sábado, junho 19, 2004

Olá!

Acabamos de chegar de Paris. O Vidal foi participar de um congresso e passamos a semana toda lá. Já passa de meia-noite, as malas estão no meio do caminho, a cornucópia, quer dizer, o cesto de roupa suja está mais transbordante do que nunca, a pilha de roupas para passar já está enorme (e eu nem comecei a lavar o que trouxe sujo da cidade Luz), meus pais chegam na segunda-feira e eu tenho um final de semana looooooongo pela frente. Mas vou fazer o impossível para contar umas novidades para vocês! Aumentei minhas experiências no quesito "xixis inusitados". Acho que vou escrever um livro só sobre isso!

Rapidinho, mas, por enquanto é só! Apareço em edição especial durante os próximos dias!

quinta-feira, junho 10, 2004

A gente nunca pensou que este mês de junho fosse chegar... Mas ele chegou e, com ele, o sol, o calor, os dias longos (muito longos) e também os mosquitos, as aranhas... Tudo bem, nada é perfeito mesmo!

Outro motivo que nos fazia querer muito que chegasse o mês de junho é o fato de que, em maio, zeramos a dívida que tínhamos ainda por conta da vinda para cá! Foi duro chegar até aqui, mas conseguimos!

O problema era o seguinte: vocês sabem que a gente sempre trabalhou muito enquanto estava aí no Brasil. E a grande quantidade de trabalho criou na gente péssimos hábitos. O principal deles: gastávamos primeiro e recebíamos depois. Em geral, contávamos com o fato de que sempre acabaria aparecendo um cursinho aqui, uma apostilazinha ali... E assim a gente ia se enchendo de coisas para fazer. Como realmente apareciam novos trabalhos, que eram remunerados, a gente acabava assumindo mais compromissos, e assim a coisa andava.

O Vidal definiu muito bem o que nós fazíamos: "trabalhávamos muito para poder pagar contas que só tínhamos porque trabalhávamos muito".

Daí, viemos para cá. No início, mantivemos praticamente o mesmo ritmo, ou seja, não pensávamos muito na hora de fazer uso do vil metal. Claro que a gente controlava (ou achava que estava controlando) os gastos. Não fazíamos nenhum exagero. Mas aí, duas coisas aconteceram: primeiro, a gente se viu com um furo de muitos Euros no nosso orçamento; segundo, não existia nem de longe, a possibilidade de aparecer algum trabalhinho extra! O único "trabalho" que poderíamos fazer seria despachar uma galinha preta, uma garrafa de pinga e umas velas vermelhas em alguma encruzilhada para ver se acontecia algum milagre. Só que aí tínhamos outros problemas: a pinga aqui custa uma fortuna (60 Euros uma garrafa de Velho Barreiro), as velas vermelhas são só de decoração e, mesmo que a gente achasse uma galinha preta, nem pensar em deixar numa esquina qualquer! Isso é muito caro e eu ia acabar fazendo um empadão com ela!

Nossa alternativa? Fizemos um empréstimo no banco para pagar em quatro vezes (banco brasileiro, é claro! Vocês acham que os franceses iam nos dar essa moleza?) e mudamos radicalmente de atitude! Nenhum gasto extra. Mercado? Só o mínimo necessário. Cinto apertado até que eu tivesse uma cinturinha de Scarlett O’Hara e o Vidal estivesse como um bailarino espanhol.

Nossas inspirações para essa atitude foram Paulo e Luciane, que sempre conseguiram gerenciar a vida financeira sem dívidas, construindo muitas coisas, e a Selvina (que trabalhava com a gente, eu já comentei aqui), que sozinha e com muitos filhos, também foi capaz de construir a própria casa sem se enterrar em infinitas prestações...

No final da primeira semana da nova vida, fizemos um balanço de quanto teríamos gasto sem perceber: daria para duas semanas de mercado! Assustador! Isso nos animou a continuar o plano "bovinas esbeltas".

O primeiro mês foi o mais radical: só trazíamos do mercado o absolutamente e estritamente necessário, só comprávamos um objeto qualquer se realmente a gente não tivesse como ficar sem ele, cortamos todos os lanchinhos fora de casa.

Claro que acabamos passando por situações meio esquisitas. Um dia fomos "levar nossos olhos para passear" num shopping. Que bom que por enquanto não se gasta nada para olhar vitrines! Foi no mês de janeiro, minha mãe ainda estava aqui. Como sabíamos que não faríamos nenhum lanche fora de casa, fizemos alguns sanduíches, pegamos umas frutas e saímos. Primeiro andamos pelo centro da cidade, só depois fomos ao shopping.

Quando chegamos, todo mundo já estava com uma fomezinha, então decidimos "abrir o farnel e fazer uma merenda"! Onde? Dentro do carro, no estacionamento do shopping, é claro! Janeiro, dia horrível, frio, garoa... Só dentro do carro mesmo!

Imaginaram a cena? Três adultos e duas crianças dentro de um carro, num estacionamento. Passa sanduíche pra frente, volta guardanapo pra trás, "Cuidado Felipe! Não derrube suco no banco do carro!" Aliás, o carro deve ter ficado uma imundície, nem me lembro mais.

