. Direto de Nantes, França, via Internet". Ai que chique! Fiquei super orgulhosa, vocês não?

Para fazer o discurso foi fácil. Ele escreveu, eu achei um programinha na Internet pra fazer a gravação, fizemos alguns testes, ele gravou e tudo correu bem.

Depois do discurso gravado, nos preparamos para a imagem. E foi aí, de máquina em punho, que surgiu a dúvida: "onde vamos fazer essa foto?" Só pra lembrar, já contei que nosso apartamento não sofre do mal de tédio visual nas paredes, né? Cada cômodo, um papel de parede diferente. Um bom gosto digno de um Falcão. O cantor, não o ex-jogador de futebol. Pois bem, paramos para analisar a situação e vimos que nossas opções de fundo para a foto eram:

- ramo de flores marrons, com toques de prateado, na sala;
- ramos de palmeira verdes em fundo rosa (olha a Mangueira aí gente!) na entrada;
- singelos ramos de flores azuis turquesa no quarto;
- uma composição de maçãs, bules, pratinhos e folhinhas multicores na cozinha.

Não dava pra encarar nenhum desses. Para cada lado que a gente apontava a máquina parecia que a situação era pior. Aí eu lembrei: "No banheiro o fundo é liso". Na verdade, é salmão. Quase laranjado. Mas é liso! Descartamos a idéia. Foto no banheiro não dá, né? Os alunos não mereciam isso.

Cheguei até a pensar em falar pro Vidal deitar no chão pra eu tirar a foto de cima pra baixo. Mas o piso está todo manchado... Não ia ficar bom. Nem mencionei a hipótese.

Foi aí que eu tive a idéia: "Já sei! Vamos tirar a foto na frente da estante de livros". Claro, era perfeito. Professor, paraninfo, fazendo doutorado na França. Nada mais apropriado do que isso.

O Vidal parou na frente da estante. Eu cheguei o mais perto possível pra escapar da mesa de passar roupa que está encostada nela e fiz a foto. Baixamos a dita cuja no micro pra ver o resultado. Aí o Vidal falou: "Puxa! Como eu engordei. Olha só esse papo!" Eu, como sei bem o que é isso, já emendei em seguida: "Nada disso! Isso é a posição que você ficou. Comigo acontece sempre. Tanto que eu já até desenvolvi uma técnica pra evitar a papada nas fotos. Você faz assim, ó: estica bem o pescoço pra frente, como se fosse uma tartaruga. Aí fica perfeito!". Ele olhou pra mim meio desconfiado e não disse nada. Enquanto eu desconectava a máquina do micro pra fazer outra foto ele foi até o banheiro pentear o cabelo (que tinha sido recém-cortado por aquele sujeito...).

Quando ele voltou eu disse: "Você demorou!", e ele "Estava na frente do espelho treinando a posição...".

Foram umas duas tentativas até a gente conseguir uma foto em que ele não estivesse realmente parecendo uma tartaruga. Mas, deu certo! Olha o resultado aí:


Super respeitável. Todo o jeitão de "professor-estudando-na-França".

Só que, quando eu baixei a foto no micro, me toquei: "Ih, Vidal! Os livros que aparecem bem atrás de você são quase todos de patchwork! Mas não se preocupe. Só dá pra ver se a imagem for bem grande. Assim pequenininha nem dá pra notar". Nem bem eu tinha acabado de pronunciar essa bobagem nós dois nos olhamos e falamos quase juntos: "Mas a foto vai ser projetada num telão!!!"

Àquela hora já não dava pra fazer muita coisa. Torcemos pra que a resolução do telão na PUC fosse péssima e que não desse pra ler os títulos dos livros ("501 Quilt Blocks", "The Quilters Ultimate Visual Guide", etc.). Eu tentei animar: "Pelo menos os títulos são em inglês, passa um certo ar de respeito... E, olha lá, tem um livro de Java bem grandão embaixo. Ninguém vai nem notar os outros". Mandamos assim mesmo.

Pena que, como vocês podem ver, não deu pra escapar de mostrar um pedacinho do nosso belíssimo papel de parede da sala...

Quem quiser ler o discurso, pode clicar aqui. Também temos disponível o arquivo de som pra quem quiser matar a saudade da voz do Vidal. Basta clicar aqui. Problemas técnicos podem ser resolvidos comigo mesmo. É só me mandar um e-mail.

Pelo que soubemos, correu tudo bem na formatura, os alunos gostaram do discurso. Ah! E ninguém comentou o fundo da foto... Acho que passou despercebido!

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Encontrei uma Dalila pela frente!

Esses dias parei pra fazer uma análise crítica e realista a respeito do meu estado físico geral. Vamos aos resultados obtidos:

- quem inventou o velcro também teve de passar um tempo lavando as mãos constantemente. A pele estava tão ressecada que eu já nem precisava mais pegar coisas de tecido, elas simplesmente "colavam" na minha mão e vinham junto comigo pela casa. Muito útil na hora de fazer uma organização geral, mas um tormento em outros momentos. Durante a noite, por exemplo. Cada vez que eu ia dar a chupeta pra Ana Luíza acabava trazendo junto o cobertor dela...

- lembram que eu disse que fazia tempo que eu não via minhas sobrancelhas? Pois bem, era melhor continuar sem ver: elas estavam parecendo duas taturanas. Naquele dia em que fiz o rabo-de-cavalo meu primeiro ímpeto foi de afugentar os bichos que estavam na minha cara. Foi só depois que eu percebi que eram as sobrancelhas.

- meu cabelo? Sem comentários. A última vez que ele passou por um salão foi ainda no Brasil. Minhas luzes não passavam de, no máximo, um abajurzinho. A franja estava um verdadeiro caminho de rato, já que eu tinha feito a besteira de tentar fazer justiça com as próprias mãos: cortar eu mesma.

- ainda tem esses quilinhos (dezenas deles) que se apaixonaram por mim e relutam em ir embora.

Apesar de tudo isso, estranhei quando me olhei no espelho e percebi um leve sorriso no meu rosto. Será que eu estava aprendendo a ser feliz mesmo na adversidade? Foi aí que eu olhei mais de perto e vi que o sorriso na verdade era a pele do rosto repuxada. Tinha acabado meu creme hidratante!

Decidi dar um basta na situação!

