sexta-feira, março 11, 2005

Acho que eu já disse uma vez neste blog que o grande problema do mundo atual é a intolerância. As pessoas não aceitam as diferenças e, por causa disso, vivem em guerra, acontecem barbaridades, massacres e todo o tipo de coisa ruim.

O mundo está necessitando de tolerância para viver em paz. As pessoas deveriam exercitar diariamente o autocontrole e a compreensão. É preciso ter serenidade para conviver com o que é diferente. As religiões têm, no fim das contas, o mesmo objetivo. Partidos políticos têm opiniões diferentes, mas há espaço para que todos convivam em harmonia. Fabricantes de cerveja sabem que seus garotos-propaganda dividem a sua imagem entre todas as marcas pra ninguém ficar chateado. Times de futebol um dia ganham, outro dia perdem, e não precisamos brigar por isso...

Nós, aqui em casa, procuramos sempre compreender e aceitar o outro, mesmo seus piores defeitos, até quando é muito difícil. Diante do novo, do diferente, mantemos a serenidade, a calma. Tentamos entender as razões do outro, imaginar o seu mundo, as suas crenças. Exercitamos a empatia e a compreensão a cada dia. Recentemente, por exemplo, ficamos sabendo que a minha irmã trouxe para o seio da nossa família, um representante da torcida do time adversário. Na verdade, inimigo. Aliás, inimigo, não! Arquiinimigo!! Melhor dizendo, um daqueles p...

Calma! Vamos respirar fundo................ Isso... Todos juntos... Vamos imaginar a natureza, um céu azul, uma grama verde, garotos correndo, uma bola passando, um jogador agarrando a camisa do outro dentro da área e esse juiz fdp que nem marcou o pênalti!!!!!

Pérai! Não deu certo. Vamos tentar uma outra abordagem. Hum, me deixem pensar. Não! Essa não dá! Essa também não... Essa outra, nem pensar! Ih! Tá difícil.

Acho que, nesse caso, o melhor é a gente estabelecer umas regrinhas básicas para evitar problemas futuros. Mesmo porque, temos vários amigos que pertencem ao grupo do inimigo. Fazer o que, né? Nem todo mundo tem o nosso bom gosto. É por isso que decidi publicar as...

Regras para a convivência o mais pacífica possível entre torcedores de times (extremamente) rivais

Aí vão elas...

§1º - Evite ao máximo falar sobre futebol. Se, por acaso, você comentar alguma coisa e só depois se der conta de que o inimigo está presente, emende com alguma observação neutra como, por exemplo, ‘Será que chove hoje?’. Claro, observe antes se já não está chovendo mesmo pra não ficar muito evidente a manobra.

Alínea - A fim de que essas regras sejam, elas mesmas, o mais pacíficas possível, a partir de agora não usaremos mais expressões agressivas como ‘o inimigo’. Doravante (sempre quis usar essa palavra!) será utilizada a expressão ‘aquele que não teve o bom gosto de escolher o mesmo time que você’ ou, simplesmente, o Outro.

§2º - Em dias de jogos, evite encontrar o Outro antes da partida. É melhor também não cruzar com ele durante o jogo. Depois, então, nem pensar! Se for um confronto direto, o melhor mesmo é sair da cidade pra não correr nem o risco de passar perto.

§3º - Caso o encontro seja inevitável, adote uma das seguintes táticas:

- Se o jogo ficou empatado: essa é a situação mais fácil. Simplesmente sorria e faça algum comentário neutro como ‘Será que chove hoje?’, não esquecendo de verificar, antes, se já não está chovendo, etc., etc., etc.

- Se o seu time ganhou: sobretudo, não sorria! Assim que topar com o Outro, procure pensar em alguma triste como o seu time na zona de rebaixamento, por exemplo. Se não funcionar, tente pensar numa verdadeira catástrofe como o seu time rebaixado e o time do Outro campeão brasileiro. Isso vai ser mais fácil se o placar tiver sido magrinho. Agora, se o seu time deu uma lavada daquelas neles e a vontade de gargalhar for insuportável, pense rápido numa coisa muito engraçada pra dizer como, por exemplo: ‘Você sabe o que significa um pontinho prateado no jardim? Uma formiga de aparelho!’ ou ‘Sabe o que o tomatinho que estava atravessando a rua disse para o outro? Olha o carro! Ploch! Onde? Ploch!!’ e role no chão de tanto rir. Obviamente, evite piadas que façam qualquer referência à cor do time perdedor! Destruiria a estratégia.

