segunda-feira, dezembro 05, 2005

Semana passada tive um daqueles dias em que a gente devia pensar duas vezes antes de sair da cama...

Começou com um despertador que não funcionou e nos fez perder a hora...E meu dia era cronometrado. Várias coisas pra fazer de manhã, tudo rotina, mas à tarde tinha um compromisso diferente. Eu me inscrevi num grupo de uma associação que faria uma visita a uma exposição em um museu no centro de Nantes. O grupo se reuniria no museu às quatro da tarde.

Como a cidade aqui pro lado onde moramos está em obras por conta de uma nova linha de ônibus e que os engarrafamentos são impossíveis, eu tinha decidido ir de trem para o centro. Trem mesmo. Eu nunca tinha usado essa forma de transporte porque não sabia que existia por aqui, pensava que ele era reservado para a circulação entre cidades mais distantes. Eu achava que a gente tinha só ônibus (que não adianta muito, já que eles andam no meio do mesmo engarrafamento que os carros) e o bonde elétrico (que a gente chamada de tramway ou tram, para os íntimos). O tram é quase como um metrô: não atrasa, não fica em engarrafamento, mas a estação é meio longe aqui de casa e o estacionamento que tem do lado é tão lotado que não tem a menor chance de a gente conseguir um lugar. Daí eu descobri o trem: a estação fica bem pertinho da casa da babá da Ana Luíza, tem estacionamento ao lado que não fica cheio e, mesmo se ficasse, na frente tem um supermercado gigante, com um estacionamento maior ainda! Perfeito.

Era a primeira vez, então eu fui relativamente cedo para a estação chamada Saint-Sébastien Frêne Rond. Comprei as passagens de ida e volta e fui olhar o horário do próximo trem: 15h38. Eram 14h30. Mais de uma hora! E tinha passado um trem às 14h15. Que azar o meu! Além disso, estava um dia horrível, um vento de carregar (na previsão tinha dito que o vento chegaria a 100Km por hora na nossa região). Decidi ir até o mercado começar a função de Papai Noel em vez de ficar esperando na estação correndo o risco de acabar indo voando mesmo carregada pelo vento...

Voltei a tempo de pegar o trem para ir ao centro. Ele chegou 15h38 em ponto! Impressionante!

Pra voltar eu tinha visto o horário de 17h04, que eu considerei muito cedo, já que a visita ao museu começava às 16h00. Eu não teria tempo de terminar a visita, ir a pé até o ponto do tram, esperar o tram, chegar na Gare, procurar o local de embarque e embarcar no trem exatamente às 17h04. Como eu tinha visto na ida, a pontualidade do trem era seguida à risca mesmo. O problema era o horário pra pegar as crianças, mas eu tinha pedido pra uma amiga levar o Felipe pra casa dela depois da escola e tinha avisado a babá que poderia chegar atrasada, então eu poderia pegar um trem mais tarde pra voltar. E tinha um às 17h30. Perfeito!

Quando eu já estava no caminho de volta, lembrei que o Vidal tinha me pedido pra tirar dinheiro e resolvi fazer isso antes de pegar as crianças, eu tinha tempo, ainda nem eram 17h00...

Peguei a Linha 1 do tram no Commerce (bem no centro) e fui até a Gare pensando em como a Europa é civilizada, tudo funciona tão bem, tão tranqüilo... E a Gare nem é tão longe assim do Commerce, são só três pontos, mas eu tinha colocado uma bota com salto meio alto e já estava cansada. As passagens de transporte público aqui são um ticket que a gente carimba quando entra no primeiro ônibus, bonde, trem ou barco e que é válido por uma hora depois disso. A gente pode trocar de meio de transporte quantas vezes quiser nesse meio tempo. Não valia a pena gastar os meus pezinhos já cansados...

Cheguei na Gare e procurei a indicação da plataforma no painel luminoso das partidas e não vi nenhum trem para Vertou (é o nome da cidade onde fica o ponto final dele) às 17h30. Fui ao balcão de informações e peguei um papel com os horários. Nesse momento, meu sangue gelou nas veias: o trem de 17h30 só circula aos sábados e era uma quinta-feira!!! Durante a semana o horário era... olhei no meu relógio... 17h09! Exatamente naquele minuto!!! Eu tinha perdido o trem para ir pra casa. O próximo era só às 17h45.