Com as mãos decidi ser radical: uso luvas para tudo (até pra fazer xixi...). As sobrancelhas eu mesma dei uma ajeitadinha. Coisa pouca. Só tirei os fios que estavam caindo dentro dos olhos e emendando as sobrancelhas sobre o nariz. Com o rosto foi fácil! Fui ao supermercado comprar um creme hidratante. Só que aqui eu tenho um problema realmente grave. Gravíssimo, eu diria... Sou obrigada a usar cosméticos nacionais!!! Ha ha ha! Essa é a parte boa de estar morando na França: cosméticos, queijos e vinhos, só os nacionais... Que chato! Pois bem, fui lá e escolhi um anti-rugas leve. Primeiras rugas. Coisa pra quem acabou de passar dos trinta... Nisso eles são incríveis! É uma prateleira imensa em qualquer mercadinho de esquina com todos os tipos de creme que se pode imaginar! Até um pra afinar o rosto. Estou pensando em experimentar. Quem sabe eu não consigo acabar com essa cara de lua cheia e não fico igual à Mortícia Adams?

Com o cabelo a coisa era mais complicada. Eu precisava de uma solução profissional!

Eu já tinha contado sobre o corte de cabelo do Vidal e do Felipe, né? Pois é, aqui temos o médico da família (atende a todos nós, até à Ana Luíza). Achei que devíamos ter também o cabeleireiro da família. O Vidal não estava gostando muito dos cortes. Então decidi eu mesma testar pra ver se ficamos com ele de vez ou procuramos outra opção.

Foi anteontem. Marquei horário. Terça-feira. Dezoito horas. Era o grande dia!

Cheguei e o assistente foi lavar meu cabelo. Me fez uma pergunta que eu achei estranha: "Quando foi a última vez que você lavou o cabelo com xampu?" Será que aqui eles lavam o cabelo sem xampu? Fiquei cabreira.

Sentei na cadeira e fiquei esperando pelo "chefe". O dono do salão. O mesmo que cortou o cabelo do Vidal e do Felipe.

Ele chegou e me perguntou o que eu queria. Aí eu disse: "Não sei!" E era verdade. Fiquei dias pensando como eu ia querer cortar o cabelo e não sabia o que fazer. Disse que ele podia fazer o que quisesse. Eu só queria manter a franja (bem cortada, é claro). E não deixar o cabelo muito curto. E também que ele ficasse com volume. E que fosse prático pra arrumar (com duas crianças não dá pra ficar horas na frente do espelho). Ah! E que, se possível fosse igual ao daquela foto ali na revista... ou seja, ele era totalmente livre pra fazer o que quisesse...

Ele se armou de tesoura e pente, pegou uma mecha do alto da cabeça e... tac! Cortou pela metade! Gelei na cadeira. Será que quando eu disse "não muito curto" acabei esquecendo de falar a negação? Fiquei ainda mais cabreira.

Aí chegou o assistente e ficou (como todo bom assistente)... assistindo. Ele queria saber qual era a técnica de corte que estava sendo usada. O cabeleireiro explicou, o assistente disse "ahhhn" e continuou assistindo. Aí ele fez um comentário que iniciou o momento mais tenso do dia: "Uma vez eu vi uma técnica de cortar que era bem estranha. Eles juntavam o cabelo todo em cima e faziam um único corte".

Pra não ficar repetindo ele, ele, ele, vamos dar nomes aos bois, quer dizer, aos dois. Algo bem didático, por exemplo, X para o assistente e Y para o cabeleireiro, certo? Não, não ficou legal. Deixe ver... A para o assistente e C para o cabeleireiro, tá? Ai, estou sem inspiração hoje... Vamos continuar como estava...

Nesse momento,o cabeleireiro disse: "É verdade! Você faz assim, ó..." Juntou todo meu cabelo no alto da cabeça, chegou a tesoura perto e... "tac"! Ele só falou o tac, não fez o tac (ainda bem). Eu me encolhi alguns centímetros. Aí ele se empolgou. Começou a descrever todas as técnicas de juntar o cabelo numa parte da cabeça e "tac". Só que ele falava e fazia. Junta tudo na esquerda e tac. Junta tudo na direita e tac. Junta em cima, no meio, atrás e tac, tac, tac. Claro que ele não cortava, mas repuxava todo meu cabelo, chegava com a tesoura perto e falava: "tac". Além de estar ficando com dor de cabeça, a cada tac daqueles eu apertava os olhos e encolhia mais um pouquinho. O meu medo era que ele esquecesse o que pretendia fazer no meu cabelo quando começou...

Teve uma hora que ele descreveu uma técnica em que o cabeleireiro coloca a cliente de quatro sobre a cadeira do salão, joga o cabelo todo pra baixo e... tac! Essa técnica foi ele mesmo que demonstrou. Ele não me pediu pra fazer isso, mesmo porque eu me recusaria. Mas fiquei pensando... Isso tudo foi um curso "ma-ra-vi-lho-so" que ele fez em Barcelona onde ele aprendeu "tu-do" o que ele sabe! O que acontece é que quando eu tinha 18, 19 anos eu fazia exatamente isso: juntava todo o cabelo no alto da cabeça e... tac! Eu mesma cortava meu cabelo. Se eu soubesse que essa era uma técnica refinadíssima tinha aberto um salão e hoje estaria rica... Fiquei, se é que isso é possível, ainda mais cabreira.

Na verdade, eu até nem me importaria de ser cobaia, desde que ele não estivesse cobrando (bastante) por isso.

Felizmente acabou a "aula". Eu já nem me via mais no espelho, de tão encolhida que estava. Sentei normalmente de novo. Ele voltou a cortar. Foi cortando, cortando. Cheguei a achar que ele ia cortar tudo. "Não faz isso, não! É pouquinho, é fininho, mas é tudo o que eu tenho..."

Durante esse tempo eu ia pensando: "Gostei. Não gostei. Detestei!!! Aí, aí, tá bom. Adorei! Não, do outro jeito. Não dá pra colar de novo esse pedacinho?". Ele terminou o corte. Eu estava parecendo um fósforo: uma bolinha no alto da cabeça e o resto espremido nos lados do rosto.

Já não tinha como ficar mais cabreira. Desisti de me preocupar. Cabelo cresce, né?

Ele começou a secar. As mulheres vão me entender, ele girava o secador e amassava o cabelo. Eu tinha pedido volume, não tinha? Desligou o secador e pegou a lata de spray. (Eu detesto spray!). Fiquei sufocada de tanto que ele apertou o dedo naquela latinha. E ele puxou, puxou pros lados, pra cima...

