terça-feira, dezembro 12, 2006

Uma invasão

Eu sei que estou devendo notícias nossas! Calma! Estamos quase de volta...

Mas vou pedir licença aos meus quatro leitores pra publicar aqui um texto para minhas amigas de patchwork! Não tem nada a ver com nossa vida na França... Quer dizer, até tem um pouquinho já que eu me inspirei em histórias acontecidas comigo e com minhas amigas. Mas foge um pouco dos nossos causos habituais.

É só um empréstimo, prometo!

Lá vai!

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CASO SÉRIO

Eu vou lhe contar tudo, desde o início...

Ela sempre gostou de artesanato. Adorava frenquentar feirinhas, comprava coisas pra alegrar a casa, até fazia um bordado de ponto cruz de vez em quando. Um dia, uma amiga que tinha chegado dos Estados Unidos trouxe uma revista. Uma simples revista. Inofensiva. Pelo menos, era o que eu pensava...

Já estávamos casados há alguns anos, dois filhos, tudo ia bem na nossa vida. Mas aquela revista...

Era uma revista de decoração em estilo country. Minha mulher ficou encantada com umas colchas e falou:

- Nossa! Que lindo isso!! Será que é difícil de fazer ?

E a amiga disse:

- Acho que não. Olha só, aqui no final da revista tem uns moldes e umas explicações. Eu te empresto a revista e você tenta.

Ela deixou a revista num canto e ficou se enrolando uns tempos. Até que vieram as férias e ela reclamou que estava sem saber o que fazer nos dias em que passaríamos na praia. E eu sugeri:

- Por que você não tenta aqueles trabalhos da revista que a sua amiga te emprestou? Faz semanas que está aí. Se não for pra fazer é melhor devolver.

Quando penso que EU sugeri! Não consigo me conformar...

Ela saiu, comprou uns panos e, no final de uma tarde, tinha um pegador de panelas pronto. Me mostrou orgulhosa do resultado e eu incentivei. EU INCENTIVEI!!! Mesmo não entendendo nada de costura dava pra ver que não tinha ficado lá essas coisas, e a confirmação veio quando, na primeira lavada, o negócio praticamente se desintegrou. Mas ela estava empolgada e tinha até descoberto um curso numa loja de tecidos. O curso durava 8 semanas, só que ela convenceu a professora de que não poderia, por causa do trabalho, fazer em 8 semanas. Precisava fazer em 4, já que seria só pra ter as bases mesmo, era só um hobby, não era?

Foi aos poucos. Eu nem percebi. Hoje eu olho pra trás e tento identificar o momento em que tudo começou, mas não consigo...

No começo foi legal, ela estava empolgada, alegre. Logo terminou uma manta, “um sampler”, ela disse. Comecei a ouvir as conversas pelo telefone com as amigas e vi que era uma linguagem incompreensível pra mim:

- Oi! Terminei meu quillow! Sério. Não, quiltado à mão! Juro! Uns blocos em foundation outros em apliqué, com as bordas mittered. É verdade! Tô tão orgulhosa... Agora estou aqui pensando se faço uma colcha em Baltimore ou um panô em Bargello. O que vc acha?

Quillow? Quilt? Foundation ? Bargello? Baltimore pra mim sempre foi uma cidade dos Estados Unidos, mas, aparentemente, eu estava enganado. Nossa comunicação estava começando a ficar difícil.

Mas o pior nem era isso...

O problema era a invasão silenciosa da nossa casa. Aos poucos começamos a encontrar tecidos, livros, e todo tipo de material de costura em todos os cantos. Sentar no sofá era um perigo! Ser picado por uma agulha era o mínimo que podia acontecer. Isso, claro, quando a gente conseguia um espaço pra sentar. Geralmente tudo estava tomado pelo estojo de costura, o bastidor e a colcha King Size que ela estava quiltando.

Andar descalço era uma temeridade. Alfinetes malignos e mal intencionados insistiam em chamar a atenção para o fato de estarem caídos pelo chão e pediam pra ser levados pra caixinha usando, pra isso, de meios sórdidos como se enfiarem nos nossos calcanhares que doíam pra caramba! Nem Aquiles suportou um ataque covarde no calcanhar, que dirá nossos pobres calcanhares mortais...

A estante foi tomada pelos livros e revistas de patchwork que chegavam dentro de sacolas a cada vez que ela saía e passava numa livraria ("estava em promoção, olha só!"), mas também pelo correio, com as coisas que ela pedia pela internet ("você sabia que livros NÃO PAGAM imposto de importação? Não é o máximo?").

Tecidos então... Estavam por tudo. Acho que algum cientista ainda vai descobrir que tecidos têm vida própria e que, ainda por cima, se reproduzem! Afinal, como explicar as vezes em que eu fui buscar uma toalha de banho no escuro e descobri ao acender a luz que era um tecido de florzinhas roxas? Sem contar que quando ela viu, deu um grito e disse:

- O QUÊ?! Você não está pensando em se enxugar com meu tecido Debbie Mum novinho, né?

Não sei quem é essa Debbie-não-sei-o-que, mas deve ser alguém muito importante... Muito mais do que eu e nossos filhos que já não tinham roupas limpas porque os tecidos tomavam conta dos varais e, quando esses acabaram, das portas, das janelas e de onde mais fosse possível pendurar alguma coisa.

- A gente tem de lavar os tecidos antes de usar pra soltar toda a tinta e encolher tudo o que for necessário, senão o trabalho fica horrível depois.

Horríveis, na verdade, tinham ficado nossos almoços e jantas...

Primeiro ela começou a fazer só coisas super rápidas (tinha ficado costurando até as barrigas roncarem mais alto do que a máquina), depois começaram os PFs, já que não tinha nenhum espaço na mesa que não fosse tomado por moldes, tecidos, régua, tesouras, alfinetes, etc., etc., etc. Sobravam exatos 10cm de mesa, suficientes, quando muito, pra colocar um pratinho de sobremesa pra cada um. E ai de quem respingasse uma só gota de qualquer coisa naquilo tudo!

Num domingo, estávamos todos em casa quando, de repente, tocou um despertador. Eu levei um susto! Perguntei porque o despertador estava tocando no meio da tarde e não acreditei na resposta que ela deu sem nem levantar os olhos do EPP que estava fazendo:

- Ah! É o horário de ir buscar as crianças na escola. Eu coloquei pra despertar pra eu não esquecer... Você sabe, quando eu pego numa costura não vejo a hora passar!

E tem mais! Nos armários, começaram a aparecer sacolas e mais sacolas. Aliás, as sacolas estavam também na sala, do lado do sofá, no nosso quarto, do lado da cama, na área de serviço... Essas sacolas eram um mistério pra mim até que um dia interceptei uma conversa e vi que a coisa era ainda pior do que eu imaginava!

- Tô arrasada! Tenhos uns 10 UFOs aqui em casa! Não, ainda não consegui dar um fim naquele da sala, acredita? Só faltam as flores de fuxico e o viés e eu não me animo! Não, não é nem mais um WIP, jé é UFO mesmo! O problema é que tem pelo menos uns outros 10 projetos que eu quero começar, mas estou me segurando. Então, menina, tem aquela revista japonesa que tem umas bolsas em chenille que são demais! Mas eu já disse que só pego na bolsa depois de terminar pelo menos aquela aplicação em freezer paper que está me esperando há séculos no quarto!!!

Dentro das sacolas tinham UFOs?!!! Minha mulher estava recebendo marcianos em casa e ainda fazendo fuxicos com eles? Logo ela, que nunca foi de falar mal da vida de ninguém! Será que ela estava a ponto de ser abduzida?! E que história era aquela de coisa congelada no quarto? Talvez fosse esse tal de WIP, de quem eu nunca ouvi falar! E se a polícia baixasse aqui em casa? A NASA, a CIA, o FBI? Já estava até vendo a cena...

Helicópteros sobrevoando a casa, as crianças apavoradas num canto e aqueles homens em macacões e capacetes de astronauta entrando na casa, vasculhando tudo e dizendo: "Soubemos que a dona desta casa mantém WIPs congelados no quarto, enrolados em papel pra freezer, além de ter UFOs reféns, presos em bolsas de chenille" (Chenille, o que é isso, meu Deus?!). E ela, com ar de desdém: "Humpf, esse macacão deles podia pelo menos ter um quiltzinho à máquina!"

Achei que aquilo tudo já estava indo longe demais! Conversei, tentei ser compreensivo. Disse que estava sentindo falta dela, de passearmos juntos, só nós dois, propus uma viagem. Ela relutou por uns tempos, mas depois aceitou. Ficou bem feliz com a idéia. Feliz demais, até. Eu devia ter desconfiado... Ela disse que organizaria tudo, que passaríamos 4 dias num lugar bem romântico. Era novembro e nós fomos... pra Gramado!!!

Na volta, ela dizia pra todo mundo:

- Não sei porque ele ficou tão bravo! A gente saiu pra passear todas as noites! E depois, ele sempre reclama que trabalha demais, que está sempre cansado... Quando eu arranjo dias inteiros pra ele ficar de papo pro ar, sem fazer nada, dormindo até tarde ele acha ruim! Agora, amiga, vou te contar: o festival é TU-DO-DE-BOM!!!

Comecei a ficar desesperado. Procurei os maridos das amigas e vi que todos estavam na mesma situação. Criamos um grupo de auto-ajuda, e nos reuníamos, enquanto elas quiltavam, pra trocar experiências. As histórias eram escabrosas!