Se alguém aí pensou em taxi pode esquecer: custa uma fortuna, são praticamente inexistentes e, como não têm asas nem hélices, ficam presos nos engarrafamentos como todos os outros carros mortais.

Saí correndo da Gare pensando: o que eu vou fazer agora? Já sei! Pego a Linha 1 do tram, desço na estação Duchesse Anne, e daí pego o ônibus 27 que pára perto da estação Saint-Sébastien Frêne Rond onde eu tinha deixado o carro. Já estava a caminho quando me toquei de que o ônibus TAMBÉM ficaria preso no mesmo engarrafamento que eu queria evitar quando deixei o carro a kilômetros de onde eu estava. Pelo menos 50 minutos pra chegar na estação, isso depois de pegar o ônibus que poderia demorar mais de 20 minutos pra chegar.

Mudei de idéia.

Peguei a Linha 1 do tram novamente da Gare para o Commerce. Lá eu pegaria a Linha 2 do tram e, chegando no Pirmil (a estação perto da minha casa cujo estacionamento é sempre lotado), eu pegaria a linha 43 do ônibus que também parava pros lados da estação Saint-Sébastien Frêne Rond. Não parava tão perto como o 27 e eu ia ter de andar um trecho, mas tudo bem.

Cheguei no ponto da Linha 1 em frente à Gare e tinha um tram. Tentei abrir a porta, mas ele já estava de partida. Tudo bem, olhei no painel luminoso que indica o horário do próximo e vi que chegava em dois minutos. Ele chegou e eu fui. Desci no Commerce e corri até o ponto da Linha 2. Uma galera inimaginável estava no ponto. Olhei o painel luminoso: dois trens da Linha 2 estavam previstos para chegar em 2 minutos. Chegou o primeiro e a multidão se precipitou para a porta. Só tive a chance de ficar já na frente pra poder pegar o próximo. Entrar naquele, nem pensar! Dentro do tram estava muito, mas muito pior do que uma lata de sardinhas.

Enquanto eu esperava chegar o outro tram olhei no relógio: 17h30. Seriam uns 20 minutos pra chegar no Pirmil, mais uns 20 minutos de ônibus, mais o trecho a pé, mais o tempo que eu teria de esperar pela chegada do ônibus. Pensei que o melhor mesmo era ter ficado na Gare e esperado pelo trem de 17h45, porque o caminho da Gare até a Saint-Sébastien Frêne Rond era feito em 9 minutos.

Voltei para o ponto do tram Linha 1. O próximo chegava em três minutos. Esperei andando de um lado para o outro, embora meus pés já estivessem em frangalhos. Se eu tivesse dinheiro pra comprar outra, jogava essa bota no lixo porque ela sempre me machuca quando eu ando muito e ainda por cima tem uma sola tão fininha que me deixa os pés gelados se por acaso for um dia de muito frio. Sem contar que entra água se estiver chovendo. Se eu não fosse tão educada, ia colocar um S no meio da palavra bota pra descrever essa infeliz!

O tram chegou. E eu fiquei do lado de fora! Fui pra primeira porta: lotado! Corri pra segunda, lotado!! Tentei a terceira, o povo que se apertava lá dentro olhou pra mim com uma cara de "pode esquecer!". Eu murmurei uns palavrões sei lá em que língua e olhei pro relógio: 17h35. Próximo tram em 8 minutos. Sem chance! O trem sairia da Gare em 10 minutos. Em pontíssimo!

Já era quase noite e eu saí em desabalada carreira na direção da Gare. Correndo mesmo. Morrendo de medo de me esborrachar no chão porque não estou muito em forma pra correr, muito menos de bota, de salto, com os pés machucados, num dia de ventania! Eu corria, olhava no relógio, desviava das pedras, procurava lugares sem paralelepípedos, diminuía a corrida pra andar rápido, olhava no relógio, voltava a correr, tentava respirar fundo pra evitar a dor de barriga, o que fazia doerem os pulmões por causa do ar gelado, aí eu parava novamente de correr, olhava no relógio, corria de novo, pensava "por que eu fui parar a academia?", voltava a andar, respirava fundo, soltava o cachecol do tamanho de uma colcha de casal que eu tinha enrolado no pescoço, tentava não pensar nos meus pés que nem doíam mais: latejavam! Foi quando começou o calor... Uma coisa engraçada, calor embaixo da jaqueta impermeável e o vento gelado na cara. Uma mistura muito esquisita.