Acabou! Ele pegou o espelho pra me mostrar atrás. Não vou dizer que eu parecia uma leoa porque as leoas não têm juba (vi isso num filminho do Futuroscope sobre a África no final de semana). Mas eu estava parecendo... quem?... Já sei! Toni Tornado quando cantava "... na BR3...".

Murmurei um "très bien" meio engasgado, levantei, paguei e saí.

Ainda bem que o salão é na frente de casa. Felizmente não encontrei ninguém pela rua. Cheguei em casa, abri a porta e voei como um raio para o banheiro. O Vidal na sala com as crianças... "E aí?" Fiquei no banheiro um tempo observando. Passei um lápis nos olhos. Um batom. Talvez estivesse estranhando minha cara sem maquiagem. Não adiantou. Peguei uma escova e comecei a tentar tirar aquele spray todo. Foi difícil. Lágrimas escorriam dos meus olhos de tanto puxar o cabelo. Pensei em entrar embaixo do chuveiro e arrumar do meu jeito. Mas aí achei que seria um desaforo! Pagar caro no salão pra chegar em casa e desmanchar tudo? Isso eu fazia no Brasil quando era poderosa. Agora não estou com essa bola toda, não.

Fui na sala para o Vidal ver o resultado. Ele disse que com aquela toalha na cabeça não dava pra ver nada. Brincadeirinha! Só lembrei da Renata que, aos oito anos, amarrou uma toalha na cabeça quando minha mãe mandou cortar o cabelo dela curtinho. Ela disse que só ia tirar a toalha quando o cabelo crescesse. Só hoje, quase 20 anos depois, consegui compreender a atitude da minha irmã... Tive vontade de fazer o mesmo.

O Vidal olhou. Ficou quieto por alguns (torturantes) segundos e, para meu horror, disse: "O que foi que ele fez aí atrás?". Quase surtei! Balbuciei algumas explicações para o que não tinha explicação e ele tentou consertar: "Nem fez diferença!" Foi pior! Como não fez diferença? Quando eu saí tinha todos os fios quase do mesmo tamanho com as pontinhas viradas para baixo. Agora cada um tem um comprimento diferente com as pontinhas viradas para todos os lados!!!

O Vidal decidiu ser solidário. "Eu também não gostei do trabalho dele. É um cara legal, mas não dá. Vamos procurar outra pessoa...". Me senti mais reconfortada, mas, por via das dúvidas, decidi cobrir todos os espelhos da casa, afinal, "o que os olhos não vêem o coração não sente, né?".

O travesseiro acabou fazendo um bom trabalho. No dia seguinte o cabelo já tinha baixado bem. Agora ele está praticamente normal. Já sei, já sei, vou ter de colocar uma foto aqui. Senão terei minha caixa postal abarrotada por milhares de mensagens de protesto (vocês sabem, esse blog é super popular...) Aí vai a foto (sem comentários, por favor!). Ela é recente. Foi tirada hoje, dois dias depois do ocorrido. Vocês acham que eu ia documentar a catástrofe? De jeito nenhum. Isso ia acabar aparecendo depois em algum site sacana da Internet. Nem pensar! Não quero recordações materiais desse dia.


Bem, acho que resolvi todos os problemas que tinha detectado em mim mesma... Quer dizer, faltaram os quilinhos... Mas até 2006 eu tenho tempo de tentar dar um jeito neles...
Gente!!! Agora que eu vi que o texto do trem ficou cortado pela metade!!! Por isso é que eu não tinha entendido as mensagens que diziam que faltava o final...

Bem, vou resolver o problema. Ainda bem que eu tinha escrito no Word antes de colocar aqui. Tenho o arquivo ainda. Clique aqui para ler o texto integral. Será que tem limite de espaço para os posts?

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Que legal!!! Tem gente lendo isso aqui!

Recebi duas mensagens pedindo pra terminar a história do trem. Na verdade, ela acabou (não deu pra notar? Credo! Estou mal em redação...).

Mas, a pedidos, aí vai o final da história (que não tem nada de emocionante). Como eu disse, não podíamos ir até nenhum dos vagões-restaurante porque:

- primeiro, o trem era dividido em duas partes que não se comunicavam. Podíamos passar de um vagão ao outro somente na parte em que estávamos.

- segundo, para chegarmos no vagão-restaurante da nossa parte tínhamos de passar por outro vagão que estava interditado porque o vidro da janela tinha partido e podia estourar a qualquer momento. Caquinhos voariam em todas as direções e machucariam de verdade quem estivesse por lá nessa hora (por causa da velocidade as janelas são totalmente fechadas, como num avião). Tinha dois guardinhas dentro do vagão que não deixavam ninguém passar. Pensando bem, coitados. Devem ter ficado a viagem inteira olhando para aquele vidro e pensando: "Vai estourar! Vai estourar! E aqui na França não tem um Pitanguy!!!" Agora, porque foi que deixaram os dois infelizes dentro do vagão e bem de frente para o vidro eu não sei...

Outra possibilidade era tentar ir por fora, mas eu estava de nove meses, lembra? E, com o trem em movimento, só o Tom Cruise em Missão Impossível. Achei que seria meio arriscado. Era melhor morrer de fome...

Então, o que fizemos? Voltamos para os nossos lugares e esperamos chegar em Nantes. Eu tentei dormir pra esquecer a fome, mas não deu. Ficava só pensando naquele Capuccino horroroso da máquina do hotel. Pelo menos era alguma coisa...

Viemos tomar café da manhã em casa mesmo, lá pelas 11h00. Foi uma decepção. Mas pelo menos pude ter mais uma história pra contar, não é verdade?

Agora acabou mesmo!

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Notícias do final de semana!

Sábado de sol. Dia dos Namorados. Temperatura amena (9oC ao meio dia). Nada de ficar entocados! Eu até ameacei pegar um resfriado na sexta-feira, mas tratei de ignorar totalmente o mal-estar. Que história é essa de ficar doente todo final de semana? Já chega o anterior!

