sexta-feira, agosto 06, 2004

Na próxima vez em que vocês forem tomar um banho, prestem atenção ao ambiente.... Observem os azulejos desde o piso até o teto, em todas as paredes. Entrem no boxe e fechem a porta. Com certeza o lugar onde está o chuveiro fica num canto do banheiro e num nível um pouco mais abaixo do resto do piso. Depois, estiquem os braços, para onde der: para cima, para frente, para os lados... É bastante provável que vocês consigam até mesmo ligar o chuveiro e não ficar embaixo dele, mas ao lado e, ainda assim, dentro do boxe.

Tudo isso parece óbvio? E é! Até que você resolva mudar de país. Daí, tudo o que parece evidente, deixa de ser. Vou explicar. Nossa experiência com banhos aqui tem sido, no mínimo, esquisita. No meu caso em particular, muitas das situações estranhas que vivi tiveram a ver com o fato de eu ter vindo para cá "prenha". Podemos dizer que nossos banhos tiveram, até agora, três fases principais, com alguns eventos isolados bastante pitorescos. Vamos às fases. A primeira delas, no início...

Quando chegamos aqui, como vocês já sabem, ficamos 20 dias num flat. Naquela época eu estava de seis meses passados, o que quer dizer uma barriga já considerável. E o banheiro do hotel tinha a seguinte configuração...

Antes de fazer a descrição, me deixem contar uma coisa: aqui os banheiros sempre serão uma incógnita. O que acontece é que é extremamente comum ficarem separados numa casa o vaso sanitário do local de tomar banho. O mais estranho é que, quando as coisas estão separadas, o lugar que tem o vaso sanitário tem exatamente isto: o vaso sanitário. Nada mais. E pra lavar as mãos depois do "serviço" feito? Aí a gente tem de procurar uma pia em algum outro lugar. Geralmente a da cozinha (!). Esse era o caso do flat em que ficamos. Nosso quarto ficava no último andar do prédio e era um duplex. Na parte de baixo tinha a cozinha, o local do vaso sanitário e uma salinha. Na parte de cima a nossa cama e o chuveiro com a pia. Quando nos mudamos para o apartamento em que moramos agora minha maior felicidade era poder dar exatos 9 passos da cozinha até o banheiro! Antes eu não dava nem um! Saía do banheiro já dentro dela!

Voltando à configuração do banheiro do hotel (a parte de tomar banho). Tínhamos uma plataforma elevada que media 80 x 80 centímetros. Prestem atenção ao detalhe: uma plataforma "elevada". Uns 15 centímetros do chão. Isso quer dizer que para tomar banho a gente "subia" em vez de descer. Não teria nenhum problema se não fosse o fato de que não tinha boxe. Só uma insuportável cortininha de plástico. Qual é o problema disso? Simplesmente, se caísse água fora da plataforma, ou seja, no chão do banheiro, ela não teria para onde escorrer porque não tinha nenhum ralo no local. Quer dizer, estou sendo injusta. Na verdade, nos casos em que o banheiro acabou meio alagado por conta do tipo da torneira, a água teve para onde escorrer: para dentro do quarto! Imaginem que legal que era para dar banho no Felipe...

Bem, vamos continuar a descrição da "plataforma". Disse que ela media uns 80 x 80, mas a gente não tinha todo esse espaço útil, não. Tudo por causa da cortininha. Alguém aí já tomou banho com cortininha de plástico? Quando a água está escorrendo, a dita cuja se sente irresistivelmente atraída pelas pernas de quem está embaixo da água e resolve "colar" nas canelas do pobre coitado que está tentando acabar com as suas próprias cracas. Uma solução possível seria deixar a cortina para fora da plataforma. Mas aí o problema seria outro. Nesse caso a água escorreria pela cortina e cairia toda no chão do banheiro que, isso mesmo, não tinha ralo! Estão sentindo a gravidade da coisa?

Aliás, falando em gravidade, vamos lembrar que eu estava grávida, de barrigão e tudo o mais. Uma área de 80 x 80 mesmo para quem não tem protuberâncias, já não é grande coisa, imaginem na minha situação. Os azulejos comuns de banheiro têm geralmente 15 x 15 centímetros, então contem 7 azulejos e mais um pouquinho na parede do banheiro para terem idéia do que isso significa.