- Levei minha mulher pra uma viagem à Itália pra ver se ela se desligava um pouco. Quando entramos na Basílica de São Marcos, em Veneza, ela deu um grito e caiu de quatro! Ficou o tempo todo olhando só para o chão. Disse que era uma fonte de inspiração infinita pras colchas . Quis tirar foto, era proibido, então ela se ajoelhou e ficou desenhando, tirando os modelos. Todo mundo olhando pras obras de arte, pros mosaicos, e ela ali, copiando o chão! E foi a mesma coisa em todas as outras cidades, Milão, Florença... Eu já não sabia mais o que fazer. Nosso álbum de fotos só tem foto de chão!!! Agora ela só fala em participar de um cruzeiro nas Bahamas. Patchwork em regime de confinamento!

- Comigo foi pior! Tinha uma obra perto de casa. Uma nova linha de ônibus. Eles estavam instalando os postes de luz e os tais postes vinham embrulhados em um tipo de feltro, sei lá. Só sei que ela foi até o meio da obra, uma rodovia!, e saiu carregando uns 10 metros daquele feltro todo sujo de lama! Eu perguntei: "E se a polícia te pega roubando material na rua?" E ela disse: "Imagine! Eles iam JOGAR FORA! Quer heresia maior do que jogar tecido fora?! E dá uma fibra excelente pra usar nos meus sanduíches!". Eu fiquei em pânico pensando que a gente ia começar a comer tecido também, mas ela me acalmou dizendo que era outro tipo de sanduíche...

- Isso não é nada! Minha mulher voltou a estudar inglês. Eu fiquei contente porque pensei que, enfim, ela estava se libertando dessa coisa. Nada disso! Ela voltou a estudar inglês pra poder assistir um canal americano de patchwork pela internet! 24 horas por dia! Isso sem falar numa Universidade do Quilt, também americana, também por internet. O que é que eu vou fazer?

E começou a soluçar. Os outros maridos, penalizados, ofereceram mais uma cerveja e suspiraram em uníssono! Todos sabiam muito bem o poder da Internet! E agora, depois do tal de Orkut, as coisas tinham piorado! Um deles andou bisbilhotando o perfil da mulher e descobriu que ela agora se auto-denominava "Serial Quilter" e que fazia parte de uma comunidade (que ele já estava a ponto de chamar de ‘seita’) chamada (com muita razão, diga-se de passagem) de Patchahólicas Anônimas!!! É o fim!

É por isso que eu vim aqui, Doutor. Vim para saber se isso tem cura, se tem alguma coisa que eu possa fazer pela minha mulher!

O médico era um especialista. Uma das maiores referências nacionais em Psiquiatria. Esse médico era realmente a última esperança de toda a família. Depois de escutar toda a história em silêncio profundo, com os braços cruzados sobre o peito e o olhar grave, o médico apoiou os cotovelos sobre a mesa, respirou fundo e disse:

- Bem... Por acaso o senhor não poderia me dar o endereço desse grupo de maridos? Minha mulher também faz patchwork!!!!

E começou a chorar!

domingo, outubro 22, 2006

Com São Pedro não se brinca!

Segunda-feira passada eu fiz o que faço todas as segundas-feiras de manhã: acordei e liguei direto a televisão no canal de previsões meteorológicas pra saber como seria a semana e como vestir as crianças pra escola. Se fosse um programa cômico eu não teria dado mais risada. Olha só o que o apresentador falou: “Aproveitem o dia de hoje, que deve ser o último dia agradável do ano! A temperatura vai ser amena, com sol em todo o país. Amanhã chega uma frente fria que trará chuvas, e o pior dia da semana vai ser quarta-feira, com temporais generalizados.” Não é de morrer de rir? Não entenderam? Vou explicar...

Quem acompanha fielmente esse blog deve lembrar do dia 18 de outubro do ano passado, dia do meu aniversário, quando eu tentei tomar um café no centro de Nantes, mas quase me afoguei no temporal que caiu bem naquele momento, lembram? Foi por isso que eu achei tão engraçada a previsão da segunda passada. Era tão óbvia!

Levei as crianças pra escola e voltei pra casa com uma idéia na cabeça... antecipar minha comemoração particular de aniversário. Assim, de uma hora pra outra! Eu cheguei a pensar no que um amigo me disse uma vez: comemorar aniversário antes do dia dá azar. Mas eu achei que uma mocinha já grandinha como eu, não devia ficar dando atenção a superstições e deixei pra lá... Eu ia pregar uma peça em São Pedro!

Cheguei em casa, e gastei umas duas horas pintando o cabelo, tomando banho sem ninguém pra bater na porta, perguntar onde está o brinquedo, chorar porque levou um safanão do irmão, etc, etc, etc... Terminei a sessão beleza, saí e fui levar meus olhos pra passear numa loja que tem TUDO pra uma casa e que eu adoro! Depois comi uma omelete num restaurante que eu namorava desde que chegamos por aqui. Em seguida fui pro centro da cidade e voltei ao mesmo café do ano passado. Eu tinha uns 50 minutos dessa vez! E estava um sol maravilhoso, temperatura agradável, um sonho! Pedi meu café, peguei meu livrinho e fiquei por ali, saboreando o momento um ano depois...

Só teve uma coisa que me incomodou... a fumaça de cigarro. É incrível, mas tinha gente à esquerda, à direita e na minha frente. Todos fumando. E o mais inacreditável é que a fumaça de TODOS eles vinha na minha direção! O vento ficava mudando de lugar só pra mandar aquela fumaça fedorenta pro meu lado! Decidi me convencer de que nada é perfeito mesmo, e que tudo até ali tinha corrido super bem...

Veio a terça-feira e, com ela, as nuvens. Eu até achei divertido. Comecei a esperar ansiosamente a quarta-feira só pra escrever nesse blog, dizendo “Te peguei, São Pedro!!!”, mas, qual não foi a minha surpresa, quando acordei na quarta-feira, abri a janela e... SOL! Um dia sem nuvens, temperatura agradável, exatamente o contrário do que tinha sido previsto insistentemente nos dias anteriores! Sim! Eu tinha visto novamente a previsão e eles diziam sempre a mesma coisa: temporais na quarta-feira. E quando eu acordei, aquele sol!

Achei que São Pedro tinha decidido me dar uma liçãozinha, do tipo, ponha-se no seu lugar, quem você pensa que é, etc, etc, etc. E, pra falar a verdade, até achei engraçado essa minha questãozinha particular lá com o povo de cima... E, no fim das contas, toda aquela história de azar por comemorar o aniversário antes do dia tinha sido uma grande bobagem, muito pelo contrário, eu tinha até ganho de presente um belo dia de sol no meu aniversário, coisa que não acontecia há muito tempo, quando...

Era umas sete da noite, eu estava me arrumando e arrumando também as crianças pra ir buscar o Vidal na estação de trem. Ele tinha ido participar de um congresso e estava voltando num TGV (trem de grande velocidade) que chegava às oito da noite. O programa era passar numa pizzaria e trazer uma pizza pra casa, pra comemorar meu aniversário. Fazia já mais de um mês que eu estava sonhando com a tal da pizza...

... e o telefone tocou! Era o Vidal:

- Ju, estou vivendo um pesadelo! Alguém roubou meu notebook dentro do trem. Já andei em todos os vagões olhando e não achei nada. O controlador disse que isso tem sido comum, os ladrões entram no trem, roubam e descem antes de o trem partir. O pior é que dentro da mala estavam todos os meus documentos, passaporte, cartões de crédito, tudo! Sem contar na minha tese...

- Mas você não fez cópia do seu trabalho?

- Fiz! Mas estava na chave USB que TAMBÉM estava junto do micro! Eu queria que você abrisse o arquivo que eu copiei no micro aí de casa no domingo assim que terminei o trabalho pra ver se está tudo bem.

- ...

- Que foi?

- É que eu não sei exatamente o que aconteceu, mas hoje o mouse e o teclado do nosso micro pararam de funcionar e eu não consegui fazer nada no micro o dia todo... Não sei o que é, vamos ter de chamar alguém aqui pra ver o que está acontecendo...

- Mas aí é pesadelo demais!!!! Eu vou ter perdido todo o trabalho do fim de semana!

- Bem, vamos ver isso quando você chegar. Eu vou estar lá na estação te esperando...

Desliguei o telefone meio catatônica, pensando nas fotos que tinham ido embora e que eu não tinha feito cópia, no trabalhão pra refazer os documentos e tudo o mais. Comecei a desconfiar da tal história do azar, mas afastei o pensamento. Principalmente porque eu consegui trocar o teclado pelo do finado notebook e funcionou, fiz cópia do trabalho do Vidal, liguei pra ele pra contar isso e respiramos um pouco aliviados.

Fui buscar o Vidal na estação, passamos no mercado pra comprar um novo mouse e chegamos em casa ainda sob o choque do acontecido. Foi quando abrimos a caixinha do correio e tinha um envelope. Pensaram que era um cartão de aniversário pra mim? Nada disso! Era uma cartinha do proprietário do antigo apartamento em que morávamos dizendo que tínhamos uma dívida de 500 euros de conta de água pra pagar! Acho que o choque foi ainda maior! Mal estamos tirando a cabeça pra fora de um novo período de vacas magérrimas e aparece uma conta dessas! Todo um mês de supermercado! Pensamos em fazer jejum nas próximas semanas (o que não seria mal, estamos precisando perder uns kilinhos mesmo...) mas não daria... As crianças não agüentariam...