Fomos a um parque que fica no centro de Nantes. Na verdade, fica numa ilha, a qual, por sua vez, fica no rio Erdre. Por Nantes passam dois rios: o Loire e o Erdre. É nesse segundo rio que existe essa ilhazinha, chamada Île de Versailles. O lugar é realmente muito bonito com jardins de estilo japonês. Tem uma casa para exposições, um restaurante e aluguel de barcos elétricos para passear no rio. É claro que agora está fechado, mas vai ser com certeza nosso destino assim que esquentar. O que mais me impressionou foram os troncos das árvores. Eles têm uma cor tão bonita... E a textura... Parece que eles são fofinhos:


Ficamos bastante tempo por lá. O Felipe brincou muito no escorregador e nas pedras que tinha ao redor. O mais complicado foi amamentar a Ana Luíza... Amamentar no seio, sob as árvores, ao ar livre pode parecer muito romântico. Mas não é nada confortável considerando o frio que fazia. Fiquei com os titis congelados. Fora isso, tudo ótimo.

Para o domingo tínhamos planejado um passeio mais distante. Fomos a um parque de diversões que fica a 180Km de Nantes, próximo a uma cidade chamada Poitiers. A previsão era de céu de brigadeiro, mas São Pedro nos pregou uma pecinha. Nada grave, mas não fez aquele dia que estávamos esperando. Tinha um solzinho muito anêmico que dava as caras de vez em quando e fazia muito frio. Mesmo assim, fomos. Saímos cedo. Antes de tudo, embrulhamos a Ana Luíza para viagem:


Vocês viram que chique? De jaqueta e chapéu de peles! Francesa até não poder mais! Na verdade a jaqueta é para um bebê de seis meses. Tive de dobrar as mangas e, às vezes, eu perdia a Ana Luíza dentro dela. O chapéu é para bebês de zero a três meses, mas eu tive de colocar uma fralda dentro porque ele ficava em cima dos olhos dela. O bom é que é bem quentinho. E ela ficou uma graça, não é verdade?

O parque é super legal. E bem diferente:


Ele não tem montanhas russas e coisas do gênero. São só filmes projetados em tela em três tamanhos: grandes, imensas e gigantes! A maior delas é hemisférica e tem 900m2! Essa infelizmente não deu tempo de a gente ver. Os pavilhões das atrações são uma atração à parte. As construções são totalmente diferentes como vocês podem ver na foto anterior. Cada uma mais louca que a outra! Além dos filmes tem simuladores e, o mais legal, filmes 3D (aqueles que a gente tem de pôr óculos pra poder ver). Olha a família devidamente paramentada pra assistir ao filme mais legal do parque:


Foi a primeira experiência do mundo 3D do Felipe e ele gostou bastante! Não deu pra saber a opinião da Ana Luíza. Ela é muito calada ainda! Mas ela assistiu ao filme todinho, e prestando atenção!

O parque tem um pavilhão do Brasil patrocinado pela Embratur. Não fomos. Nada contra, mas não estávamos a fim de assistir a um filme que mostrava o Carnaval do Rio de Janeiro e a floresta Amazônica... Já nem tivemos tempo de ver tudo o que tinha no parque, achamos que esse filme não ia ter muitas novidades para nós...

Tirando o frio (6oC na ida e 4oC na volta), o dia foi super agradável. No final, vimos o espetáculo de encerramento. Os efeitos foram super interessantes. Era um show de água misturado com luz, raio laser, jatos de fogo e fogos de artifício. As imagens eram projetadas nos jatos d'água. Legal mesmo!

Eu tentei tirar algumas fotos, mas, como vocês vão ver, elas ficaram tremidas. Na verdade isso acontece porque o flash noturno da máquina exigiria o uso de um tripé. Para conseguir capturar bem a imagem o tempo de exposição é maior e qualquer tremidinha já deixa a foto fora de foco. Eu deixei as fotos no álbum mesmo assim para que vocês possam ter uma idéia da iluminação noturna que é muito bonita. Mas a qualidade das fotos é um lixo!

Quem quiser mais informações do parque pode acessar www.futuroscope.com.

As fotos dos dois passeios já estão disponíveis no nosso álbum. É só clicar aqui.

Por hoje é só, pessoal!

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Eu estava relendo o texto sobre nosso passeio a Paris e lembrei de mais uma coisa. Mais um "micão" que meu subconsciente tinha escondido nas suas câmaras mais escuras. Mas, como estamos só entre amigos, isso aqui é, no fim das contas, a nossa memória, provavelmente não tem mais muita gente acompanhando mesmo... Vou compartilhar mais esse vexame... O texto é comprido, quem estiver com preguiça pode desistir agora mesmo!

Tudo aconteceu na hora de irmos embora. Não sei se vocês lembram, mas eu disse que saímos na segunda-feira, às 7h30 da manhã. Tínhamos aquela idéia de que íamos enfim ver o efeito do trem rápido, mas tínhamos esquecido do horário em que o sol nasce, etc., etc., etc.

Acordamos muito cedo. Íamos de metrô do hotel até a estação do trem (já tínhamos feito isso na ida e foi bem tranqüilo) e sabíamos que era pelo menos meia hora até chegar ao local. Depois, tinha o tempo de achar o lugar de embarque, encontrar o trem, o vagão, essas coisas. Portanto, acordamos, juntamos as coisas e saímos. O hotel em que estávamos tinha uma máquina de café na portaria, mas o Vidal não liga muito pra café da manhã, meu pai também passa bem sem ele, o Felipe toma mamadeira (ainda não tem máquina de mamadeira expressa) e eu e a minha mãe tínhamos um sonho de infância: fazer uma refeição em um trem. Deixamos o café pra lá e saímos. Apesar de termos acordado bem cedo, sempre tem um atrasozinho e estávamos com o tempo na estica.

Na verdade, estávamos muito em cima da hora. Nos desembestamos pela rua: o Vidal carregando o Felipe (que tinha dormido de novo), meu pai e minha mãe carregando as malas e eu carregando a Ana Luíza na barriga. Só pra lembrar, isso aconteceu no dia 15 de dezembro e ela nasceu no dia 26. O barrigão estava gigante!

Eu já tinha estudado o mapa do metrô e o caminho era fácil: pegar a linha cinco direção Place d'Italie. Descer na Gare de L'Est e pegar a linha quatro direção Porte d'Orléans até a Gare de Montparnasse. Tranqüilo. Nada mais simples. Moleza mesmo... Se não fosse o horário apertado e as "cargas" de cada um...