No meio do caminho tive de parar pra esperar o sinal fechar já que ainda não consigo saltar por cima dos carros e dei uma olhada de novo nos horários de trem. Descobri que depois de 17h45, tinha um trem às 17h55, o que me acalmou um pouco. Abriu o sinal, eu disparei novamente. As pessoas que andavam tranqüilas na minha frente olhavam pra trás desconfiadas quando ouviam o toc, toc, toc, toc, da minha corrida ou a minha respiração resfolegante, sei lá. Eu nem ligava pra elas.

Enfim entrei na estação e olhei no relógio: 17h45. Tinha perdido esse também. Procurei a plataforma para o trem das 17h55. Plataforma 6. Por que nunca é perto de onde a gente está? Não podia ser 1 ou 2, tinha de ser a 6, bem longe! Lá fui eu de novo. Correndo.

Cheguei na plataforma. Tinha um trem parado e lotado. Achei que era o trem das 17h45 que ainda não tinha saído. Tentei entrar, mas sem a menor chance. Tinha neguinho saindo pelo ladrão e muita gente pro lado de fora, inclusive uma mulher que reclamava um monte. E o trem não saía. Nem sei em qual minuto caiu a ficha: aquele não era o trem das 17h45 que ainda não tinha saído, mas sim o das 17h55 que ainda ia sair! Confirmei minhas suspeitas com um controlador. Se eu perdesse aquele também, só teria outro às 18h22! E eu tinha dito pra babá e pra mãe do amiguinho do Felipe que em torno de 17h45 eu estaria lá para pegá-los! Falei pra mim mesma: "Eu vou nesse trem de qualquer jeito! Nem que a vaca tussa!" Era o terceiro trem lotado que eu pegava pela frente em 15 minutos! Quer dizer, era o terceiro que eu NÃO pegava! Nada disso! Eu, a mulher reclamona, mais um senhor simplesmente empurramos a galera pro fundo e entramos. O povo lá dentro começou a reclamar e a dizer "Vamo pará de empurrá aí, ô", ou qualquer coisa parecida, mas eu nem olhei pra dentro pra ver de onde vinha o protesto. Teve um momento em que o medo me invadiu: o maquinista tentou fechar a porta e não deu. Ela travou na mochila de um rapaz que quis também aproveitar a operação "um passinho à frente faiz favô" e se enfiou no vácuo. Qual vácuo não sei, já que não tinha espaço nenhum naquele trem e até o vácuo ocupa espaço. O vácuo que esperasse o próximo trem! Comecei a entrar em pânico. Eu tinha certeza de que o controlador ia nos tirar nem que fosse à tapa dali. Mas ia ter de ser muito tapa mesmo pra me fazer sair...

Enfim, todo mundo respirou fundo, encolheu a barriga, a porta fechou e o trem partiu.

Nessa hora, eu comecei a suar em bicas. Eu sentia o rosto vermelho, queimando, o suor escorrendo como se estivesse um dia de verão de 40 graus à sombra. Um calor insuportável, porque dentro de qualquer meio de transporte aqui tem aquecimento. Considerando que eu já estava bem aquecida pela blusa, jaqueta, cachecol, levando em conta o imenso calor humano que tinha dentro daquele trem entupido de gente e ainda lembrando do fato de que eu estava super aquecida pela corrida pra chegar ao trem, vocês podem imaginar a situação. Eu só não tinha medo de me estatelar desmaiada porque eu nunca chegaria nem perto do chão de tanta gente espremida. Eu estava grudada na porta, e nela tinha uma janela, que era de vidro, que começou a ficar embaçada. Eu mexi os olhos (que era a única coisa que dava pra mexer mesmo) pra ver se tinha mais janela embaçada, mas não. Era só eu mesmo que estava ali derretendo. Uma hora teve uma menina que falou pras amigas "Gente! Vamo pará de respirá aí! O vidro ta todo embaçado!". Eu fiz de conta que não era comigo... Me arrependi na mesma hora de não ter persisitido no regime. Se eu tivesse perdido uns 10Kg ia ter mais espaço sobrando à minha volta naquele trem...