O moral não poderia estar mais lá em baixo. Mesmo assim eu ainda não estava convencida daquela história de azar, quando chegou a pizza que tínhamos pedido.

Mais de um mês sonhando com a tal da pizza... Pedimos no mesmo lugar de sempre, e ela estava HORRÍVEL!!!! Veio faltando queijo em dois pedaços, a carne que foi usada devia ser de segunda, tinha um gosto de sebo intragável. Foi nesse momento que eu pensei: ok, você venceu! Não dá mesmo pra comemorar o aniversário antes da hora! Isso dá um azar danado!

No dia seguinte, começamos a ver tudo o que era necessário pra refazer os documentos, cartões etc... Eu saí de manhã pra levar as crianças na escola e fazer umas outras coisas. Voltei pra casa só na hora do almoço... Estranhei o computador estar desligado e fui entrando em casa igual filme policial: me escondendo rapidamente atrás das paredes, o rolo de macarrão em punho, mas, nada! Ninguém estranho em casa. Já que tinham roubado as chaves de casa também, todo cuidado era pouco, né? Então, porque o computador estava desligado? Foi aí que notei que tudo estava desligado, ou seja, estávamos em luz! Tinha sido cortada!

Na mudança de um apartamento pra outro acabou acontecendo uma confusão com os contratos de luz e justamente aquele dia a companhia de energia elétrica tinha escolhido pra cortar a nossa luz! Não parece coisa feita?

Alguns telefonemas mais tarde essa coisa da luz já estava resolvida, mas, por via das dúvidas fui dar uma olhada nas encruzilhadas aqui perto pra ver se não tinha uma vela vermelha e uma galinha preta dando sopa nas redondezas... Não tinha! Devia ser ainda reflexo da “mardição” do dia anterior mesmo...

Achei que o pior já tinha passado e que tudo ia começar a voltar ao normal. E não é que melhorou mesmo?

No fim da tarde eu estava conversando pelo MSN com o Vidal (computador funcionando, inclusive o mouse!). Estávamos tentando decifrar o texto do site do consulado pra saber se ele teria de ir buscar o passaporte em Paris ou se eles mandariam pelo correio quando o Vidal disse, quer dizer, escreveu:

Vidal diz:
Olha só! Tem uma seção de achados e perdidos no site do consulado! Vou ficar de olho pra ver se meu passaporte ou carteira de motorista aparecem por lá.

Juliana diz:
É mesmo? Vou ver se minha carteira de motorista está por lá! Me mande o link.
(Parênteses: quando chegamos aqui eu perdi misteriosamente minha carteira de motorista... Uma história pra contar um outro dia...)

Vidal diz:
http://www.consulat-bresil.org/index.php?option=com_content&task=view&id=26&Itemid=47

Vidal diz:
TÁ LÁ

Vidal diz:
TÁ LÁ

Vidal diz:
TÁ LÁ

Gente, vocês não imaginam a emoção de ver seu nome numa lista de consulado! Parece que eu tinha achado meu nome numa lista de aprovados no vestibular! Que coisa mais engraçada! E o negócio funciona mesmo! Há três anos minha carteira perdida e eu reencontro. Dá pra acreditar?

Agora, vejam só que coisa chata... A GENTE VAI TER DE IR PRA PARIS!!! Pra buscar carteira de motorista, passaporte, mas é Paris, né? Dar mais uma olhadinha na torre, um passeiozinho na Champs Elisée... ai ai

No fim das contas, até que não foi tanto azar assim, né? E eu ganhei de presente de São Pedro um dia de sol no meu aniversário... Definitivamente, nessa vida, tudo tem um lado bom!

terça-feira, setembro 26, 2006

Hoje tem Marmelada?

Tem, sim Senhor!
Hoje tem goiabada?

Não! É claro que não! Não existe goiaba na França... Mas marmelo tem, e eu acabei de fazer um panelão de marmelada! Estou realmente me superando!

Puxa! Dois meses sem escrever? Tanta coisa aconteceu nesse tempo...

A viagem ao Brasil foi extremamente cansativa por causa dos sustos com a Varig. E eles fizeram questão de nos deixar em suspenso até o último minuto! Tudo bem, já passou.

Agora já estamos contando os dias, literalmente, para a volta. Em 83 dias estamos partindo...

Às vezes fico contente, às vezes fico triste. Quero estar de volta ao Brasil, mas não quero passar pelo fim. Vai ser muito difícil. Tanto por questões práticas quanto por questões pessoais. Fizemos amigos, não criamos raízes, mas começamos a nos espalhar um pouquinho. Vivemos experiências maravilhosas e outras duríssimas. Crescemos muito. Foram três anos vividos intensamente em tudo o que tivemos de bom e de menos bom. Felizmente não tivemos nada de extremamente ruim, graças, tenho certeza, às orações e aos bons pensamentos de vocês!

Estou procurando aproveitar ao máximo os últimos instantes, com menos tempo para outras coisas como escrever por aqui, por exemplo. É uma pena... Por outro lado, tenho tido a oportunidade de ter momentos como esse de hoje: ir até a casa de uma amiga pra colher frutas e fazer geléia e marmelada. Tive direito até à colheita de champignons no jardim. Um luxo!

Por hoje é só. Estou bem cansada.

Até a próxima!

quarta-feira, julho 26, 2006

Viemos e já estamos indo!!!

O avião tá saindo!!!!! Notícias depois!!!!!!!!!!!!

FUI!!!!!!!!!!!!!!!!

sábado, junho 17, 2006

Esqueci de mostrar pra vocês!

Olhem só o meu Harry Potter particular!

Ele me pediu pra fazer essa fantasia depois de ter visto uma igual na casa do Aksel, amigo da escola. Eu estava cheia de coisas pra terminar antes de a gente ir pro Brasil, mas não podia deixar de atender um pedido do pimpolho, né? Fui comprar os tecidos e, como, apesar do calor que tem feito, não estejamos enchendo a banheira com moedas de euros pra podermos nadar um pouquinho, eu tentei achar aquele que tivesse o menor número gravado na etiqueta!

Foram dois dias inteirinhos pra fazer o chapéu mais a roupa. Domingo e segunda, meio sem parar. Na segunda-feira, fim de tarde, eu comecei a aplicar as estrelas e a lua, nesse tecido prateado que é chatíssimo pra trabalhar. Eu não desisti! Queria terminar logo pra que essa fantasia não virasse mais um UFO na minha vida. Vocês não sabem o que é um UFO? É uma expressão que a gente usa entre patchworkeiras. Foi inventado pelas americanas e quer dizer UnFinished Objects, em português, objetos inacabados, ou seja, todos aqueles trabalhos que a gente começou mas não terminou. Pelo jeito esse é um fenômeno mundial entre as malucas que fazem patchwork: mil coisas começadas e não terminadas. Eu não sou diferente! Tinha um monte de UFOs quando a gente estava aí no Brasil e trouxe tudo pra cá, pensando, "já que vou ficar lá 3 anos sem fazer nada, então vou terminar tudo o que eu tenho começado!". Não só não terminei, como comecei várias outras coisas, o que quer dizer que a Nasa está jogando dinheiro fora com essa busca de UFOs pelo espaço. É só abrir o armário aqui de casa! (E de todas as que fazem patchwork aí pelo mundo...)

A regra de ouro para não dar à luz mais um UFO na sua vida é: comece e termine imediatamente! Enrolou uns dias, encostou num cantinho, pronto! Lá está mais um ser desses pra te atormentar o sono! É por isso que eu não queria deixar passar muito tempo da fantasia. Eu tinha de começar e terminar logo!

E assim foi. Tanto que na segunda-feira, uma da manhã mais ou menos (o que quer dizer que já era terça, mas tudo bem), eu dei o último ponto que fez parar no lugar a última estrela! Eu estava acabada de cansaço, mas feliz!

Como eu tive de fazer as aplicações a mão por conta de detalhes técnicos que não têm muita importância, elas estavam meio "gordinhas". Eu achei que tinha de dar uma passada a ferro pra assentar bem. Só que, uma da manhã, depois de dois dias inteiros, mais o cansaço, mais todo o resto, e sem contar a minha mais absoluta falta de senso, atenção e sei-lá-mais-o-que, liguei o ferro no último e, infelizmente, só percebi isso quando encostei ele na roupa e vi abrir um buraco!

É, eu também fiquei com vontade de chorar! Falei uns 10 palavrões, bati o pé no chão igual criança, olhei o buraco de novo, falei mais uns 50 palavrões, solucei, fiz beicinho e nada adiantou! Comecei a pensar no que fazer, mas só me vinham à mente idéias nefastas, desde jogar o ferro pela sacada, até a picar a fantasia em mil pedacinhos. Achei que o melhor era ir dormir...

No dia seguinte, mostrei pro Vidal e ele disse: "Coloca uma cauda aí nessa estrela, transforma ela num cometa e pronto! Nem mostra pra ele!". Eu achei uma ótima idéia e foi o que eu fiz...

Só que demorei uns dias, e a fantasia só não virou um UFO de verdade porque o Felipe ficava perguntando "Já tá pronta?" a cada uma hora e meia mais ou menos.