Para coroar tudo isso, a torneira. Eu cheguei até a tirar uma foto dela só para poder contar para vocês como é que a coisa funcionava:


Aquela espécie de maçaneta era o que a gente levantava e que fazia sair a água do chuveiro. Para falar a verdade, nem é um chuveiro... É como se fosse o nosso chuveirinho daí, maior, com mais pressão, que a gente prende num suporte na parede (o cano que aparece na foto é o dessa ducha). Isso é o que existe em 100% dos lugares com ducha por aqui. A coisa funcionava assim: levantava a maçaneta, saía água. Quanto mais erguida, mais forte o jato. Girando a maçaneta para a esquerda, água quente. Girando para a direita, água fria. Ficando no meio, água na temperatura ideal. O sistema é bem legal e bem prático para temperar a água. Mas no caso dessa torneira aí, tinha uns probleminhas que vocês vão conhecer daqui a pouco.

Agora que eu já contei como eram as coisas, vou descrever um banho típico naqueles meus dias de "estado interessante".

Eu abria a torneira e esperava a água esquentar, fora da plataforma, é claro, porque desde que eu estivesse dentro dela, estaria embaixo d’água, necessariamente. Não teria nenhum espaço para chegar mais para o ladinho, passar um sabonete, nada. Aliás, vocês estão vendo algum lugar para colocar o sabonete aí nessa foto? Não tinha. No início, eu tentava equilibrar o sabonete em cima da torneira o que nem sempre dava certo. Além de escorregar, algumas vezes eu acabei esquecendo e colocando o sabonete no lado quente da torneira que ficava "pelando fogo" (como dizia o Felipe)! Então eu tinha de ficar segurando aquele objeto fugidio o tempo todo porque, se ele caísse no chão, lá ficaria! Como é que eu ia conseguir me abaixar com o barrigão, a água caindo (isso eu não podia reclamar, era um jato super forte mesmo com a torneira a meia altura) e, o pior, a cortininha tentando de todo jeito ficar colada nas minhas pernas? Nem pensar!

Mal eu entrava embaixo da água e lá vinha a cortininha. Ela colava e eu descolava. Ela colava e eu descolava. Uma vez resolvi capitular deixar que ela colasse onde bem entendesse, mas, além de a sensação de plástico colado nas pernas ser horrível, descobri que depois da canela ela cola no joelho, depois na coxa e assim vai! Percebi que eu ia ficar mumificada embaixo d’água. Podia até me afogar, sei lá. Resolvi enfrentar a fera e lutar bravamente!

Primeiro tentei a estratégia de colá-la nas paredes. Não deu, ela vinha na minha direção mesmo assim. Eu ia chegando para trás, para trás e paf! Batia o cotovelo na torneira! Aquela espécie de maçaneta ficava paralela ao chão e ocupava um espaço aéreo considerável. Além disso, era super sensível ao toque. Sempre que acontecia um esbarrão, eu tinha uma (desagradável) surpresa: ou eu girava a torneira para o lado quente e pelava o couro na água fervendo já que ela esquenta em segundos e não tinha espaço para onde fugir, ou eu girava para a direita e levava um choque térmico pela água gelada, ou eu erguia a "maçaneta" e o jato de água ia parar no meio do banheiro alagando tudo, ou eu desligava a água (que era, de longe, o que de melhor podia acontecer). Uma vez eu consegui a proeza de erguer a maçaneta e girar para a esquerda ao mesmo tempo o que gerou um jato forte de água fervendo! Saí pulando feito uma cabrita da plataforma com as costas quase cozidas!

Aos poucos eu fui desenvolvendo a técnica do "banho imóvel": eu colava a cortininha na própria plataforma, pelo lado de dentro ao longo das duas laterais e me posicionava embaixo da água, dura e tesa. Ia passando o sabonete lentamente, sem levantar muito os cotovelos para não correr o risco de esbarrar na torneira. Fazia o possível para não me mexer muito a fim de não atiçar a cortininha e evitar que ela viesse colar em mim. Procurava não mexer nem mesmo a cabeça. Mexia só os olhos e olhem lá! Lavar os pés? Nem pensar! Eu ia ter de fazer uma manobra de agachamento que o barrigão não permitiria, ou, se por acaso eu conseguisse abaixar, quem disse que eu ia conseguir levantar depois? Eu passava um pezinho em cima do outro e só! Isso tudo, claro, sem soltar do sabonete porque não tinha lugar para ele ali.

Era duro...

Daí mudamos para este apartamento em que estamos agora e começou a segunda fase...

Quando eu entrei no banheiro pela primeira vez, fiquei em estado de choque. Nada de plataforma. No lugar dela, uma mistura de tanque com banheira. 60 centímetros de largura por 90 de comprimento por uns 60 de profundidade. Medidos pelo lado de fora, o que significa menos do que isso de área útil. Dentro, no sentido do comprimento, uma metade mais alta do que a outra com umas saliências indicando o lugar das nádegas. Duas torneiras (uma quente e uma fria) e a duchinha, dessa vez, sem suporte para pendurar na parede. Coroando tudo, ela! A cortininha de plástico!