Parênteses. Acho que o metrô de Paris é um dos maiores do mundo. É uma cidade embaixo da cidade. Aliás, o que mais se conhece de Paris quando se vai pra lá é o metrô. A gente anda kilômetros (sem nenhum exagero nisso) embaixo da terra por corredores e mais corredores. Além deles, tem as escadas (nem sempre rolantes) e, pra completar, o cheiro! Dá pra entender porque os franceses se especializaram em perfumes. Os aromas vão variando: num corredor, xixi. No outro, cocô. Mais à frente, enxofre. O ar pesado. Quando entra algum ar, é um vento e é gelado! Quando você acha que não vai suportar e que vai acabar vomitando, chega num outro corredor e a coisa fica pior!

Descemos na primeira estação e procuramos a placa: linha 4 direção Porte d'Orléans. "Por ali!". Fomos. Andando meio rapidinho pra não correr riscos. Subimos uma escada (enorme). Um corredor (gigante). "Melhor apressar um pouco o passo". Mais uma escada (imensa), outro corredor (infinito). Escada de novo (agora pra baixo). Esteira! Outra escada. A nossa mala tinha rodinhas, mas o cabo é meio curto e a gente tem de andar curvado. Melhor carregar. Meu pai e minha mãe na frente. O Vidal com o Felipe no meio e eu, resfolegando, atrás. Bem atrás. MUITO atrás! "Tenho de alcançar, eu vou conseguir..." A esteira teria sido uma maravilha se a gente não estivesse correndo sobre ela pra ganhar tempo. "Puxa! No mapa parecia que a gente ia pegar outro metrô e não que ia ter de ir a pé!". Enfim, chegamos. Felizmente não estava entupido. Conseguimos sentar! Ufa!

Chegamos na estação. Mais uma caminhada, mais escadas, mais corredores. As malas, o Felipe dormindo... Ai, o peso da barriga... "Cadê o portão de embarque? Por ali! Péraí! Tem de carimbar os bilhetes. Aí, tudo bem. Vamos. Qual é o trem? É aquele!"

Outro parênteses. Os trens. São enormes! Vagões compridos, uns atrás dos outros. O nosso era o nove. Dentro, os bancos são metade de frente pra estrada, metade de costas. Exatamente no meio ficam quatro bancos de frente uns para os outros, dois a dois, com uma mesinha no meio. Na ida eu tinha visto que esses seriam os nossos. Pelo menos ficaríamos num lugar legal. Isso se a gente chegasse ao vagão!

"Nosso vagão é o nove. Que número de vagão está aí?". Quatro. Cinco. "Ai, não vai dar tempo." Seis. Sete. "Não agüento mais! Vou parar aqui, vocês vão sem mim." Oito. Nove! O Vidal pergunta: "É esse mesmo?". E eu "Você não viu o número na porta? Entra!" Tudo bem. Deu tempo. Todo mundo descabelado (menos o meu pai... a calvície tem suas vantagens...), ofegante e com uma expressão de cansaço no rosto. Eu e a minha mãe, não. Nós tínhamos também uma expressão de fome!

Quando chegamos aos nossos lugares, vimos uma mocinha sentada. Que abuso! Eu, cheia de cansaço, de fome e profundamente indignada, esbanjei todo o meu francês:

- Sinto muito, mas a senhorita está no lugar errado.

- O quê?

- Esses lugares. São nossos. Veja os bilhetes. E, superior, mostrei os números das poltronas nos bilhetes. Não queria nem dar tempo pra muita discussão. "Pode guardar as malas aí".

- Não é possível! Ela confere a própria passagem.

Eu olho e digo, triunfante:

- Veja, você se enganou de vagão. Seu lugar é no vagão dez. Este aqui é o nove.

Ela olha confusa para o colega que estava no banco de trás. Ele se aproxima.

- Qual é o problema?

- Ela disse que estamos no vagão errado. Que vagão é este?

Aí, para meu profundo desespero, ele responde:

- O dez.

Eu:

- O que? "Quem foi que fez sumir o chão do trem?" Como assim, o dez? "Alguém abriu a janela? Fiquei gelada de repente..."

Olhei para a porta de comunicação entre os vagões. Um enorme número dez faiscava como neon!

- Ahn... é... pois é... é o dez... que coisa, né?... excusez moi e etc. e tal. O Vidal me fuzilando com os olhos. "Bem, vamos pra lá, recolhe as malas, pega o Felipe. Eu estava correndo muito. Me enganei, e daí?"

Chegamos ao nove. Era um vagão menor. Não tinha os bancos de frente uns para os outros. Mais uma decepção. Tudo bem. Pelo menos ainda tinha o sonho a ser realizado: o café da manhã no trem. Começa a viagem. Pontualíssima.

"Senhores passageiros, bem vindos a bordo. Informamos que este trem tem dois vagões-restaurante: o 6 e o 12. Além deles há distribuidores de bebidas quentes e refrigerantes nos vagões 3 e 15". Viro para minha mãe e falo: "Vamos esperar o rapaz conferir as passagens e vamos, tá? Estou morrendo de fome!". Pegamos os espelhinhos na bolsa pra dar uma ajeitada no visual. Refeição no trem não dá pra ser de qualquer jeito. E depois, tinha as fotos!

O rapaz não chegava. Decidimos ir assim mesmo. Saímos do vagão 9 em direção ao 12. Tínhamos de passar pelo vagão 10, fazer o que... A mocinha estava lá. Respirei fundo, empinei o nariz, coloquei o máximo de dignidade possível no rosto e fui. Depois do vagão 10 vinha um meio-vagão e fim! O trem é dividido em duas partes que não se comunicam. Por isso dois vagões-restaurante. Um em cada metade. O jeito é voltar.

Passamos de novo pelo 10. A mocinha ainda estava lá. Acho que estava dormindo, não sei. Passei firme, o queixo lá em cima.

Atravessamos o vagão 8. No fim dele, um grupo de crianças amontoadas no compartimento de bagagem.

- A senhora não pode ir por aí.

"Como assim?". Abri a porta e um segurança veio correndo:

- O vidro do vagão acabou de trincar, Senhora. Ninguém pode passar por aqui!

Estávamos cansadas, com fome e, agora, ilhadas! Olhei pra minha mãe. Traduzi rapidamente o que ela já tinha percebido pela minha expressão desolada. Nada de foto-no-café-da-manhã-no-trem... Pensando bem, nada de café-da-manhã-no-trem... Aliás, nada de café da manhã!!! Fizemos meia-volta, os queixos no peito e os estômagos nas costas. Ainda bem que o barulho do trem disfarçava os roncos da barriga.