Enfim, eu terminei e chamei ele pra experimentar. Só que o danado é super observador e a primeira coisa que ele disse foi: "Olha só, tem um buraquinho aqui..." mostrando uma aberturazinha mínima que o ferro tinha feito na estrela do lado do buraco. Eu fiz um "Ahn? O que?" e fui chamando atenção pra outra coisa e puxando ele pra sacada pra poder tirar fotos. Ele foi, tirou as fotos, depois deu uma esticada na roupa e ficou olhando pra baixo meio pensativo. Eu perguntei o que era e ele disse: "Na fantasia do Aksel tinha esse cometa?". Eu só não gelei porque estava um calor do caramba. Já pensei que a fantasia que eu passei horas fazendo ia ficar pra sempre dentro do armário pra ser, quem sabe, abduzida por algum UFO. Eu conheço a peça. Ele não fala nada, mas simplesmente não usa mais a roupa, ou o brinquedo se ele não estiver impecável. Daí eu disse: "Claro que não! Mas é que a sua é especial! Esse aí é o cometa do poder!"

Se ele engoliu, não sei... Ainda não vi ele usando a fantasia...

sexta-feira, junho 16, 2006

Primeira noite do Felipe fora de casa!

Hoje, pela primeira vez, o Felipe vai dormir fora de casa. Sozinho! Ele que decidiu, simplesmente pegou a chave da porta e disse "Fui! Não sei a que horas volto. Tchau."

CLARO QUE NÃO!

Ele foi convidado pra dormir na casa de um amiguinho da escola. Que sensação mais estranha essa... Eu quero mais é que ele se divirta muito, não tem coisa mais gostosa do que ir pra casa dos amigos...

Mas se ele me ligasse lá pela meia-noite dizendo "Mamãe, quero voltar pra casa!" acho que uma vozinha lá no fundo, mas bem no fundinho mesmo, toda escondida e fraca, quase afônica ia dizer: "Ai que alívio! Ele ainda precisa da gente..."

Eu preparei a mochila de manhã com pijama, roupa pra trocar, toalha de banho, escova de dente, um homem aranha fofinho e um tubarão de pelúcia que ele chama de Oscar e que dorme com ele todas as noites para "protegê-lo e evitar que ele tenha um pesadelo e acabe terminando a noite na nossa cama!".

Ele está crescendo! Ai! Que coisa... Não foi no mês passado que eu segurei aquele bebê todo molinho na maternidade que me olhava com aquela carinha de duende e disse "Bem vindo!"

Já sei que toda hora vou dar uma olhadinha no messenger pra ver se não tem chamado da Kim (a mãe do Louis, o amigo dele) e se o telefone está no gancho mesmo.

Como o tempo passa...

quarta-feira, junho 14, 2006

E foi o primeiro jogo...

Olha, assistir a esse jogo xexelento de estréia foi dose! Mas MUITO PIOR do que isso foi ter de ouvir comentarista da televisão francesa torcendo pra Croácia!!!

terça-feira, junho 13, 2006

Vôos cancelados, coração paralisado...

50 e poucos vôos cancelados pela Varig no final de semana... O nosso vôo mesmo já foi cancelado e mudado de 27 pra 28 de junho.

Não é só pra assistir aos jogos da copa que eu vou ficar lembrando do Galvão Bueno falando "güenta coração"!!!

Já estamos comprando nossos bilhetes definitivos de volta... COM A TAM, é claro! Que eles também não inventem estripulias daqui até dezembro. Duas dessas a gente não aguenta...

quarta-feira, maio 31, 2006

Desculpa gente...

Eu sei!!! Tô em dívida com meus leitores... Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa! Mas realmente me meti em coisas demais e agora não estou dando conta do recado.

Acho que é porque está se aproximando a hora de ir embora, então estou querendo aproveitar os últimos momentos pra fazer tudo, e me angustio quando vejo mil coisas começadas, mil projetos abandonados... Isso sem contar em coisas mais práticas e menos poéticas como o meu fogão nojento de tanta gordura e a pilha de roupas pra passar já com neve no topo de tão alta!

Esses dias acordei determinada a diminuir pelo menos um pouco a pilha, não porque estivesse com muito peso na consciência, mas sim porque não tinha lugar pra colocar mais nada! Quando deu dez pra meia noite e eu não tinha nem passado perto da dita cuja, tomei uma decisão radical pra conseguir atingir meu objetivo ainda no dia em que tinha me proposto. E consegui diminuir a pilha de uns 30cm mais ou menos. E antes da meia noite!!! O que eu fiz? Tirei tudo do lugar e enfiei tudo de novo, mas apertando bem pra sobrar mais espaço em cima! Não é que deu certo? Só que isso foi há uns três dias. De lá pra cá foram mais umas quatro maquinadas e tá lá a danada nas alturas de novo!!!

Algumas novidades rapidinhas...

Ontem tivemos mais uma resposta de conferência, mas dessa vez foi recusado. Tudo bem, a gente teve muita resposta positiva nos últimos tempos e o povo lá de cima deve ter achado que era hora de dar uma baixada na nossa bola. De qualquer forma, mesmo com essa recusa, já está certo que vamos embora definitivamente em dezembro mesmo.

O Felipe já está com o primeiro dente molinho. É possível que em julho ele chegue por aí de janelinha! Ele está todo contente e fica mexendo no dente o tempo todo pra cair rápido. De um lado porque todos os amigos dele já trocaram vários dentes, ele é um dos últimos que falta. Mas de outro, e que cá entre nós eu acho que é o principal, é porque ele sabe do tal ratinho que passa e deixa umas moedas em troca do dente. Desde que ele começou a receber mesada e a comprar uns brinquedinhos, aprendeu rapidinho o valor do vil metal. Está quase virando mercenário já o danado!

A Ana Luíza está a cada dia que passa melhorando mais o vocabulário dela, abandonando o analuizês pra falar português e/ou francês que são coisas que a gente consegue entender. Às vezes ela tenta falar uma palavra e quando a gente não compreende ela fica louca da vida! Agora que estamos conseguindo entender o que ela diz, já está dando pra ver que os gens da informática passaram pra ela também! Esses dias cheguei no berço para acordá-la. Fiquei agradando as costas, fazendo cafuné e falando, até conseguir arrancá-la dos braços de Morfeu. Ela ainda de olhos fechados falou:
- Pipi mimindo? (tradução: o Felipe tá dormindo?)
Eu disse:
- O Fe tá dormindo...
Ela:
- Papai mimindo? (tradução: o papai tá dormindo?)
Eu:
- O papai tá dormindo...
Ela:
- Zizá mimindo!!!! (tradução: eu também estou dormindo, não me enche o saco!!!)

Tô bem arranjada...

Ela realmente está fazendo uma mistura de português e de francês. Algumas coisas ficam bem engraçadas. Não sei se vocês sabem, mas o "Oh lá lá" do francês é uma realidade e não mais uma coisa de filme. Eles realmente falam isso com freqüência e em várias situações que podem variar de surpresa até o mais profundo desagrado. Pois bem. A Ana Luíza é chegadinha numa reclamação, assim como o Felipe, e detesta quando alguma coisa que ela quer fazer não dá certo. Ela reclama mesmo! Uma das primeiras coisas inteligíveis que ela disse foi num dia em que ela queria fazer uma pilha de alguma coisa que eu não lembro mais o que era, só sei que a pilha se desmanchava o tempo todo. Depois de umas três tentativas frustradas ela saiu com essa:
- Oh lá lá!!! Saco!!!!

Quase morri de rir! Daí ela fechou a cara, me olhou bem brava e soltou:
- Popititutu muuuu mikitatibô!

Eu enfiei minha viola no saco e saí de perto. Com uma fera dessas não se brinca!

Bem gente, só passei pra não ficar sem nada no mês de maio...

No fim de junho estamos por aí. Claro que vou tentar escrever, mas não vou prometer nada. No meu caso, já sei que promessa não é dívida!

quinta-feira, abril 13, 2006

Casa nova, vida nova!


Enfim!!!
Casa nova, vida nova, bagunças novas!!!

Até que foi rápido pra gente voltar ao mundo normal... uma semana. Tá bom, não tá?

Agora estou aqui no meu novo quarto, escrevendo pra vocês no novo micro! Sim! Agora temos um novo brinquedinho em casa. Um computador que a universidade emprestou para o Vidal poder terminar o trabalho dele. Eles são legais, não são? Agora o Vidal vai poder trabalhar durante o dia, a noite, a madrugada, os finais de semana, e, se inventarem mais horas no dia, nessas horas também! Sem desculpa, sem choro, sem a menor possibilidade de dizer "pois é, o micro lá em casa é muito lento, as crianças estavam usando, fiquei sem internet, blá, blá, blá... " Nada disso!!!

A parte boa é que, durante o dia, enquanto O Vidal está na universidade, eu posso brincar um pouquinho com ele... Só que, como nada é perfeito, o BipBip (foi o nome que eu dei pra que ele não fique com ciúmes do Cágado que tem um apelido carinhoso especial) tem um teclado francês. Qual é o problema? O problema é que não sei porque os franceses decidiram que no mundo todo a posição das teclas no teclado é uma, mas na França seria diferente. Então o A é no lugar do Q, o Z é no lugar do W, a vírgula é no lugar do M, o M é no lugar do Ç e assim por diante. Pra fazer os números a gente tem de apertar o SHIFT e os símbolos são feitos quando a tecla está desapertada... O que a gente faz é enganar o teclado. A gente diz que está usando um teclado brasileiro. Daí fica melhor ainda: você olha pro teclado e vê um Q, mas quando aperta a tecla, sai um A! E mais! Não existe uma tecla para interrogação, então se eu quero fazer uma pergunta, nem que seja retórica, tenho de pressionar ALT mais 063 no teclado numérico. Dei uma boa espanada nas teias de aranha dos meus conhecimentos em informática (DOS ainda, alguém lembra disso?) pra lembrar qual era o código ASCII do ponto de interrogação. Um verdadeiro treinamento pra loucos!