- Se o seu time perdeu: mesmo que seja difícil, tente olhar para o Outro com a cabeça erguida. Claro, só faça isso se você conseguir evitar fuzilá-lo com esse olhar ou se conseguir não esmurrá-lo. Se não for possível, dê uma topada com o seu dedão do pé na quina da mesa pra poder falar todos os palavrões que você conhece sem despertar suspeitas. Novamente, se o placar foi modesto vai ser mais fácil. Mas, você saberá que atingiu o auge do autocontrole quando conseguir até rir da piadinha que ele contar. O problema é que acho que nem Madre Tereza de Calcutá atingiu esse nível.

§4º - É melhor evitar sinais ostensivos de torcida tais como: camisetas, bonés, bandeirinhas, chaveirinhos, etc. em dias de partida. Até mesmo a cor do time é bom banir do guarda roupa. A do seu time e a do time dele. A gente nunca sabe quando um mal entendido pode acontecer.

§5º - É comum torcidas utilizarem animais para fazer referência, seja ao seu próprio time, seja ao time do Outro. Assim, por exemplo, se você costuma se referir à torcida do Outro com algo sutil como ‘os porco’ (assim mesmo, misturando singular como plural que é pra ficar mais... suave) e, principalmente, se isso for de domínio público, não fica bem servir leitão à pururuca, com maçã na boca e tudo mais logo depois de uma derrota do time dele. Claro, se ele estiver presente.

Aliena - Importantíssimo! Jamais use esses apelidos ‘carinhosos’. É claro que só enquanto estiver na presença do Outro, porque quando ele não estiver por perto... aí, vale tudo! Mas, se por um azar do destino ele chegar e você for pego em pleno delito de agressões verbais explícitas, improvise. Puxe rapidamente algum assunto neutro como, por exemplo, ‘Será que chove hoje?’, não esquecendo, blá, blá, blá...

§6º- Você pode e deve ensinar aos seus filhos hino, gritos de guerra e tudo o mais que a torcida organizada inventar. De preferência, deve fazer isso enquanto eles ainda estão na barriga que é pra não correr o risco, nem mesmo o mais remoto, de ter o desgosto de, um dia (Deus me livre!) ter o sangue do seu sangue, a carne da sua carne, torcendo pelo time do Outro. Mas jamais permita que seus filhos cantem diante do Outro o hino ou muito menos aquelas musiquinhas simpáticas, inofensivas e pueris que as torcidas organizadas inventam para receber os rivais. Isso feriria mortalmente as regras aqui estabelecidas.

Alínea - Acho que nem é preciso dizer mas, use o seu bom senso e, jamais, mas em hipótese alguma, tente ensinar as musiquinhas do seu time para os filhos pequenos do Outro, nem dê de presente camiseta, chaveirinho, ou boné do seu time. Isso é golpe baixo demais e geraria uma ruptura sem volta e sem direito a apelação.

§ Último – Se você um dia atingir o ápice da perfeição e do desprendimento material e espiritual, pode comentar que chegou mesmo a torcer pelo time do Outro em um campeonato tipo Libertadores da América, afinal, a equipe estava lá representando o Brasil, e nesse momento as diferenças devem ser suplantadas, etc., etc., etc. Mas só faça isso se conseguir segurar os músculos da face e evitar gargalhadas quando o time tiver sido eliminado do tal campeonato com um gol contra, de mão, nos descontos do segundo tempo da prorrogação. Entretanto, se você disser isso de verdade, mas sinceramente mesmo, então, das duas uma: ou você não é torcedor coisa nenhuma, ou então pode ir ao Vaticano dar entrada no seu processo de canonização em vida!

É isso. Se os torcedores seguissem essas regrinhas, o mundo não seria um lugar melhor?

Ah! E seja bem vindo à nossa família, Sandro! A gente é do bem, pode acreditar. E nem vamos tentar te doutrinar.

Pelo menos, não muito!