sexta-feira, fevereiro 17, 2006

No dia em que me aconteceu toda aquela correria do trem eu fiquei pensando que vocês ficam aí torcendo pra acontecerem essas coisas esquisitas conosco só pra eu ter histórias pra contar! Que injustiça eu fui fazer com meus queridos leitores! Acho que foi pra compensar aquelas correrias, mas um tempo depois eu tive um dia... Preciso contar pra vocês!

Era uma sexta-feira, véspera das férias de Natal e eu tinha de ir ao centro de Nantes pra comprar um presente de aniversário para um amigo e uma lembrancinha para a babá da Ana Luíza.

Depois de deixar o Felipe na escola, peguei o caminho do centro imaginando o engarrafamento monstruoso que eu ia enfrentar: sexta-feira, véspera de férias, aiiiiiii, eu ia demorar no mínimo uns 50 minutos pra chegar perto do centro. Até me arrependi amargamente de não ter pegado um travesseirinho pra cochilar nos intervalos entre uma parada e uma andada! Esse horário das nove da manhã é o pior de todos porque é justamente o momento em que todo mundo está INDO pra Nantes. Depois só fica ruim assim lá pelas quatro da tarde, no sentido inverso, quando todo mundo está VOLTANDO. Mas depois do que tinha acontecido uns dias antes eu nem cogitei a possibilidade de ir de trem! Preferi encarar o engarrafamento.

Só que, para o meu mais profundo espanto, em exatos 12 minutos eu cheguei ao centro! Nada de engarrafamentos, trânsito super fluido, nem acreditei! Na mesma hora eu imaginei: “É claro! Já está todo mundo lá, só vou achar vaga no último buraco do sétimo andar inferior do estacionamento, vaga essa que eu vou disputar a tapas e depois vou ter de me acotovelar com a horda de pessoas desesperadas nas ruas fazendo as últimas compras de Natal! Tudo bem. Vou suportar!”

Entrei no estacionamento preparada pra descer a rampa em espiral até o fundo (sete andares pra baixo da terra, não gosto nem de pensar muito), só que, nem bem saí do primeiro nível e tinha dezenas de vagas me aguardando! De frente pra entrada sem precisar nem manobrar. Será que eu tinha mesmo levantado e saído da cama? Será que não era um sonho?

Fui andando pela rua. Temperatura amena para um início de inverno, tinha até uns tímidos raios de sol que apareciam de vez em quando nas ruas inacreditavelmente vazias!

Para o nosso amigo Antoine eu tinha imaginado comprar um livro. Vocês sabem, nosso orçamento aqui é gordo como um faquir de dieta, e o que eu quero comprar geralmente custa mais do que tinha previsto, por isso faço muita pesquisa antes de gastar nossos parcos Euros. Naquele dia não foi diferente: tive de fazer muita pesquisa e visitar várias livrarias porque o livro que eu queria dar pra ele era barato DEMAIS! Ficaria até chato! Meu problema foi achar um outro livro pra completar o presente. Não podia ser verdade...

Comprei dois livros e, vocês não vão acreditar, fui tomar o tão famoso café! Aquele que naufragou na tempestade no dia do meu aniversário. Dessa vez achei um café, com mesinhas na calçada que os proprietários tiveram a brilhante idéia de cercar com uma armação de plástico e de colocar aquecimento! Enfim realizei meu sonho de café-na-mesinha-na-calçada-com-livro! Com livro, sem vento, sem chuva. E o café estava bom.

Ainda faltava o presente da babá. Achei uma coisa super legal e exatamente do preço que eu pensava em gastar. Eu realmente estava ficando cada vez mais impressionada!

Já no fim do dia, fui ao mercado. Logo na entrada tinha uma máquina pra gente passar um cartão e ser sorteado com vales-compra. Parei na frente da máquina com meu cartão na mão e revivi todo o dia: nada de engarrafamento, estacionamento vazio, presentes baratos (e bons!), café sem chuva... Achei que aquele era o dia. Eu NUNCA ganho nada em sorteio, a não ser, é claro, quando eu NÃO quero o prêmio.

Parênteses. Uma vez comprei uma rifa de um colega, só pra ajudar. Rifa de um caiaque. O que eu ia fazer com um caiaque? Como eu nunca ganho mesmo, comprei a rifa e... ganhei o caiaque! Demorei um ano pra me desfazer daquela coisa! Fecha parênteses.

Como aquele parecia ser o dia da sorte (se alguém aí leu o último livro do Harry Potter vai me entender: parecia que eu tinha tomado a poção Felix Felicis!) resolvi arriscar. Passei o cartão. Fiquei olhando pra maquininha. Luzinhas piscando. Som de tambores sintetizados... Trrrrrrrrrrrrrrr... Parabéns! Você acaba de ganhar um cupom de 5 Euros! Se nem vocês estão acreditando no que eu estou contando, imaginem eu!

Realmente era um espanto! Terminei as compras e estava indo pro carro quando passei em frente a uma banca de jornais onde se vendem também tickets de loteria. Como as raspadinhas. Pensei: “Se tem um dia em que eu posso ganhar, esse dia é hoje.” Comprei uma raspadinha, enfiei no bolso e fui pra casa.

Guardei todas as compras, sentei à mesa da cozinha e peguei o bilhete no bolso. Fiquei olhando pra ele. Prêmio máximo: 1 milhão de Euros. Evidentemente eu nem sonhava com tanto, mas, quem sabe um premiozinho menor, né? Eu olhava pro bilhete, ele olhava pra mim... Enfim, resolvi raspar, afinal já era quase meia-noite e o dia estava acabando, eu não podia vacilar. Peguei a chave do carro e fui raspando, raspando... Tinha que dar três vezes o mesmo número pra ganhar aquele valor. O primeiro que apareceu foi 1000. O segundo, mil também! O terceiro... 100...

Também já seria querer muito, né? Era sorte demais pra um dia só... Não adianta! Eu e o Vidal só ganhamos dinheiro trabalhando mesmo. Pelo menos eu tenho uma história sem atropelos pra contar pra vocês! Gostaram? Ou será que vocês ficam MESMO torcendo pelos nossos micos! Hein?!