O que eu tive de fazer também foi ressuscitar todas minhas aulas de datilografia da sétina série (sim! Eu fiz isso!!!) para digitar SEM olhar para o teclado! Ou então me acostumar ao teclado francês! Vou tentar não olhar... vamos ver no que vai dar! O Vidal tem vivido assim desde que chegamos aqui e está mantendo a sanidade, porque eu não conseguiria (ALT+063)? Ah! E não tem corretor em português então pode acabar escapando um errinho aqui, outro ali... vocês vão me perdoar, né?

Vamos falar da mudança!

Correu tudo super bem e sobrevivemos!!! Quem nos acompanha desde o início deve estar lembrado de que quando chegamos por aqui eu estava de barrigão e não conhecíamos ninguém, então o Vidal teve de carregar tudo sozinho, no muque! Dessa vez foi bem diferente! Primeiro eu não estou mais de barrigão... quer dizer, estou, mas agora não tem mais bebê dentro que justifique eu não botar meus bracinhos pra trabalhar. Oh, vida! Além disso, vejam como é a globalização! Fizemos uma aliança franco-méxico-brasileira e tínhamos carregadores de três nacionalidades! Antoine e Cédric representando a França, Jorge representando o México e o Vidal, representando terras verde-amarelas. Mesmo assim, ainda bem que morávamos no primeiro andar, e continuamos morando no primeiro andar! Os meninos sofreram!

Enquanto eles ainda não tinham chegado, eu mesma comecei ajudando o Vidal a carregar o caminhãozinho que alugamos. De novo, quem nos acompanha desde o início vai lembrar que foi durante a primeira mudança que percebemos o quanto os franceses são educados, já que todos os vizinhos que passaram pelo Vidal enquanto ele resfolegava escada acima com o fogão nos braços disseram "Bonjour!" com sorriso nos lábios e tudo o mais. Todos! Sem exceção. Educadíssimos! (Mas uma mãozinha que é bom... Nada!) O Vidal é que deve ter passado por mal educado porque carregando aquele peso todo ficava difícil responder "Bonjour", ainda mais sorrindo. Eles devem ter compreendido. Na verdade, compreenderam, sim. Tanto é verdade que agora a coisa foi diferente.

Enquanto descíamos a mudança escada abaixo vários vizinhos passaram por nós. Dessa vez eles não se contentavam em só dizer "Bonjour!" com um sorriso nos lábios, mas paravam pra perguntar se estávamos nos mudando, pra onde, porque assim tão depressa, se estávamos de partida para o Brasil, mas que pena que vocês vão embora, etc., etc., etc. Muitas vezes a gente parava no meio da escada com uma caixona nas mãos, o suor escorrendo pela cara e eles ali, naquela conversa amigável, papo vai, papo vem, nossas costas começando a reclamar, as pernas já resignadas nem reclamavam mais, simplesmente pararam de mandar mensagens ao cérebro e, no fim, "Au revoir!" sempre com o sorriso nos lábios! Realmente, educadíssimos!

Teve uma dupla que foi muito legal. São dois senhores, um que mora no último andar, outro no penúltimo, em apartamentos que ficavam exatamente acima do nosso. Eles eram sempre muito simpáticos. Teve até um dia em cada um deles deu uma bola de futebol para o Felipe. O do último andar, em particular, era quem me mantinha em dia sobre as fofocas do prédio (é... no primeiro mundo a fofoca entre vizinhos também corre solta), sempre que a gente se encontrava na escada ele tinha uma historinha de alguém pra contar... Pois bem. Eles foram os que pareceram mais penalizados com a nossa partida. Quando eles nos viram carregando o caminhãozinho disseram: "Não! Vocês vão se mudar? Assim sem avisar?" E daí começaram o bate-papo. Dois homenzarrões danados de fortões e o Vidal, coitado, embaixo de uma porta de armário, já meio azul e nem uma palavrinha do tipo "Tá muito pesado isso aí?". Bem, mas o mais legal foi que eles viraram pra mim uma hora e disseram: "Que pena que vocês vão sair daqui! A gente não vai mais sentir o cheiro bom da sua comida!" Que tal essa! Hein, hein? Eles quase tiveram de sair pulando pra me pegar porque nesse dia ventava muito e eu praticamente saí voando de tão inchada! Eu tô falando pra vocês, não tô? Pensei até em desistir da mudança depois dessa, mas achei que não valia a pena. Principalmente porque... Não! Acho que não... Será? É que... Não!!! Não tem nada a ver... Ou será que... Bem, vou contar só pra vocês... É que a gente mudou no sábado, né? Então, era sábado e também era... primeiro de abril... Será que eles disseram isso... Não!!! Acho que não! Eles pareciam bem sinceros! Era verdade sim! E o Vidal estava do lado de testemunha! E eles nem colaram um peixinho de papel nas minhas costas (é assim que eles comemoram o primeiro de abril por aqui: colam um peixinho de papel nas costas uns dos outros). Era sincero, tenho certeza!

Vocês podem estar aí se perguntando: "Mas será que não existem empresas de mudança na Europa?" Claro que existem! Só que elas são reservadas pra quem tem salário em Euro, o que não é o nosso caso! Pra gente a solução é fazer justiça com as próprias mãos mesmo. E com todas as bondosas mãos alheias que se oferecerem, mesmo que de leve, a nos ajudar! Além das ajudas pra carregar, ainda temos de agradecer a Mariana (esposa do Jorge) que ficou me ajudando a encaixotar as coisas em casa, a Kim que ficou com o Felipe e a Nadine que ficou com a Ana Luíza. Sem todos esses anjos da guarda as coisas teriam sido muito mais difíceis!

Bem, foram três ou quatro viagens de caminhãozinho até trazer tudo de lá pra cá. E eu fiquei me perguntando... Como é que a gente consegue juntar tanto bagulho em tão pouco tempo?!!! Que loucura!!! Depois que terminamos tudo o Jorge e a Mariana nos convidaram pra comer uma pizza na casa deles porque na nossa casa nova não dava nem pra entrar direito e na velha não tinha onde sentar! Tem fotos, é claro, vou colocar tudo no Flickr em seguida. (Só não tem fotos ainda da casa arrumada...)

Depois da pizza voltamos pra casa. Nova! Não dava nem pra curtir tamanha era a zona e o desespero de pensar em botar tudo aquilo em ordem! Felipe e Ana Luíza já chegaram dormindo. O Vidal ficou no carro enquanto eu subi e arranjei um espacinho pra esticar o colchão do Felipe e armar o berço da Ana Luíza. Já eram umas dez da noite, e embora aquele sábado tivesse sido pesado como vocês podem imaginar (pega caminhão, carrega na loja as coisas que tivemos de comprar, carrega o caminhão quatro vezes, encaixota as coisas, descarrega caminhão, e, pra ajudar, era dia de carnaval na escola do Felipe, nem pensar em faltar!!!) ainda chegamos e montamos os armários do nosso quarto, a nossa cama, e praticamente montamos um armário da sala. Tinha confete pra todo canto, mas nosso clima não era de muita festa não! As olheiras que o digam! Enfim, era uma e meia da manhã mais ou menos quando achei forças e o telefone embaixo de umas cinquenta caixas e consegui ligar para o Brasil: "Mamãe: mudei!"

Os dias seguintes foram gastos totalmente em colocar as coisas em ordem: montar tudo o que estava desmontado, guardar tudo o que estava encaixotado, trazer o resto das coisas que tinham ficado ainda no outro apartamento... Comida? Só na quarta-feira à noite porque não tínhamos o tubo pra ligar o gás no fogão. Assim mesmo, foi uma gororoba horrorosa que, se não chegou a ser salada temperada com detergente como quando chegamos aqui, também ficou a anos-luz de distância dos meus quitutes atuais. Tudo bem, na quinta-feira na hora do almoço eu já me redimi!

Nesse momento as coisas estão quase normais: ainda tem um armário que precisa ser organizado, eu ainda não consegui fazer o faxinão que gostaria nesse apartamento novo, nem o faxinão de saída do outro. A gente ainda tem um tempo pra entregar as chaves e fazer a vistoria de entrega. Antes disso ainda vamos ter de recolocar o papel de parede que foi arrancado por lá. Olha, a nossa experiência aqui em trabalhos de marceneiro, pedreiro, eletricista, etc. ainda vai dar uma boa história!