Voltamos para os nossos lugares, desconsoladas. Quem sabe na próxima?

O bom é que pudemos ver o nascer do sol com calma. Quando ele apareceu, o trem já andava devagar. Até deu pra tirar uma foto:


quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Olha só o momento que eu acabei de flagrar!


Que bom poder dividir isso com vocês...

Ah! Queria acrescentar ao último comentário que fiz da Ana Luíza que estou MUITO feliz em poder dizer que ela está gordinha, porque desde que nasceu tudo o que ela mama é SÓ o meu leite e nada mais! Estou super orgulhosa de mim mesma!!!
Hoje é dia de notícias da Ana Luíza!

Ontem fomos pesá-la. Recebeu um monte de elogios. E já está com 4,380 Kg! Olha só que graça minha gordinha:


Ela continua mantendo a média de 23 gramas por dia! Nesse ritmo, quando estiver com um ano vai estar pessando pouco mais de 7Kg. E, aos 15... Melhor não fazer essa conta! Ai, acho que não devo chamá-la de gordinha... Isso pode gerar traumas futuros. Vamos dizer "fofinha".

Tirei mais de seis fotos nesse dia pra conseguir uma em que ela não estivesse com os olhos arregalados e não consegui. Falei isso pro Vidal e ele disse que é porque ela tem os olhos arregalados mesmo! Pensando bem, vou falar pro Vidal não dizer mais isso... Na adolescência vai ser difícil tirar esse trauma da cabeça dela!

Sempre quis ter um bebê cabeludo e minhas preces foram ouvidas, vocês viram? Eu a chamdo de "Ana Luíza Potter"! Quem leu os livros vai entender! Vejam os cabelos arrepiadinhos no alto da cabeça. Não abaixa de jeito nenhum! Ih! Também é bom não ficar repetindo isso, né? Pode gerar traumas na adolescência...

Sabe de uma coisa? O melhor é começar já uma poupança pra pagar a terapia e falar o que a gente quiser! Gordinha, fofinha, lindinha e esperta, com esses olhões mais lindos que estão sempre investigando tudo e com um cabelão de dar inveja (isso vai resolver os meus traumas! Já é uma economia, né?).

terça-feira, fevereiro 10, 2004

Hoje faz cinco meses que chegamos aqui... Dia de fazer reflexões...

Como eu escrevi pra Denise, "não posso dizer que nossa vida deu um giro de 360o porque não sou a Adriane Galisteu e porque a vida de dona de casa (ainda) não me deixou burra". Mas não dá pra negar que as coisas mudaram MUITO pra nós. Tem aquelas mudanças óbvias: cultura, ritmo de vida, possibilidades, relacionamentos, orçamento... Mas tem as outras. As pequenininhas. Aquelas que nos surpreendem quando percebemos.

Se está valando a pena? Até o momento temos certeza que SIM. A gente torce um pouco o nariz para a sabedoria popular, para os lugares-comuns, mas esta é uma grande verdade: é no sofrimento, na dificuldade que a gente cresce. A considerar o que estamos passando por aqui, vamos voltar ao Brasil com mais de seis metros de altura!

Chega de reflexões! Já fiz muitas hoje... Aliás, hoje não estou num dia muito legal... O Felipe teve uma virose na semana passada (por isso a visita ao médico que mencionei) e eu também acabei pegando. Tive um sábado de "rainha": da cama para o trono e do trono para a cama! Pra compensar, um domingo de cinderela (antes do baile): o Vidal acabou ficando mal também e estava tudo uma zona... Sobrou pra mim :(

O que foi bom é que à noite fomos à casa de um casal de brasileiros que está aqui. Comemos pizza, jogamos baralho (um jogo francês, chamado Tarot, que vamos "contrabandear" para o Brasil quando formos embora... é bem legal) e nos divertimos muito. Só que voltamos tarde pra casa... Fomos dormir às três da manhã! Ontem também fomos deitar quase duas da madrugada. Resultado? Estou um verdadeiro caco!

Hoje, quando levantei estava com dores generalizadas pelo corpo. Fiquei imaginando que só algumas noites mal dormidas não podiam ter feito isso comigo, daí lembrei de uma coisa: ontem fui lá embaixo com os dois. A Ana Luíza dormiu (normal!), mas o Felipe não, é claro! Jogamos futebol, desenhamos na areia e pulamos amarelinha! Não estou podendo mais me dar ao luxo de fazer essas extravagâncias!

Ai, vou parar! O cansaço é grande mesmo... Não dá mais pra ficar nem sentada...

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Tô lascada!
Não sou uma bagunceira, mas também não sou neurótica por arrumação e limpeza (principalmente quando sou EU quem tem de arrumar e limpar tudo). O Vidal é geralmente super organizado, mas não fica pegando no meu pé pra deixar tudo impecável (porque na certa eu vou dizer então que ELE tem de ajudar!). Mas o Felipe...

Logo que nos mudamos para cá, tinha uma frase que não saía da minha cabeça: "No princípio era o caos..." Aqui, depois de uma semana ainda era o caos. Pois bem. Claro que tendo de tirar caixas do meio do caminho pra poder chegar até o banheiro, a última coisa em que eu pensava era em fazer limpeza. Por favor, antes de começarem as críticas, lembrem-se de que eu estava de sete meses e que o Vidal já estava trabalhando...

Um dia, o Felipe chegou no banheiro e disse: "Tá um cheiro ruim aqui, né?". Fiquei envergonhadíssima e em menos de 10 minutos já estava tudo limpinho...

Esta semana, na segunda-feira, tive uma série de coisas pra fazer e acabei não arrumando a cama. Cheguei em casa depois de pegar o Felipe na escola e fui trocar a Ana Luíza. O Felipe foi pro quarto e começou a pular em cima da cama (o colchão é de molas... ele adora). De repente, ele falou: "Mamãe, nesse dia (isso quer dizer hoje), eu fui pra escola e voltei da escola. E a casa não está bonita." Respirei fundo, dei uma risadinha sem graça, gaguejei um pouquinho e expliquei o motivo daquela falta tão grave.