Pra piorar, comecei a sentir um cheiro horrível, uma mistura de cocô com chulé, que eu descobri, horrorizada, que vinha de mim mesma! O problema é que a minha jaqueta é forrada de pena de ganso, ou qualquer bicho desses. Como eu suava muito, as penas começaram a exalar um odor... não gosto nem de me lembrar. Eu devia ter desconfiado do preço baixo que paguei por ela... Eu me sentia suja, colando por tudo e, ainda por cima, perfumosa daquele jeito!!! Acho que eu joguei pedra na cruz, não é possível!

Enfim, cheguei. No momento que eu desci do trem me dei conta do quanto meus pés doíam. Mas eu tinha chegado, isso era o mais importante...

Fui buscar a Ana Luíza, depois o Felipe, e ainda, o Vidal, o que significa fazer de volta o mesmo caminho, só que agora, de carro. Com aquela jaqueta fedida. Ninguém merece! Passei novamente ao lado da Gare e pelos lugares onde uma hora antes eu estava correndo feito uma maluca. O objetivo era mostrar para o Felipe a decoração de Natal da cidade, mas antes mesmo de eu chegar perto da primeira luzinha ele já estava dormindo...

Pelo menos o dia estava chegando ao fim!

Ah! E tudo isso aconteceu porque eu tinha um compromisso no museu às 16h00, lembram? Acontece que eu fui ao museu errado! Daí me perdi e, quando eu consegui achar o museu certo já eram 16h30. Eu nem tentei encontrar o grupo. Perdi o grupo, a exposição e o meu tempo. Quer dizer, tudo isso por nada!

Como eu disse no começo, realmente tem dias em que a gente não devia sair da cama! O problema é que não tem ninguém pra nos avisar!

Antes de terminar, uma coisinha:
- Ainda não tivemos a resposta oficial do artigo do Vidal, mas as esperanças são muito grandes. Eu aviso, é claro!

sexta-feira, novembro 25, 2005

Iuhuuuuu!!!! Tem alguém aí?

Por aqui ainda tem! Apesar de não parecer...

Depois de bastante tempo, algumas notícias rápidas!

Dia 15 de outubro, infelizmente, não foi dia de brigadeiro aqui em casa! A resposta que esperávamos não veio, daí eles adiaram pra 24 de outubro, e no dia 26 escreveram dizendo que o artigo tinha sido recusado. Descobrimos que doutorado, como o futebol, também é uma caixinha de surpresa, um dia a gente ganha, no outro a gente perde... Fazer o que, né?

Agora esperamos uma outra reposta para... HOJE! Será que vai ter brigadeiro aqui em casa?

Gostaria de agradecer aos meus comentadores de plantão pela assiduidade a esse blog! Vocês são mais assíduos do que eu!!! Saibam que ficamos MUITO contentes com a presença de vocês...

Também queria agradecer aos e-mails, cartões, telefonemas e presentes que recebi no meu aniversário. Quem não mandou nada, agradeço os bons pensamentos que tiveram no dia. A quem não teve nem bom pensamento porque esqueceu mesmo, ou nem sabia, agradeço os bons pensamentos que estão tendo agora!

Falando no meu aniversário...

Desde muito tempo eu tenho um desejo: sentar numa mesinha de café aqui na França e tomar um café lendo um livro. Isso é uma coisa que eu sempre quis fazer, só que nunca achava um dia. Como era meu aniversário, resolvi me dar esse presente. Era terça-feira e eu estava sozinha (Felipe na escola, Ana Luíza na babá e Vidal viajando...). Fui pro centro de Nantes com um livro na bolsa, decidida a tomar o tão famoso café!

O dia estava horrível. Claro. Não é que eu seja pessimista, muito pelo contrário. Mas há vários anos eu venho comprovando essa teoria quase científica já: no dia 18 de outubro, seja qual for o lugar em que eu esteja no mundo, vai chover! Não sei porque a chuva me persegue, mas sempre que tem uma data especial pra mim, chove. A roupa da minha sogra toda respingada de água nas fotos do dia do meu casamento comprova o verdadeiro dilúvio que caiu naquele dia. O detalhe é que em seguida foram dois meses de seca! No aniversário de um ano do Felipe, idem. Aniversário de um ano da Ana Luíza, no ano passado, a mesma coisa. Apesar de ser 26 de dezembro fazia um frio inacreditável para pleno verão. E tinha chovido a cântaros nos dias anteriores. Por isso, se alguém aí estiver com problemas de seca, é só me chamar pra comemorar alguma data importante. A nuvem me acompanha, pode deixar!