Enfim, estamos bem instalados e eu não me canso de olhar pra essas paredes lisinhas, sem uma florzinha sequer! Um verdadeiro sonho! É verdade que voltamos às eras da cortininha de plástico e que tem uma banheira que estava um HORROR de tão imunda, mas agora que eu já fiz minha limpeza básica de chegada, ela faz a festa dos meus dois peixinhos que se divertem um monte na tal banheira. Com cortininha de plástico e tudo o mais! Sem contar os DOIS quartos!!! Essa é a melhor parte! E tem mais: agora conseguimos nos sentar à mesa pra comer colocando pratos, copos, garrafa de suco E panelas na mesa! Antes isso era impossível! Na mesa que nós tínhamos mal cabiam os quatro pratos com quatro copos e só! A garrafa de suco geralmente ia parar no chão! A antiga mesa virou mesa de televisão e a nova pode ser aumentada e chegar até DOIS METROS! Acreditam? Alguém aí me manda um beliscão, nem que seja virtual, porque que acho que tô sonhando!

Bem, não posso deixar de terminar esse post de boas novas com mais boas notícias! Sim! Uma overdose delas!

Vocês lembram que estávamos esperando duas respostas de artigos para o dia primeiro de abril? Tchan, tchan, tchan, tchan... Os DOIS foram aceitos!!! E tem mais! Em um deles, o artigo do Vidal foi eleito o melhor da conferência! Ainda bem que a gente tinha que fazer a mudança naquele dia, assim as caixas e as portas de armário nos seguravam no chão, porque a tendência seria sair voando mesmo! Enfim todas as muitas horas de trabalho, suor, suspiros, lágrimas e ranger de dentes, além de muita oração daqui e daí estão dando os seus frutos! Eu sabia que ia ser assim!

Vou ver se eu consigo publicar as fotos agora...

Pra acabar, como nem tudo podia ser notícia boa, vai um pedido de torcida... Vocês sabem que a gente vai pro Brasil em julho. As passagens já estão compradas. Só que, isso mesmo, são da Varig!!!! Sentiram o nosso drama? Vamos ficar nessa corda bamba até irmos e voltarmos... Por isso a torcida! A gente quer ir pro Brasil em julho!!!

PS.: Como estamos de casa nova, carro novo, sala nova pro Vidal na universidade, resolvi dar uma cara nova pra esse blog também! Espero que vocês tenham gostado!

terça-feira, março 28, 2006

Gente! Mudamos nesse fim de semana!
Já mandamos desligar telefone, internet, tudo!
Espero em 10 dias estarmos de volta ao mundo virtual!
Tchau!

quinta-feira, março 23, 2006

Março não pode passar em branco! Aí vão as novidades:

Nossa mudança está praticamente confirmada para o dia 7 de abril. Nem acredito!!! Mas o que eu realmente não acredito ainda é que o outro apartamento tem todas as paredes BRANCAS!!! Fim dos papéis de parede! Não é um sonho? Mas como esses bandidos não poderiam deixar de me incomodar até o fim, estamos aqui enrolados com eles. Exatamente neste momento o Vidal está ali, formão em punho, arrancando pedacinhos milimétricos de papel da parede. Hoje já teve a vez do Felipe, a minha, agora é o Vidal... Vamos ter de arrancar o papel de uma das paredes, colocar um outro porque esse estava devidamente "decorado" pelas crianças e o próximo morador, por mais legal que seja, não vai querer saber desse tipo de arte moderna!

Agora mesmo eu estava ali arrancando o papel (com o maior prazer, diga-se de passagem) e pensando "Que injustiça! Fiquei dois anos e meio convivendo com essa coisa horrorosa na parede e justo na hora de sair vou trocar..." Na verdade não é bem trocar, o morador anterior deixou uns restos de papel lá na cave e esperamos que ele vá ser suficiente. Se não for, vamos comprar alguma coisa que "orne" com o que já está ao lado e assim vão ser sete papéis diferentes! Um a mais, um a menos... Ninguém vai nem notar!

Segunda notícia: mudamos de carro. Na verdade, tivemos um pequeno acidente há um mês e meio e ficaria mais caro consertar do que pagar o valor do carro e foi isso que a seguradora decidiu. O carro anterior era "economicamente irreparável" para usar as palavras deles. Uma outra forma de dizer perda total. Mas calma! Essa expressão perda total aí no Brasil tem um peso muito maior do que aqui. Vou explicar.

Aqui eles não mandam o carro pra um martelinho de ouro, não. O que eles fazem é trocar todas as peças que foram danificadas. No nosso caso o acidente foi bobinho, mas estragou na frente, atrás e do lado do motorista. Como o carro antigo era BEM antigo, trocar essas coisas ia acabar custando mais do que o preço do próprio carro. Vou contar de uma vez como foi esse acidente pra ninguém ficar preocupado!

Estávamos indo à casa de uns amigos num sábado à noite. No meio do caminho chegamos a ele, o famigerado e onipresente, engarrafamento. Tudo por conta dessa nova linha de ônibus! O Vidal foi chegando perto da fila de carros parados, diminuindo totalmente, praticamente parando mesmo e eu lembro de estar pensando com os meus botões "mas até num sábado à noite esse trânsito é um horror?" Acho que não deu nem tempo de terminar o pensamento quando sentimos a batida atrás. O que fez nosso carro bater no carro da frente. Isso mesmo! Um engavetamento, com a gente no meio. Demorou uns segundos até entendermos bem o que tinha acontecido, olhar pra trás e ver se as crianças estavam bem e, tanto o acidente foi bobinho, que o que de mais grave aconteceu foi que eu tomei um banho de creme! Explico.

Eu tinha feito uma sobremesa chamada Saia e Blusa pra levar na casa dos nossos amigos e estava segurando a travessa na hora da batida. Pois bem. A sobremesa deveria estar congelada, mas como eu deixei pra fazer na última hora, o creme de cima (suspiro misturado com creme de leite) ainda estava bem líquido. Resultado? Creme no painel, no chão, na minha mão e, o pior, creme na minha calça jeans! Calça essa que eu estava usando pela primeira vez! E que a minha mãe tinha me mandado pelo correio do Brasil! Fala sério! Que perseguição!!!

O Vidal desceu do carro pra ver o tamanho do estrago e eu ali melada, já sentindo o gelo nas pernas porque o creme não estava congelado como deveria, mas estava gelado como eu não queria! E eu não podia me mexer, tirar o sinto sair dali. Lembrei que eu tinha deixado uma sacola cheia de roupas pra dar no porta-malas e numa das vezes que o Vidal veio até dentro do carro eu pedi que ele pegasse qualquer coisa lá dentro pra eu poder limpar pelo menos um pouco. Quebrou um galho a camiseta do Felipe, mas foram uns 40 minutos na mesma posição, travessa em punho, até que todos os documentos fossem preenchidos todas as verificações fossem feitas... E aquele creme gelado grudando em tudo! E a minha calça novinha... buáááááá

Bem, já passou. Já compramos um outro carro e tudo está normal novamente. Mas a compra desse carro... Vai ficar pra um outro post!

Quanto aos artigos do Vidal, estamos esperando quatro respostas, com mais duas ou três submissões possíveis para os próximos meses. Vou contar pra vocês que doutorado é pior que gravidez: a gente espera, espera, espera... Antes mesmo de ter uma resposta já manda outro e começa a esperar... Mais ou menos como ficar novamente grávida antes de ter nascido a primeira criança. Uma loucura! É uma espera sem fim, um verdadeiro teste de paciência. Acho que Buda teria se dado bem num doutorado... Ele tinha um jeitão de calmo, não tinha? Tirando ele, deixa eu ver... talvez Gandhi. E é só! O resto da galera do mundo, é preparar os cotocos das unhas e um banquinho bem confortável!

As duas primeiras respostas já são para o dia 1º de abril e é verdade isso! Só espero que eles não mandem uma resposta assim "Temos o prazer de informar que seu artigo foi aceito" para logo em seguida mandar outra dizendo "Brincadeirinha! HAHAHA, primeiro de abril!" Não vai ter graça nenhuma!

Puxa! Queria contar pra vocês coisas das crianças... Mas já passa de meia noite e eu preciso esticar o esqueleto cansado de tanto arrancar papel da parede.

To escrevendo pouco, eu sei. Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Shlept! (são as chibatadas que eu mesma me dou). E sinto que vai ser assim mesmo... Não me levem a mal, mas estou aproveitando os últimos momentos nessa vida boa de lavar, juntar brinquedo, passar, juntar brinquedo, cozinhar, juntar brinquedo, limpar criança, juntar brinquedo e quando não estou juntando brinquedos, estou cultivando minhas mãos! Estou fazendo a coisa que eu mais adoro que são trabalhos manuais.

Eu já contei pra vocês que virei mulher rendeira? Pois é. Vou poder ensinar todo mundo a fazer renda por aí e dispenso as aulas de namoro porque essa parte também já aprendi, obrigada! Faço duas técnicas diferentes, vou mostrar fotos dos trabalhos quando publicar a já tradicional (embora tenha acontecido só uma vez) página com as fotos dos meus trabalhos de 2005/2006. Além da renda eu faço arte floral. É o máximo! A gente passar duas horas arrumando as flores e as folhas no vaso a fim de que elas pareçam que foram juntadas de qualquer jeito! Que injustiça a minha! Tem uns buquês bem elaborados, vocês vão ver. E claro, além de tudo isso, ainda tem o amado e idolatrado patchwork que eu não abandono nunca, e minhas incursões culinárias que avançam a passos largos! E toma tempo a tal da cozinha, viu? Principalmente pra lavar a louça depois! Oh vida!

Podem brigar comigo! Eu aceito! Mas estou pensando no futuro. Nenhuma vidente no mundo é capaz de me dizer o que eu vou fazer quando voltarmos... E se eu ficar desempregada? Alguém aí precisa de cozinheira? Tô me candidatando.