Hoje. Levantei, a Ana Luíza mamou, acordei o Felipe, fiz mamadeira, troquei de roupa, saí com os dois, fui buscar uma amiga no ponto tram, fui levar o Felipe ao médico (uma bobeirinha que ele teve ontem... nada grave), voltei pra casa, a Ana Luíza mamou de novo, recolhi a roupa seca, lavei mais roupa (a pilha de roupa pra passar está chegando ao teto!), guardei as bagunças da sala, fiz almoço pro Felipe... Estava ajeitando as coisas na cozinha quando ele gritou da sala: "Mamãe! Você não varreu o chão"! Pode?!!! Ignorei!

O tempo está ficando nublado... Tudo bem, tivemos mais de 10 dias seguidos em que o sol apareceu. Pelas notícias que ando recebendo do Brasil, acho que o sol ficou penalizado com nossa situação e resolveu nos fazer uma visitinha. A cada dia dessa semana foram batidos recordes de altas temperaturas para o mês de fevereiro na França... Para o final de semana a previsão é de frio de novo! Fazer o quê?

Mas esses dias de trégua no inverno propiciaram um momento especial. Foi anteontem. Uma bobeira. Mas é daquelas cenas que fazem parte do nosso conjunto de lembranças doces...

O dia estava lindo e a temperatura super amena. O Felipe estava em casa (quarta-feira não tem escola) e eu estava aqui digitando alguma coisa no computador. Eu tinha aberto a sacada para fazer alguma coisa lá fora e estava tão gostoso que deixei as portas escancaradas. O Felipe aproveitou para brincar ali fora (coisa tão rara). De repente comecei a ouvir uma musiquinha, daquelas tipicamente francesas. Não sei se o instrumento é gaita ou uma espécie de acordeão, mas quando alguém quer identificar a França, é exatamente aquele tipo de música que toca. Olhei pra fora. Do outro lado do muro dá pra ver o fundo de algumas casas. Uns sobrados que tem aqui na rua de trás. Na soleira da porta estava sentada uma mulher, lendo um jornal. Ao lado dela eu via a cabeça de um homem e o muro não deixava ver mais muita coisa. Parece que era ele quem estava tocando a música...

Fiquei olhando pra fora. O céu sem nuvens, um dia sem vento. O Felipe brincando na sacada, a Ana Luíza dormindo no carrinho do meu lado. O casal aproveitando também o dia. E aquela música no ar. É ou não é de guardar esse momento pra sempre?

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Faz dias que eu quero escrever, mas não arranjo tempo! Não entendo... São só duas crianças e uma casa pra limpar, comida pra fazer, roupa pra passar... Por que será? Só sei que quando chega meia noite eu percebo que é melhor ir dormir e aí, o dia já se foi!

Essa semana começou a época da "tosa" aqui em casa. Os primeiros foram os casos mais preocupantes: Vidal e Felipe. O Vidal já estava passando do ponto crítico. Ele tem bastante cabelo e é muito grosso (o cabelo, não o Vidal!). Teve um dia que eu olhei pra ele e disse: "Você está me lembrando alguém, mas eu não consigo saber quem é..." Foi aí que eu percebi que o caso dele era grave. Eu estava pensando no Michael Jackson no início de carreira! Sacanagem... Acho melhor dizer que ele parecia o Toni Tornado quando cantava "... na BR3... " (só lembro desse pedacinho).

O Felipe não estava em situação muito melhor. Vi que ele já estava com um tique de jogar a cabeça pra trás quando queria tirar o cabelo dos olhos. Sei lá, achei aquilo meio feminino...

Enfim, eles foram a um salão aqui na frente de casa para fazer a dita "tosa". Foram atendidos por... bem... um rapaz... Vocês podem imaginar. Mas o resultado foi bom! Olha só que fofos!


Na semana que vem é a minha vez. Esses dias me olhei no espelho mas demorei para conseguir ver alguma coisa, o cabelo não deixava. Fiz um rabo de cavalo! Sabe que fazia tempo que eu não via minhas sobrancelhas? Minha situação não é menos crítica do que a deles: estou parecendo o Capitão Caverna! Vamos ver se o... hum... rapaz aí da frente consegue dar um jeito!

Logo, logo é a Ana Luíza que vai entrar na dança. Já está com os cabelinhos passando das orelhas, veja só! (Ah! Falando nela... Já está conseguindo sustentar o pescoço sozinha... Que precoce, né?)

Mudando de assunto! Coloquei no Álbum de fotos as imagens do nosso possante. Atenção meninas, a próxima parte dessa mensagem não deve interessar a vocês. Pra mim, se um carro tem quatro rodas e anda, está valendo. Quer dizer, aqui tem um outro requisito que é fundamental: ar quente! O Vidal fica meio decepcionado, mas o que é que eu posso fazer?

Brincadeira! O carro é super legal e, segundo o Vidal, foi um excelente negócio. Vou dar as características "técnicas" para os meninos que estiverem lendo isso aqui: é um Mazda, 94, a gasolina, com 64.000Km. Está super conservado. Nem parece um carro que já tem dez anos! E, o principal: nos leva aonde a gente quiser ir (e tiver dinheiro pra pagar o combustível)! As fotos estão disponíveis aqui.

Falando em dinheiro, vou contar uma historinha sobre a compra do carro. Só pra vocês verem que nem tudo no primeiro mundo é melhor do que o que temos aí. Nosso sistema bancário, por exemplo, é show! Também, com tantos planos econômicos, nós já podemos ser exportadores dessa tecnologia...

O que aconteceu foi o seguinte: o Vidal fechou o negócio do carro, pagou a reserva (100 Euros) e o resto ficou de levar na segunda-feira, 5 de janeiro. Nessa época ainda não tínhamos talão de cheques (outra longa história que eu conto outro dia), portanto, precisávamos fazer o pagamento em dinheiro. Temos um limite diário para saque em qualquer cartão, seja de crédito ou da nossa conta bancária no Brasil, então, seriam necessários vários saques até chegar ao valor do carro. Esse limite varia conforme a cotação e gira em torno de 250 Euros (dependendo de um monte de coisas como limite da conta, se é cartão de crédito ou débito, etc.). Meu pai estava por aqui ainda e eles juntaram todos os cartões cuja senha conheciam e faziam um tour diário pelos caixas automáticos de Nantes. Os saques começaram em 30 de dezembro, mas só podiam ser feitos em dias úteis, o que foi um problema, já que essa época foi cheia de dias "inúteis".