Naquele dia não estava chovendo de verdade. Mas estava nublado, frio, um horror. Eu não me deixei abater. Fui até a praça do Commerce, a mais central de Nantes, e escolhi o café. Me decidi por um cujas mesinhas tinham enormes guarda-sóis em cima. Afinal, era meu aniversário e embora não estivesse chovendo, não quis arriscar. E eram guarda-sóis enormes. Mesmo que caíssem algumas gotas, não ia estragar minha comemoração particular.

Tinha só mais duas mesas ocupadas. Nem mesmo os franceses se animaram a lagartear preguiçosamente num café no centro da cidade num dia daqueles...

O garçom chegou e pedi um café com leite. Peguei meu livro e me preparei para realizar um sonho antigo. Logo o garçom trouxe o café, eu paguei e comecei a ler... Nesse momento, começou a chover. Eu nem me espantei, afinal, era meu aniversário, né? Pode faltar tudo: cartão, telefonema, presente, bolo, brigadeiro, mas chuva, jamais! Nem liguei pra ela. Como estava abrigada pelo guarda-solzão, que naquele dia estava servindo de guarda-chuvão, continuei saboreando meu café e meu livro. A chuva aumentou e eu pensei: "Que bom. Faz meses que está uma seca danada por aqui, racionamento de água e tudo o mais. Estava precisando mesmo de uma chuvinha." Aliás, eu até devia ter ligado para o serviço de meteorologia para deixá-los descansados. "Dia 18 de outubro está chegando, gente, e eu estou na França, a chuva já vem..."

Continuei lendo. E a chuva aumentando. As mesas vizinhas ficaram vazias, fiquei só eu no café. E a chuva aumentando. Eu encolhi as pernas. E a chuva aumentando. Apesar de estar embaixo do guarda-sol, tive de vestir o capuz da jaqueta impermeável que eu estava usando porque a água respingava nas cadeiras e, pior, na mesa em que eu estava. E a chuva aumentando. Respingou tanto em cima da mesa que começou a escorrer para o lado que eu estava (mesa na calçada, chão irregular, tampo inclinado pro meu lado...). Eu segurava o livro com uma mão e, com a outra, o capuz da jaqueta que insistia em voar com o vento que fazia (sim! Chuva de vento!). Com o joelho eu erguia o tampo da mesa pra água não escorrer em cima de mim, apesar de eu já estar com a barra da calça encharcada de tanto que chovia. Não dava pra enxergar nada! Desisti do livro e fiquei empurrando as cadeiras vizinhas pra evitar os respingos de água, enquanto mantinha a mesa erguida com o joelho. Não tinha uma única viva alma na praça! Só eu naquela situação ridícula. E não podia nem sair dali porque, mal ou bem, tinha aquele guarda-sol que protegia um pouco do dilúvio.

Enfim, a tempestade foi diminuindo, diminuindo. Durou uns 15 minutos. Exatamente o tempo que eu reservei pra tomar um café, tranqüilamente sentada numa mesinha na calçada...

Ingenuidade minha né? Quem mandou fazer isso num 18 de outubro?

Podem ficar sossegados que ainda tenho um tempo por aqui pra realizar esse sonho. Só não vou escolher de novo, o dia do meu aniversário!


Até a próxima!

sexta-feira, setembro 30, 2005

Edição especialíssima.

Hoje foi o dia do resultado da submissão do artigo do Vidal e a resposta foi...

ACEITO!!!!!!!!!!

Vocês não podem imaginar o nosso alívio e alegria! Sabemos que foram muitas as orações e os pensamentos positivos que vieram daí. Aliás, acho que o "povo lá de cima" ouviu tanto que chegou a um ponto do "Tá bom! Tá bom! A gente já entendeu! Vamos antender de uma vez esse galera. E depois, o menino trabalha bastante... ele merece!".

O nome do congresso no qual o trabalho do Vidal foi aceito é "Journées Francophones sur la Cohérence des Données en Univers Réparti". Tudo bem, ninguém entendeu nada, eu sei. Não vou nem perder tempo tentando traduzir porque nem em português faria muito sentido mesmo... O importante é a sigla do evento. A partir do nome eles decidiram que a sigla seria CDUR. O que isso tem a ver? Vocês já vão entender...