Tchau!

PS.: o Blogger estava fora do ar quando fui publicar o post. Só vou poder fazer isso amanhã de manhã! Tem alguém aí não querendo que eu escreva! Fui!

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

No dia em que me aconteceu toda aquela correria do trem eu fiquei pensando que vocês ficam aí torcendo pra acontecerem essas coisas esquisitas conosco só pra eu ter histórias pra contar! Que injustiça eu fui fazer com meus queridos leitores! Acho que foi pra compensar aquelas correrias, mas um tempo depois eu tive um dia... Preciso contar pra vocês!

Era uma sexta-feira, véspera das férias de Natal e eu tinha de ir ao centro de Nantes pra comprar um presente de aniversário para um amigo e uma lembrancinha para a babá da Ana Luíza.

Depois de deixar o Felipe na escola, peguei o caminho do centro imaginando o engarrafamento monstruoso que eu ia enfrentar: sexta-feira, véspera de férias, aiiiiiii, eu ia demorar no mínimo uns 50 minutos pra chegar perto do centro. Até me arrependi amargamente de não ter pegado um travesseirinho pra cochilar nos intervalos entre uma parada e uma andada! Esse horário das nove da manhã é o pior de todos porque é justamente o momento em que todo mundo está INDO pra Nantes. Depois só fica ruim assim lá pelas quatro da tarde, no sentido inverso, quando todo mundo está VOLTANDO. Mas depois do que tinha acontecido uns dias antes eu nem cogitei a possibilidade de ir de trem! Preferi encarar o engarrafamento.

Só que, para o meu mais profundo espanto, em exatos 12 minutos eu cheguei ao centro! Nada de engarrafamentos, trânsito super fluido, nem acreditei! Na mesma hora eu imaginei: “É claro! Já está todo mundo lá, só vou achar vaga no último buraco do sétimo andar inferior do estacionamento, vaga essa que eu vou disputar a tapas e depois vou ter de me acotovelar com a horda de pessoas desesperadas nas ruas fazendo as últimas compras de Natal! Tudo bem. Vou suportar!”

Entrei no estacionamento preparada pra descer a rampa em espiral até o fundo (sete andares pra baixo da terra, não gosto nem de pensar muito), só que, nem bem saí do primeiro nível e tinha dezenas de vagas me aguardando! De frente pra entrada sem precisar nem manobrar. Será que eu tinha mesmo levantado e saído da cama? Será que não era um sonho?

Fui andando pela rua. Temperatura amena para um início de inverno, tinha até uns tímidos raios de sol que apareciam de vez em quando nas ruas inacreditavelmente vazias!

Para o nosso amigo Antoine eu tinha imaginado comprar um livro. Vocês sabem, nosso orçamento aqui é gordo como um faquir de dieta, e o que eu quero comprar geralmente custa mais do que tinha previsto, por isso faço muita pesquisa antes de gastar nossos parcos Euros. Naquele dia não foi diferente: tive de fazer muita pesquisa e visitar várias livrarias porque o livro que eu queria dar pra ele era barato DEMAIS! Ficaria até chato! Meu problema foi achar um outro livro pra completar o presente. Não podia ser verdade...

Comprei dois livros e, vocês não vão acreditar, fui tomar o tão famoso café! Aquele que naufragou na tempestade no dia do meu aniversário. Dessa vez achei um café, com mesinhas na calçada que os proprietários tiveram a brilhante idéia de cercar com uma armação de plástico e de colocar aquecimento! Enfim realizei meu sonho de café-na-mesinha-na-calçada-com-livro! Com livro, sem vento, sem chuva. E o café estava bom.

Ainda faltava o presente da babá. Achei uma coisa super legal e exatamente do preço que eu pensava em gastar. Eu realmente estava ficando cada vez mais impressionada!

Já no fim do dia, fui ao mercado. Logo na entrada tinha uma máquina pra gente passar um cartão e ser sorteado com vales-compra. Parei na frente da máquina com meu cartão na mão e revivi todo o dia: nada de engarrafamento, estacionamento vazio, presentes baratos (e bons!), café sem chuva... Achei que aquele era o dia. Eu NUNCA ganho nada em sorteio, a não ser, é claro, quando eu NÃO quero o prêmio.

Parênteses. Uma vez comprei uma rifa de um colega, só pra ajudar. Rifa de um caiaque. O que eu ia fazer com um caiaque? Como eu nunca ganho mesmo, comprei a rifa e... ganhei o caiaque! Demorei um ano pra me desfazer daquela coisa! Fecha parênteses.

Como aquele parecia ser o dia da sorte (se alguém aí leu o último livro do Harry Potter vai me entender: parecia que eu tinha tomado a poção Felix Felicis!) resolvi arriscar. Passei o cartão. Fiquei olhando pra maquininha. Luzinhas piscando. Som de tambores sintetizados... Trrrrrrrrrrrrrrr... Parabéns! Você acaba de ganhar um cupom de 5 Euros! Se nem vocês estão acreditando no que eu estou contando, imaginem eu!

Realmente era um espanto! Terminei as compras e estava indo pro carro quando passei em frente a uma banca de jornais onde se vendem também tickets de loteria. Como as raspadinhas. Pensei: “Se tem um dia em que eu posso ganhar, esse dia é hoje.” Comprei uma raspadinha, enfiei no bolso e fui pra casa.

Guardei todas as compras, sentei à mesa da cozinha e peguei o bilhete no bolso. Fiquei olhando pra ele. Prêmio máximo: 1 milhão de Euros. Evidentemente eu nem sonhava com tanto, mas, quem sabe um premiozinho menor, né? Eu olhava pro bilhete, ele olhava pra mim... Enfim, resolvi raspar, afinal já era quase meia-noite e o dia estava acabando, eu não podia vacilar. Peguei a chave do carro e fui raspando, raspando... Tinha que dar três vezes o mesmo número pra ganhar aquele valor. O primeiro que apareceu foi 1000. O segundo, mil também! O terceiro... 100...

Também já seria querer muito, né? Era sorte demais pra um dia só... Não adianta! Eu e o Vidal só ganhamos dinheiro trabalhando mesmo. Pelo menos eu tenho uma história sem atropelos pra contar pra vocês! Gostaram? Ou será que vocês ficam MESMO torcendo pelos nossos micos! Hein?!

terça-feira, janeiro 31, 2006

Adeus Ano Velho!
Feliz Ano Novo!!!


Ahnn? O que? Ah! Não é 31 de dezembro?! Já é 31 de janeiro?!!!!!! Mas que coisa! E eu nem percebi...

Falando sério e numa linguagem bem didática além de super científica: o bicho tá pegando por aqui! Nada de grave, mas com certeza algum engraçadinho andou roubando horas dos dias, não é possível! Como fiquei quase dois meses sem dar notícia, vou compensar dando várias delas hoje...

O fim de ano foi bem... Minha mãe veio ficar um mês conosco e nós fomos até o leste da França. A idéia foi minha. Eu disse pro Vidal: “Já que vamos estar por aqui mesmo, então eu quero ter um Natal como a gente vê em decoração de shopping. Neve pra tudo que é lado.” A cidade escolhida foi Strasbourg e realmente a gente se sente dentro de um presépio. O problema foi, justamente, a tão famosa e desejada neve...

Um estrangeiro que vai pro Brasil e tenta sambar é ridículo, não é? Então porque é que a gente acha que pode enfrentar a neve tendo vivido a vida toda longe dela? Fica igualmente ridículo, posso garantir pra vocês. Pelo menos a gente não tentou esquiar, aí sim o mico seria geral! Um dia (se o Paulo e a Lígia me permitirem) eu vou contar nossa experiência nesse tipo de esporte, mas vai ser em outra ocasião.

Nos dois primeiros dias não tinha nada de neve, mas, pra compensar, nos dias seguintes nevou um monte como não acontecia há vários anos! Antes de sair a gente se informou com os “nativos” pra saber se precisaria de algum equipamento especial de neve e o que ouvimos como resposta foi: “Não, imagina... Vocês vão passar só por auto-estradas e cidades grandes. Esse tipo de pista é preparada pra não acumular, não precisa nada de especial, não.” Juro que não pensamos coisas muito gentis sobre o pessoal que nos disse isso quando estávamos em plena tempestade de neve, no meio de uma auto-estrada, vendo os carros saírem da pista na nossa frente, levando uma hora e meia pra andar 50Km. Se existe o record de pais nossos e aves marias por segundo, eu bati! Mas no fim, tudo acabou bem e isso é que é importante!

Depois de Strasbourg nós fomos até Helmstedt na Alemanha. Essa foi realmente uma das coisas mais legais que já me aconteceram e que eu jamais poderia imaginar! Graças ao Orkut, uma amiga do colégio, chamada Alessandra, me encontrou nessas quebradas cibernéticas da vida. Foi no início do ano passado. E-mail vai, e-mail vem, ficamos sabendo que éramos “vizinhas”. Ela está casada, tem dois filhos e mora na Alemanha (o marido é alemão). Como já tínhamos programado ir até Strasbourg no Natal, eu achei que não custaria nada dar um “pulinho” de 600Km pra ir até a casa dela. Fazia 20 anos que a gente não se via! Foi realmente um momento MUITO legal!