Pra resumir, o Vidal conseguiu tirar todo o valor necessário. O problema é que o dinheiro que sai em caixas eletrônicos geralmente é trocadinho. Aqui vem em notas de 20 ou 50, no máximo. Achamos que seria meio chato chegar numa loja e comprar um carro em dinheiro e ainda tudo "picadinho". Tudo bem, a gente já quase não tem mais orgulho próprio, mas chegar lá e despejar notas no balcão... Achamos que seria humilhante demais! O que fazer? Nada mais simples! O Vidal foi ao banco onde temos conta, na agência onde temos conta e falou com o caixa: "Tirei esse dinheiro no caixa eletrônico e gostaria de trocar as notas menores por notas de 500". E o rapaz disse: "C'est impossible, Monsieur!". Eu sei que dá pra perceber o que ele disse, mas, como imagino que vocês também não vão acreditar, vou traduzir: "É impossível, Senhor". (Eles são sempre muito educados. Até quando rola o maior barraco chamam sempre o outro de Senhor, Senhora ou Senhorita...).

O Vidal ficou perplexo. Aí ele fez uma pergunta, imaginando a resposta, mas já totalmente chocado: "E se eu depositar esse dinheiro na minha conta e, em seguida, fizer um saque no mesmo valor. Aí você pode me dar em notas de 500?", ao que o gentil funcionário respondeu: "Bien sûr, Monsieur!". Traduzindo, "É claro, Senhor!". Dá pra acreditar nisso? Acho que no Brasil, qualquer banco adoraria receber dinheiro trocado...

Tem muito mais coisas sobre sistema bancário pra contar. Mas vai ficar pra outro dia. Tenho de voltar à minha "faina doméstica". Instaurei a época da faxina! Essa semana já me atraquei com o piso da sala. Tinha manchas horrorosas e estava imundo. Passei a manhã inteira esfregando. Quando terminei, parei, olhei tudo e fiquei... sem peso na consciência, porque esfreguei essa coisa um tempão e não adiantou nada!!!! Aliás, ficou pior! A sujeira de certa forma dava uma enganada nas manchas. Saiu a sujeira, as manchas apareceram com força total! Acho que vou ter de radicalizar e despencar água sanitária nele. Ele não vai me vencer assim tão fácil!

Hoje é o dia do mofo... Essa é uma história nojenta demais, mas só vou contar quando ela chegar ao fim...

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Estou feliz! E quero repartir com vocês o motivo dessa minha felicidade...

No sábado recebi um cartão de uma amiga (oi Denise!). É muito legal abrir a caixinha do correio e receber alguma coisa que não seja uma conta para pagar! Respondi o cartão imediatamente. Logo em seguida, tínhamos de sair para fazer compras e eu fui me trocar, ainda com meus pensamentos na Denise. Acontece que, vejam como a cabeça faz associações, o sobrenome dela é Scalon, que, por acaso, é a marca de uma calça jeans que eu tenho. E aí, sempre lembrando da Denise, abri o armário, vi a calça, ela olhou pra mim e eu pensei... Por que não? Eu já tinha ensaiado umas tentativas de vestir uma calça jeans, mas os resultados tinham sido catastróficos. Me enchi de coragem e peguei a danada.

Comecei devagar. Ela foi subindo, subindo... O quadril foi uma dificuldade, mas eu já esperava por isso! Foi por ali que as coisas começaram a complicar. Fui espremendo, espremendo... Entrou! Claro que eu ainda tinha duas batalhas: o botão e o zíper, mas não dá pra negar que vencer a primeira etapa me encheu de coragem. Primeiro o botão. Respirei fundo. Fundo mesmo e... Fechou! Segunda batalha vencida! A coragem foi aumentando. Agora o zíper. Tomei fôlego e... não deu. Mais uma vez e... não deu. Pensam que eu desisti? Não! As duas primeiras contendas ganhas me deram uma esperança que eu já não tinha. Me estiquei em cima da cama, respirei mais fundo ainda (não achei que isso fosse possível) e... Fechou! Tudo bem, agora eu tinha de levantar, pôr sapato, essas coisas...

Levantei. Foi aí que eu notei que tudo o que eu tinha espremido de baixo para cima estava saindo (ou seria melhor dizer caindo) por sobre o cós. Foi meio chato, mas eu estava decidida a não baixar o moral da tropa. Escolhi uma blusa bem larguinha e saí.

Na verdade, eu não conseguia respirar muito bem. Um detalhe sem importância... Parece que os movimentos das pernas estavam meio, como eu posso dizer, robóticos. Elas estavam meio duras, sabe? Ignorei. É verdade também que eu não me senti muito à vontade quando tive de sentar no carro. Mais uma questão insignificante. O problema mesmo veio durante as compras...

Como vocês sabem, pra ter leite uma vaca tem de comer bem e tomar muita água. Isso eu aprendi com meu sogro nesses quase 10 anos de convívio. É claro que a gente não precisa se entupir de chocolate, canjica com leite condensado e coisas do gênero. Cheguei à essa conclusão a duras penas depois que o Felipe nasceu. Mas uma boa alimentação é fundamental. E água, muita água. O problema é que a água, além de leite, também faz os rins funcionarem que é uma beleza. Estão acompanhando meu raciocínio?

Lá pela metade das compras começou a me dar uma vontade louca de ir ao banheiro. Eu quase falei pro Vidal "Güentaí que eu já volto!", mas, nem bem as palavras chegaram à minha boca e meu cérebro, mais do que alerta, sinalizou: "Opa! Você já esteve naquele banheiro! E lá não tem uma cama!! Como é que você vai fechar a calça depois?!!!". Dei meia volta e, resignada, terminei minhas comprinhas. Acelerei o ritmo, é verdade. O Felipe teve um pouco de dificuldade para me acompanhar. Ficou meio ofegante. Pra Ana Luíza foi mais fácil, o Vidal estava empurrando o carrinho dela. Só espero que ela não tenha ficado muito enjoada...

O que importa em tudo isso é o marco zero! Pra colocar uma calça jeans depois do nascimento do Felipe eu levei uns seis meses. Eu usei calças com zíper antes disso, é claro. Mas naquela época eu tinha um salário que me permitia sair e comprar calças do meu tamanho. Agora a coisa é diferente: meu tamanho é que tem de se ajustar às minhas calças. Vejam que tudo na vida tem seu lado bom...