A dona da imobiliária deve ter percebido a minha cara de espanto quando nos mostrou o apartamento porque foi logo dizendo que aquilo tudo seria retirado e que, no lugar, seria colocado um boxe. Quase chorei de emoção! Ela disse que 15 dias depois que mudássemos o serviço seria feito em um ou dois dias. No máximo. Eu nem podia acreditar!

É uma pena que eu não tenha conseguido tirar uma foto da "Coisa". Foi o nome nada carinhoso que eu dei para ela.

Minha implicância com a Coisa começou já no primeiro dia. Limpá-la não foi nada fácil. Além disso, aquelas marcas no lugar de sentar me davam uma sensação para lá de desconfortável. Parecia que alguém tinha sentado lá e tinha deixado impressa a sua própria bunda. Vocês já se imaginaram sentando no molde do bumbum de alguém? E a gente era obrigado a sentar. É óbvio que a minha primeira atitude foi arrancar a cortininha de plástico! Não queria mais saber de lutas corporais para tomar banho, muito menos de banhos imóveis. Só que não tinha suporte para pendurar a duchinha. Nosso banheiro, assim como todos os outros, não tem ralo, não dava para tomar banho de pé correndo o risco de alagar tudo. Portanto, banhos sentados. Naquela marca de bunda. Tudo bem.

Com uma mão segurava-se a duchinha. Com a outra, o sabonete. Quando estava lavando as pernas passava frio nas costas e vice-versa. Tinha partes do corpo que eram difíceis de lavar. Experimentem tentar alcançar a região dos países baixos (todos eles!) estando sentados. Imaginaram o problema? Para lavar a cabeça era um pouco mais complicado. Eu deixava a duchinha pendurada nas costas o que fazia quase transbordar a água da banheira. O que acontece é que eu tinha de encaixar o barrigão (que a essa época já passava dos sete meses) entre as pernas, que ficavam dobradas e coladas nas laterais da banheira impedindo que a água que corria pelas costas fosse embora. Resultado? De vez em quando era necessária uma "operação de escoamento" que eu fazia levantando um pouco o quadril e deixando a água passar por baixo. O único lado bom da Coisa é que eu podia, enfim, lavar meus pés!!!

Além de tudo isso, ainda tinham os eventos "Entrar na Coisa" e "Sair da Coisa". Verdadeiras operações de guerra, dada a minha situação e o medo que eu tinha ou de ficar entalada, ou de escorregar e me estatelar no chão de barrigão e tudo.

Mas, tudo bem. A dona da imobiliária tinha dito que em 15 dias, no máximo, eles tirariam a Coisa daqui. Para quem já tinha passado 20 dias brigando com uma cortininha de plástico e com uma torneira, o que eram só mais 15 dias de banhos sentados? Tudo bem que eu tinha um medo danado de parir a qualquer momento porque a posição do banho tinha tudo a ver com um parto de cócoras. Mas 15 dias passam rápido e num instante tudo estaria resolvido.

Quase 30 dias e alguns telefonemas indignados depois, apareceu o senhor que faria o serviço. Quando ele chegou eu até levei um susto. Ele era a cara do Anthony Hopkins. Aquele ator americano que fez o filme "O silêncio dos Inocentes". Isso mesmo. O canibal... Ele foi muito simpático e muito risonho até mesmo para dar as seguintes notícias: primeiro, ele só poderia fazer o serviço, na melhor das hipóteses, dali a um mês; segundo, nessa ocasião ficaríamos uma semana sem ducha!

Fiquei catatônica por algum tempo. Uma semana sem banho! Sei não... Aquela cara dele, aquela semelhança com um canibal... Vai ver que ele preferia carne podre. Ui!

Bem, a gente não tinha alternativa a não ser esperar. Os 15 dias que imaginávamos ter de conviver com a Coisa se transformaram em dois meses. E descobrimos depois que, ruim com a Coisa, pior sem ela. Sim, porque realmente demorou uma semana, de segunda a sábado, para o banheiro ficar pronto.

Um dia tocou a campainha aqui em casa. Era uma segunda-feira, fim de tarde. Minha mãe tinha chegado na sexta-feira anterior para me ajudar no final da gravidez (abençoadas sejam as mães...) e estávamos todos fazendo um lanchinho. Na porta estava ele. O Anthony (olha a intimidade). Fiquei apreensiva pensando que ele tinha vindo para "nos" lanchar, mas não. Ele tinha ligado e deixado um recado no nosso celular dizendo o seguinte: "Segunda-feira no final da tarde eu começo a fazer o serviço na casa de vocês. Se vocês não me ligarem, é porque eu posso ir". Então, por que a nossa surpresa com a presença dele?