O Vidal, por via das dúvidas, escondia o sanduíche no colo e parava de mastigar quando passava alguém por perto da gente olhando meio desconfiado para aquele carro cheio de gente dentro, os vidros já começando a ficar embaçados. Teve uma hora em que eu falei: "Comer sanduíche, dentro do carro, no estacionamento... Acho que esse é último estágio da dureza!" Mas o Vidal me corrigiu: "Último não! Penúltimo! Pelo menos a gente tem um carro!". Ele estava coberto de razão.

O problema dessa história de fazer uns rega-bofes dentro do carro é que fica difícil ir ao banheiro! Teve uma vez que a gente fez uma boquinha num canto retirado de um parque e eu, por causa daquela história de tomar muita água pra poder amamentar, acabei precisando urgentemente de um lugar para mandar embora a água que não tinha virado leite! O jeito foi apelar para uma árvore! O Felipe achou o máximo: "Mamãe, posso ir com você?!!!"

E lá fomos os dois. Nos instalamos atrás de uma grande árvore. Quer dizer, "atrás" dependendo do ponto de vista. Em relação ao nosso carro, atrás. Mas, de frente para um lago, de lado para uma estradinha... Pensei em me enfiar no meio de um conjunto de pinheiros que tinha um pouco mais adiante, mas daí os problemas seriam outros. Primeiro, grimpa de pinheiro é uma coisa meio perigosa (e dolorida se espetar assim, em qualquer lugar) e eu não sabia o que ia encontrar por lá; segundo, aqui é comum ter uns bichinhos silvestres nos bosques, tipo esquilo, e como eu estava recém-parida (a Ana Luíza ainda não tinha nem um mês), achei que ia ser meio arriscado me enfiar num matinho mais fechado e depois não ter físico pra sair de lá no caso de um ataque surpresa, quem sabe até de um gambá temendo a concorrência dos perfumes! Tudo aconteceu ali mesmo, do lado daquela árvore. E eu tinha tomado muita água! Tinha muito xixi! Fiquei ali torcendo pro xixi acabar logo. Cheguei até a pensar em interromper pela metade, com medo de que passasse alguém pela estradinha que tinha do lado da árvore. Mas desisti! Felizmente, ninguém apareceu. Pouco malucos têm a idéia de sair para passear num parque em pleno e gelado janeiro. Na verdade, nem tão poucos assim... Nem bem eu terminei, passou um casal pela estradinha. Pode ser que eles também estivessem procurando alguma árvore...

O carro não foi o único lugar esquisito em que fizemos lanches. Pelo menos duas vezes eu e a minha mãe promovemos uma degustação de acepipes numa igreja que tem aqui no centro de Nantes. Uma igreja grandona, aquecida, quase sempre vazia... Perfeito! Eu precisava mesmo amamentar a Ana Luíza! Nada melhor... A gente dava uma disfarçada, procurava um cantinho mais discreto. Não era assim de estender toalha xadrez na frente do altar e sentar no chão, é claro. Tenho certeza de que Deus nos perdoou. A gente sempre aproveitava para fazer umas orações também...

Isso foi só no começo. Agora já voltamos a uma vida mais normal. Ainda fazemos nossos piqueniques, mas agora eles acontecem na grama, sob o sol, junto com um monte de outras pessoas. O problema do xixi ainda persiste, é verdade. No mês passado tive um outro episódio de "xixi bucólico", só que dessa vez foi no meio de umas camélias, com o chão cheio de flores! Nenhum banheiro poderia ser mais perfumado!

Enfim, pagamos nosso empréstimo, mudamos de atitude, aprendemos um monte de coisas: não desperdiçar, melhorar a forma de fazer compras no mercado, planejar os gastos antes, manter-se fiel ao planejamento. Esse, até o momento, foi um grande ganho da nossa vinda para cá: aprender a viver bem, com menos! Sabe que dá certo?

Agora podemos começar a pensar em fazer algumas coisas que foram ficando para depois. Por exemplo, comprar um armarinho para colocar do lado do fogão na cozinha (por enquanto temos uma caixa de papelão coberta com uma toalha). Quem sabe até tentar achar um apartamento de dois quartos aqui pela redondeza... Essa história de dormir todo mundo apinhado num quarto só não está muito legal! Mas só mudaremos se acharmos alguma coisa perto! Tudo já está estruturado por aqui, o Felipe adora a escola, tem amigos (ontem fui com ele passar a tarde na casa de um coleguinha de sala), o médico é perto, já estou procurando uma creche para a Ana Luíza... Se a gente não achar nada razoável nas redondezas, ficamos aqui até o fim. Ótimo! Pagamos menos aluguel e podemos até tentar a ousadia de fazer uma poupança! Quem diria!

terça-feira, junho 01, 2004

Olá!!!

Só estou escrevendo para dizer que reinstalei tudo aqui, sem traumas, as coisas estão funcionando e eu sobrevivi! Claro ainda tem algumas coisinhas para fazer, mas a Internet está no ar! Isso é o principal!

Agora vou ter de mudar o apelido do Cágado. Esse não é mais justo com o coitado... Alguma sugestão?

Bem, vou sair para buscar o Felipe na escola. Só queria dar a boa notícia a vocês. Hoje a faxineira não veio (eu mesma, é claro)! No lugar dela veio a técnica em Informática, só que ela não sabe fazer limpeza! Já estou até vendo o que o Felipe vai dizer quando entrar em casa: "Mamãe, essa casa tá imunda!".