Em francês, CDUR se pronuncia como "c'est dur" que quer dizer "é duro!". Desde que o Vidal começou a escrever esse artigo ele já disse: "c'est dur!". Na verdade, não é duro. É duríssimo! E eles fizeram jus ao nome até o fim! A data de anúncio do resultado era 15 de setembro. Chegou o dia 15 e nós estávamos tão tranqüilos quanto fios de alta tensão desencapados e caídos numa poça d'água. Desde cedo, de tempos em tempos o Vidal verificava a caixa postal pra ver se tinha chegado a resposta. Assim... a cada 15 segundos mais ou menos. Passou o dia e nada!

Na manhã seguinte ele mandou uma mensagem perguntando se tinha acontecido algum problema e ficou sabendo que a data de resposta tinha sido alterada para 30 de setembro. Só que eles não tinham tido tempo de atualizar o site. A vontade que eu tive foi de perguntar se pelo menos eles teriam tempo de arranjar uma camisa de força pra mim e pro Vidal porque a gente ficou num estado...

Enfim, os dias se arrastaram até hoje. Tínhamos várias coisas administrativas pra fazer logo cedo, e, depois da burocracia, podia vir a alegria ou a agonia, da resposta, tudo dependia... (vejam como estou poética hoje! Daqui a pouco vai sair até batatinha quando nasce!). Fui levar o Vidal na Universidade e, claro, fomos juntos até a sala dele pra ver se tinha chegado a resposta. Normalmente, nesses congressos as respostas chegam cedo, afinal, é só enviar as mensagens com as avaliações que foram feitas nos dias anteriores. Mas não pra esse congresso, afinal, c'est dur, né? Nada de resposta! Realmente, é pra testar a resistência dos dentes de cada um, afinal, a gente passa o dia roendo tudo o que vê pela frente, das unhas da mão aos pés da mesa.

O sufoco só acabou em torno das quatro da tarde, com a resposta da aceitação!

Eu tinha dito que esse último ano seria o da colheita, não tinha? Eu realmente acredito que o resultado de muita dedicação e de muito empenho, como é o caso do Vidal, até pode não ser a glória suprema, mas não tem como não ser o sucesso, na forma do atingimento dos objetivos. Tinha de ser assim!

A noite foi de comemoração! Pedimos uma pizza e eu fiz uma pratada de brigadeiro que foi devidamente partilhada por quatro colheres gulosas no sofá da sala! É ou não é uma grande comemoração?!

Mais uma vez, muito obrigada pelas orações, pelo apoio, pelo incentivo que todos vocês nos têm dado. Isso é muito importante pra nós e nos faz seguir adiante mais facilmente.

Ah! E dia 15 de outubro tem outro. Haja coração! Só espero que no dia 15 a gente possa ter brigadeiro de novo aqui em casa!

terça-feira, setembro 13, 2005

Dois anos... Na verdade, foram dois anos no dia 10, mas eu não consegui publicar nada exatamente no dia. O que me fez pensar que o que caracterizou esse nosso segundo ano por aqui foi justamente ter menos tempo...

O primeiro ano foi o das descobertas, o segundo, o das rotinas. Só que rotina aqui não tem nada do sentido ruim que muita gente dá pra palavra, ao contrário. Estabelecemos uma rotina pra cada um de nós, e passamos a viver mais tranqüilos, embora com menos tempo. Parece estranho isso, né? Mas a verdade é que justamente o fato de ter uma rotina estabelecida, não nos deixa espaços vagos no tempo e, com isso, nos sentimos seguros.

Rotina e segurança são as palavras que definem essa segunda parte da nossa vida fora de casa...

Depois dos altos e baixos do primeiro ano, atingimos a calmaria, o que não quer dizer, necessariamente, menos sofrimento. O ano que passou foi complicado, especialmente no que diz respeito ao trabalho do Vidal. Passamos por momentos realmente muito difíceis quando chegamos de volta do Brasil. Momentos que eu não gosto nem de lembrar, coisas que nos fizeram duvidar de que conseguiríamos levar tudo isso até o fim.

Falávamos tanto no assunto aqui em casa que um dia o Felipe chegou pra gente e perguntou : "O que é peer-to-peer?" (é um dos assuntos da tese do Vidal). Foi aí que percebemos o quanto esse tema era presente nas nossas conversas.

