terça-feira, fevereiro 24, 2004

"Alá la ô ô ô ô ô ô ô
Mas que friô ô ô ô ô ô ô..."

É, porque, calor mesmo, só pra vocês aí. A gente aqui continua congelando a pontinha do nariz quando sai de casa (é a única coisa que fica de fora)! Hoje de manhã tínhamos a agradável temperatura de zero grau. Pelo menos comecei a observar algumas florezinhas mais animadas que, apesar do frio, já estão mandando sinais de que a primavera está a caminho!!!

Ontem foi domingo de carnaval e é a primeira vez desde que eu me entendo por gente que não vou ver o desfile das escolas de samba pela televisão!!! Me deu um vazio... Isso fazia parte da minha vida!

Estou pensando em organizar um carnaval particular aqui mesmo pra não passar em branco, que tal? Quer dizer, acho melhor não... Sei lá, os vizinhos podem achar esquisito ver o Vidal vestido de baiana e eu de fio dental cantando "Mamãe eu quero" na sacada. Pode não pegar bem, né? Deixa pra lá.

Hoje vou contar uma história jóia apesar de saber que está todo mundo despencado na folia e que ninguém está nem aí pra computadores...

No início do mês aconteceu um negócio bem legal: o Vidal foi paraninfo de uma turma do curso de Ciência da Computação da PUC. E fez o discurso ele mesmo! Calma! Ele não fez a sacanagem de ir até o Brasil e não dar a chance de vocês fazerem um churrasquinho pra ele (ai que saudade...). Foi um discurso virtual!

Ser homenageado por uma turma é uma coisa muito importante para a gente que é professor. Ainda mais quando a homenagem é a de paraninfo. Significa o reconhecimento máximo do trabalho. Para o Vidal, era super importante poder fazer o discurso na formatura dessa turma, com quem ele se identificou bastante. Mas, como não está dando pra dar uma chegadinha no Brasil, então o jeito foi apelar pra maravilhosa Internet.

Era para ter sido ainda mais legal. A idéia original era ele ter feito o discurso ao vivo mesmo, pelo Messenger. Mas dificuldades técnicas lá na PUC fizeram com que essa idéia não desse certo. O que ele fez foi o seguinte: gravou o discurso com sua própria voz e mandou o arquivo com essa gravação para um dos formandos. A gravação foi, então, executada na hora da formatura. Para que os convidados pudessem ter um lugar para olhar enquanto ouviam aquela voz descarnada, ele mandou também uma foto que foi projetada no telão com os seguintes dizeres: "Professor Vidal Martins. Direto de Nantes, França, via Internet". Ai que chique! Fiquei super orgulhosa, vocês não?

Para fazer o discurso foi fácil. Ele escreveu, eu achei um programinha na Internet pra fazer a gravação, fizemos alguns testes, ele gravou e tudo correu bem.

Depois do discurso gravado, nos preparamos para a imagem. E foi aí, de máquina em punho, que surgiu a dúvida: "onde vamos fazer essa foto?" Só pra lembrar, já contei que nosso apartamento não sofre do mal de tédio visual nas paredes, né? Cada cômodo, um papel de parede diferente. Um bom gosto digno de um Falcão. O cantor, não o ex-jogador de futebol. Pois bem, paramos para analisar a situação e vimos que nossas opções de fundo para a foto eram:

- ramo de flores marrons, com toques de prateado, na sala;
- ramos de palmeira verdes em fundo rosa (olha a Mangueira aí gente!) na entrada;
- singelos ramos de flores azuis turquesa no quarto;
- uma composição de maçãs, bules, pratinhos e folhinhas multicores na cozinha.

Não dava pra encarar nenhum desses. Para cada lado que a gente apontava a máquina parecia que a situação era pior. Aí eu lembrei: "No banheiro o fundo é liso". Na verdade, é salmão. Quase laranjado. Mas é liso! Descartamos a idéia. Foto no banheiro não dá, né? Os alunos não mereciam isso.

Cheguei até a pensar em falar pro Vidal deitar no chão pra eu tirar a foto de cima pra baixo. Mas o piso está todo manchado... Não ia ficar bom. Nem mencionei a hipótese.

Foi aí que eu tive a idéia: "Já sei! Vamos tirar a foto na frente da estante de livros". Claro, era perfeito. Professor, paraninfo, fazendo doutorado na França. Nada mais apropriado do que isso.

O Vidal parou na frente da estante. Eu cheguei o mais perto possível pra escapar da mesa de passar roupa que está encostada nela e fiz a foto. Baixamos a dita cuja no micro pra ver o resultado. Aí o Vidal falou: "Puxa! Como eu engordei. Olha só esse papo!" Eu, como sei bem o que é isso, já emendei em seguida: "Nada disso! Isso é a posição que você ficou. Comigo acontece sempre. Tanto que eu já até desenvolvi uma técnica pra evitar a papada nas fotos. Você faz assim, ó: estica bem o pescoço pra frente, como se fosse uma tartaruga. Aí fica perfeito!". Ele olhou pra mim meio desconfiado e não disse nada. Enquanto eu desconectava a máquina do micro pra fazer outra foto ele foi até o banheiro pentear o cabelo (que tinha sido recém-cortado por aquele sujeito...).

Quando ele voltou eu disse: "Você demorou!", e ele "Estava na frente do espelho treinando a posição...".

Foram umas duas tentativas até a gente conseguir uma foto em que ele não estivesse realmente parecendo uma tartaruga. Mas, deu certo! Olha o resultado aí:


Super respeitável. Todo o jeitão de "professor-estudando-na-França".

Só que, quando eu baixei a foto no micro, me toquei: "Ih, Vidal! Os livros que aparecem bem atrás de você são quase todos de patchwork! Mas não se preocupe. Só dá pra ver se a imagem for bem grande. Assim pequenininha nem dá pra notar". Nem bem eu tinha acabado de pronunciar essa bobagem nós dois nos olhamos e falamos quase juntos: "Mas a foto vai ser projetada num telão!!!"

Àquela hora já não dava pra fazer muita coisa. Torcemos pra que a resolução do telão na PUC fosse péssima e que não desse pra ler os títulos dos livros ("501 Quilt Blocks", "The Quilters Ultimate Visual Guide", etc.). Eu tentei animar: "Pelo menos os títulos são em inglês, passa um certo ar de respeito... E, olha lá, tem um livro de Java bem grandão embaixo. Ninguém vai nem notar os outros". Mandamos assim mesmo.

Pena que, como vocês podem ver, não deu pra escapar de mostrar um pedacinho do nosso belíssimo papel de parede da sala...

Quem quiser ler o discurso, pode clicar aqui. Também temos disponível o arquivo de som pra quem quiser matar a saudade da voz do Vidal. Basta clicar aqui. Problemas técnicos podem ser resolvidos comigo mesmo. É só me mandar um e-mail.

Pelo que soubemos, correu tudo bem na formatura, os alunos gostaram do discurso. Ah! E ninguém comentou o fundo da foto... Acho que passou despercebido!

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