Não dá pra descrever o quão bem eles nos receberam! E até que conseguimos nos comunicar, mesmo com a barreira da língua. O Pucky, marido da Alessandra, não fala português... ainda (Sei que um dia ele vai aprender ;-)). O Phillip (olha a coincidência dos nomes dos nossos pimpolhos!), o filho mais velho deles, compreende alguma coisa e fala algumas palavras. E a Giuliana, a filha mais nova, fala português o suficiente pra gente se comunicar. Fiquei sabendo que o nome dela foi escolhido em minha homenagem e vocês não podem imaginar o quanto fiquei emocionada com isso! Ela e o Felipe já se deram bem de cara e brincaram muito! Os dois têm 20 dias de diferença de idade. E o Felipe ficou extremamente impressionado com o Phillip, com as várias medalhas de natação que ele tem no quarto, com o quanto ele é aplicado nos estudos... Posso dizer que o Phillip virou o ídolo do Felipe! De minha parte, decidi aprender alguma coisa de alemão. Nem que sejam algumas palavrinhas... Quando eles vierem nos retribuir a visita quero poder trocar algumas frases sem (muita) mímica com o Pucky! Realmente, foram dias muito legais que vão ficar pra sempre na memória e no coração.

Na volta pra França, mais neve. MUITO MAIS neve! Chegamos a Nancy e a cidade inteira tinha virado pista de patinação no gelo. Sem exagero nenhum não tinha nenhum pedaço de asfalto descoberto. Era tudo com uma grossa camada de neve por cima e pra achar o endereço do hotel, depois de 11 horas de viagem, não foi nadinha divertido. A temperatura naquele momento era de agradáveis onze graus! Abaixo de zero! No hotel nos desaconselharam colocar o carro no estacionamento, já que pra entrar era uma rampa e, vocês sabem, pra baixo, todo santo ajuda. Mas pra cima. Acho que nem São Pedro, que naquele momento devia estar se vendo louco com nossos próprios pedidos de “Tá bom! Ta bom! Chega de neve!!!”. O importante é que, mais uma vez, chegamos sãos, salvos e congelados. Detalhe. Tudo bem.

Último dia de viagem, já na volta pra casa, chegamos a Rouen. Era 31 de dezembro, dia de ano novo e é claro que a gente não esperava saravá na beira da praia, principalmente porque a cidade não fica à beira mar. Mas nunca podíamos imaginar o tipo de Ano Novo que teríamos...

Tivemos uma sorte danada de achar um restaurante aberto perto do hotel, com um pessoal super simpático pra atender e uma comida muito gostosa. Obviamente não foi uma ceia de ano novo com lombo recheado, farofa e muita fruta tropical, mas quebrou um bom galho a nossa comidinha chinesa...

Daí, próximo de meia-noite, fomos ao centro da cidade procurar a queima de fogos. Ano novo sempre tem queima de fogos, né? Até em Quixeramobim do Oeste deve ter queima de fogos no ano novo, porque em Rouen não teria? Demos uma olhada nas margens do rio, mas não vimos nada. Fomos até o centro da cidade e estacionamos o carro do lado da catedral, que é famosa e realmente impressionante. Iluminada à noite é ainda mais bonita do que de dia, só que, nada! Descemos pra andar ali pelas imediações. Chegamos à praça em frente à catedral e vimos um grupo de pessoas tocando uma música bem animada. Ah bom! Então ia ser ali.

Não tinha muita gente além dos músicos. Algumas pessoas, nós inclusive, começaram a se aproximar. Deu pra notar que os músicos se juntaram meio por acaso, ou seja, não era nada preparado pela prefeitura da cidade, por exemplo. Quem chegou por ali, mais uma vez, nós inclusive, também veio meio perdido, meio sem rumo. Algumas garrafas de vinho que passavam aqui e ali mostravam que a alegria da moçada era meio inspirada por Baco. E o tempo foi passando, passando... A Ana Luíza não quis nem saber: caiu na gandaia ali mesmo. Dançou a valer. Só que o tempo passava, e já estávamos perto da meia noite, quando então...

10... 9... 8... 7... 6... 5... 4... 3... 2... 1... e... NADA!

Ouvimos uns três buscapés que alguém soltou de uma janela, e SÓ! Pode até ser que não tenha sido nem um buscapé mesmo, mas alguém com um ataque súbito de flatulência, mas não quero nem pensar nessa hipótese. Se teve queima de fogos na cidade, foi silenciosa e escura. Talvez seja alguma técnica moderna, sei lá. Mas os chineses inventaram há pólvora há milhares de anos e eu sempre ouvi dizer que não se mexe em time que está ganhando. Até pode ser que fogos silenciosos e escuros sejam mais modernos, né? Vai saber! O que eu sei é que esse foi o ano novo mais estranho que eu já passei na minha vida!

Andamos ainda um pouco pelo centro, meio inconformados, para enfim nos resignarmos e voltarmos ao hotel. Adeus 2005, bem vindo 2006!

2006 começa cheio de novidades! A primeira delas: vamos para o Brasil em julho!!!

Tudo bem, sei que a grande maioria dos nossos quatro leitores deve estar se dizendo: “Mas que novidade é essa?! A gente sempre soube que eles voltariam em julho de 2006!”. A novidade, moçada, é que a gente vai... mas volta! É isso mesmo. Vamos dar uma espichada na nossa aventura francesa. Até quando? Bem, eu só vou poder responder a essa pergunta quando estivermos dentro do avião de volta... Até dezembro de 2006, com certeza ficamos por aqui. Mas existe a possibilidade de termos de ficar até junho de 2007. Isso quer dizer que a data da nossa volta definitiva ao Brasil é um mistério tão grande quanto o terceiro segredo de Fátima, que é tão secreto que eu ouvi dizer que foi revelado, mas até hoje eu não sei do que se trata!

Por conta dessa prorrogação com gol de ouro, decidimos de uma vez por todas mudar de apartamento. Um quarto só, com a Ana Luíza crescendo, não dá mais. Só que uma mudança pra gente não é uma coisa assim tão simples... Envolve buscas, avalistas, propostas, documentos, papéis, enfim, uma função! Depois de três semanas de altos e baixos tivemos hoje a resposta de que os proprietários dos dois apartamentos pelos quais nos interessamos aceitaram a nossa proposta de pagar um ano de aluguel adiantado e, assim, não precisar de avalista. Agora é a nossa vez de decidir.

Portanto, galera, o hotel Martins está ampliando instalações e prorrogando o prazo de atividade. Quem se animar, ainda está em tempo de vir experimentar as minhas inigualáveis e modestas galettes! A mudança deve acontecer durante o mês de março, mas ainda não sabemos bem ao certo.

Vou contar uma coisa pra vocês. Eu sou uma pessoa que precisa da segurança do planejamento, preciso saber o que, quando, como e onde as coisas vão acontecer pra ficar tranqüila. Então vocês podem ter uma idéia do meu estado atual: vamos ficar mais, mas não sabemos até quando; vamos nos mudar, mas não sabemos exatamente pra onde nem em que dia. Das duas uma: ou eu me acostumo com o imprevisto, ou enlouqueço de vez! Vou tentar a primeira opção, vamos ver no que vai dar... Qualquer coisa vocês vão preparando uma camisa de força em patchwork pra mim pra quando a gente voltar...

E ainda tem mais!!! A parte boa ficou para o fim...

Nem sei mais em que pé estava a contagem das publicações do Vidal, acho que estávamos em duas, não é? Pois bem, nos últimos meses, Tam Tam Tam (ouviram a musiquinha do Senna?) a coisa deu uma acelerada e agora ele está com CINCO publicações! Legal, né? Fiquei acumulando pra contar tudo de uma vez! As rezas por aí estão dando resultado! Muito obrigada! Em compensação a nossa pança por aqui está só aumentando porque com tantas brigadeiradas a coisa já está começando a ficar feia! Acho que vamos ter de mudar de comemoração...

Essa quantidade de publicações quer dizer que o trabalho está bem encaminhado, mas, infelizmente, não quer dizer que já está no papo. Não! Com a gente nada é simples, quanto mais complicado melhor. Por isso, não vou nem tentar explicar como é que funciona um doutorado porque é necessário já ser doutor pra conseguir entender essa loucura! Só vou dizer por enquanto que as coisas estão no rumo e que tudo vai bem!

Bem, por hoje era isso. Foi bastante, né?

Estou com muitas histórias na cabeça, esperando o momento de saírem de lá e pularem para a tela do meu micro. Mas o tempo... ah, o malvado tempo... Quero fazer um esforço pra escrevê-las ainda antes da mudança. Não vou prometer nada, porque já cansei de fazer promessas nesse blog e não cumprir! Andei relendo coisas passadas e fiquei com vergonha de mim mesma. Quase me filiei a um partido político pra me sentir mais entre iguais (na turma dos que prometem e nunca cumprem...). Só estou tranqüila porque sei que na França não tem PROCON e eu, por enquanto, estou livre de processos por propaganda enganosa. Como eu disse agora há pouco, eu amo a rotina, mas minha rotina por aqui tem sido a completa falta dela... Vai ver que eu estava mesmo precisando de mais essa aprendizagem na minha vida...

Assim que eu fizer o post (é o termo “técnico” pra essas coisinhas que eu escrevo por aqui nesse blog), vou atualizar as fotos, incluindo as fotos da viagem. Prometo!

Ih! Esqueci e fiz de novo!

Fui!