Não quero descrever em detalhes o que aconteceu nesse período! Isso vai ser assunto para uma mesa de churrasco ou uma roda de chimarrão, principalmente porque já passou. Felizmente. Claro que ainda faltam as aceitações das publicações do Vidal. Sem isso não vai dar pra sentir que realmente tudo vai super bem. Mas temos a esperança (sempre ela!) de que tudo vai entrar nos eixos, já que o Vidal trabalhou MUITO nesse segundo ano. E quando eu digo muito, quero dizer muito MESMO. Perdi a conta de quantas madrugadas e finais de semana em seqüência ele trabalhou. E sei que todo esse trabalho vai ser recompensado... Depois de amanhã temos mais uma resposta de congresso. Se o trabalho for aceito, vamos ter a confirmação de que todo o retorno está chegando.

Se for pra fazer uma comparação, podemos dizer que o primeiro ano foi pra arar a terra, o segundo ano foi para plantar, e o terceiro, esperamos, vai ser para colher! O otimismo e a esperança não nos abandonam jamais!

Agora o nosso espírito começa já a se preparar para a volta. A verdade é que desde o dia em que chegamos começamos a falar da partida, a prever e a planejar como faremos. Esse planejamento (às vezes excessivo, é bom reconhecer) faz parte de nós, não tem jeito. Mas o que vocês esperavam de duas pessoas da área de Informática? Chega a ser irritante de tão planejadinho! É por isso que eu estudo Letras: pra ver se coloco um pouco de desordem nos nossos planejamentos (porque na casa não precisa, a Ana Luíza se encarrega sozinha da tarefa! É um verdadeiro furacão!).

Só que, ao falar da partida, já prevemos um outro problema que é, exatamente, a partida. Vai ser muito duro deixar pra trás as pessoas que conhecemos. Quando saímos daí, foi difícil, foi doído. Mas sabíamos que íamos voltar. Agora, vamos deixar uma parte de nós por aqui, mas sabendo que a volta... talvez não aconteça. Esperamos que haja uma invasão francesa no Brasil, tantas foram as pessoas que convidamos pra nos visitar. Mas mesmo que as visitas aconteçam de ambos os lados, sabemos que não é como viver na mesma cidade.

Quando decidimos vir, esse não foi um detalhe que planejamos: a separação. E ela é dura. Faz parte da vida, sabemos disso. Mas nem por isso, ela é menos doída.
Ei! Sem ciúmes por aí, hein? Aqui temos todos coração de mãe: cabe ainda muito mais gente!!!

Agora temos diante de nós um terceiro, e último, ano. Na verdade, nem é um ano... São só 10 meses. E sabemos que eles vão voar. Em pouco tempo estaremos de volta pra recomeçar de onde paramos. Diferentes, mudados (pra melhor, eu imagino) e, certamente, crescidos. E com muitas histórias pra contar!

Que venha o último ano!

terça-feira, agosto 23, 2005

Cof! Cof! Cof!!!! Como está empoeirado isso agui, gente!

Tem alguém aí ainda?! Deu pra notar que estive de férias?

Meus pais e minha irmã estiveram por aqui em agosto e eu fiquei a léguas de distância desse micro... Agora que foi todo mundo embora, vou voltar à minha vidinha... Semana que vem recomeçam as aulas e tudo volta ao normal.

O Felipe vai começar a primeira série!!! Nem dá pra acreditar. Não sei o que está deixando ele mais ansioso: a volta da escola, a visita da Carolina e do Rony na semana que vem, o aniversário dele no dia 5, ou o jogo do Teen Titans que sai em outubro! No fim das contas, acho que é o jogo mesmo... Oh, vida!

Durante as férias, passeamos um pouquinho. Fomos à Bélgica e à Holanda. Na ida e na volta, aproveitamos pra conhecer mais alguns lugares pela França. Passamos novamente pelo Mont-Saint-Michel e, dessa vez, vimos a subida da maré. É uma coisa impressionante mesmo. No resto do tempo em que meus pais estiveram por aqui, aproveitamos pra fazer pique-niques aqui por perto. Eu, eles e as crianças (a Renata já tinha ido embora e o Vidal não teve férias! Só uma semaninha, mas levando o notebook junto...). Conhecemos cidades vizinhas, visitamos produtores de vinho, tentamos uma praia... Só que aqui, praia, nem pensar! A água é gelada DEMAIS! Mesmo quando faz um calor imenso, a temperatura da água não passa muito de 19 ou 20 graus! Eu não molho nem o dedão do pé. Já o Felipe e a Ana Luíza adoram!