O problema é que nosso celular estava mudo. Ele estava meio injuriado porque tinha tomado um banho na máquina de lavar roupa, dentro do bolso de uma calça do Felipe. Em sinal de protesto pelo quase afogamento, fez greve de fala por um mês e nós não tínhamos ouvido o recado do canibal, digo, do encanador. E ali estava ele. Chegou, entrou, foi direto ao banheiro, pegou uma marreta e caceteou a Coisa até reduzi-la a pó! É por isso que eu não tenho nenhuma foto dela. Não tive nem tempo!

O pior é que a gente não tinha se preparado psicologicamente, nem fisiologicamente para o acontecimento. Isso quer dizer que não tínhamos tomado o último banho daquela semana, antes das obras...

A semana foi longa... Cada um de nós entrava no banheiro e fazia os malabarismos necessários para conseguir cumprir o ritual de higiene básica do dia. Tudo o que tínhamos era uma bacia de 30 x 40 centímetros e a pia do banheiro. Depois nos reuníamos na sala e cada um descrevia suas táticas. Coitada de mim. Eu não tinha muita agilidade, nem elasticidade com meu barrigão de nove meses. A cada vez que eu pensava que era a hora do "banho" ficava desanimada.

No desodorante que eu usava na época estava escrito "Com este produto você estará protegido do suor e dos maus odores por até três (!!!) dias". Sem comentários. Só que, ao ler aquilo, depois do choque inicial, um pensamento chegou a passar pela minha cabeça: "Puxa! Então eu ainda estou dentro do prazo de validade! Dá até pra deixar o banho para a semana que vem!" Só que aí eu me lembrei de que tinha lugares em que eu não tinha passado o desodorante... Tenho de confessar! Cheguei a ter saudade da Coisa.

Mas, enfim, a obra terminou. No sábado de manhã o banheiro estava liberado! Entramos na terceira, atual e feliz, fase.

A plataforma no chão é a mesma do primeiro hotel. Só que agora tem um boxe! A torneira também é igual, só que a alavanca não é para cima como a outra. Ela fica paralela à parede e para liberar a água a gente puxa e não levanta. Se a gente esbarra nela, por acaso, o máximo que acontece é fechar a água. Enfim podemos tomar banhos decentes! O único problema é que o banheiro só tem azulejos dentro do boxe e acima da pia. O resto das paredes é coberto de papel! E não tem janela! Com a unidade, um mofo preto e cabeludo está se alastrando por tudo. Nossa batalha com esse mofo vai merecer um capítulo à parte, aguardem...

É por essas e por outras que pensamos em não sair daqui. Tudo bem, o apartamento é pequeno, só tem um quarto, o banheiro está todo mofado... Mas não quero nem imaginar o que pegaríamos pela frente. Nessa viagem que fizemos tivemos uma amostra de coisas ainda mais bizarras em matéria de banheiros! Mas essas são histórias que vão ser contadas um outro dia. Agora, me deixem ir tomar um banho! Com o maior prazer!

quinta-feira, agosto 05, 2004

Olha, vocês podem pensar que eu sou paranóica, neurótica, etc., etc., etc. Tudo bem! Eu aceito isso. Mas eu tinha deixado de colocar fotos das crianças aqui neste blog porque comecei a pensar "Sei lá quem acessa isso aqui", "Tem um monte de maluco nesse mundo", "A gente tem a vida exposta na Internet", "Tem endereço, telefone e tudo o mais no nosso site", "Soccorro! Já sei que um dia alguém vai nos perseguir!!!". Bem, não cheguei a tanto, mas andei meio com a pulga atrás da orelha (de onde veio essa expressão?!).

Mas, como eu não resisto e fico morrendo de vontade de mostrar a carinha dos meus pimpolhos, decidi, então, retirar endereço e telefone da nossa página e voltar a publicar fotos. Quem não anotou nossos dados, pode nos enviar um e-mail para perguntá-los quando quiser nos dar o prazer de uma visitinha, uma ligadinha...

Então ficamos assim: estamos em local não divulgado, a não ser para quem nos contactar por e-mail, certo? Os e-mails continuam na página principal.

Bem, agora, eu posso mostrar aqui uma imagem muito legal!!! Olha só:


São ou não são umas fofuras?

Ai! Mãe coruja é dose de agüentar, né?