O Vidal anda, como sempre, trabalhando MUITO. Tem um artigo pra entregar no dia 3 de setembro e esperamos uma resposta de conferência para o dia 15 de setembro. São esses malditos artigos que nos fazem sofrer no momento. Enquanto ele não começar a ter os trabalhos publicados não dá pra sentir que a coisa está bem de verdade! Também não podemos começar a preparar a volta, a pensar no retorno... Na verdade, já começamos a voltar... aos pouquinhos... Por enquanto, só foram livros e algumas roupas de carona na bagagem dos meus pais. Todo mundo ficou de olho comprido no aeroporto, pensando se não dava pra gente também ir dentro daquelas malas...

Receber visitas é ótimo! Mas o momento do adeus... é de matar. O coração vai se esticando, querendo ir junto. É sempre tão doído! E o problema nem é esse. É que a cada vez que pensamos na hora de partir, nos damos conta de que agora vamos deixar muito de nós por aqui também. Conhecemos pessoas maravilhosas, fizemos amigos de verdade. Pra sempre vamos ter essa divisão: uma parte de nós vai ficar pra sempre ancorada em terras francesas...

Mas vamos deixar as coisas melancólicas pra lá! Vamos às boas notícias...

A Ana Luíza já falou a primeira palavra em francês: "ovoá" (au revoir. Acho que ela também já está se preparando pra partir...). Em português já sai muita coisa, mas o que ela mais fala mesmo, é o "analuizês". É MUITO engraçado. Ela fica parada na nossa frente e fala, fala, fala... Faz gestos, dá risada. Tem todo tipo de entonação: surpresa, segredo, divertimento, alegria, medo, raiva, sussurro. Tem horas em que ela dá bronca: dedinho em riste, ela diz "Tati tata, prrr slhpat! Gãghiiii plafff!" E junta as sobrancelhas no meio da testa, olhando bem nos olhos da gente. Dá pra entender direitinho! É uma pena que a gente não tenha como gravar essas "conversas" todas.

Em outros momentos é só carinho. Ela abraça e beija todos nós, além das bonecas, dos bichinhos. É uma graça.

O que ela mais gosta de fazer é o "vesgo". Ela começou com a história de ficar vesga de propósito e a gente achou engraçado. Agora ela faz toda hora! Já estou até desencorajando por medo de que ela acabe tendo algum problema.

Na semana que vem eu recomeço também no patchwork. Já estou sentindo muita falta da minha máquina de costura. Como esse é nosso último ano por aqui, quero aproveitar. Depois de voltarmos pro Brasil, volta a vidinha dura de professora e estudante e aí, acabou a moleza! Fiz uma página com fotos da minha "produção" 2004/2005, quem quiser dar uma olhada é só clicar no http://juliana.martins.free.fr/patchwork.htm. Olhando lá vocês vão entender porque eu tenho escrito pouco aqui nesse blog... Até eu me assustei quando coloquei tudo junto!

Também vou colocar mais fotos no Foto Blog. Agora mesmo!

Percebi que acabei apagando fotos que já tinha publicado. Foi sem querer. Um dia eu volto a colocá-las. Por enquanto, vou incluir só coisas novas!

Até a próxima!

quarta-feira, junho 29, 2005

Sábado passado eu fui ao mercado. Vocês devem estar se perguntando o que isso tem de especial. Mas depois dessa visita, pensei que tenho de contar umas coisas pra vocês.

Primeiro, vou contar o que aconteceu comigo em Castro quando estivemos no Brasil no fim do ano...

Eu tinha uns postais pra mandar aqui pra França. Também era um sábado e fui ao correio que fica do lado da casa da avó do Vidal. Vi um rapaz dentro da agência e empurrei a porta, mas ela não abriu. Daí vi uma plaquinha dizendo que o horário de atendimento aos sábados era até o meio dia. Olhei no relógio: 12h45. Realmente já fazia tempo que estava fechado. Já ia voltando pra casa, resignada, quando o rapaz abriu uma porta lateral e perguntou o que eu queria.

- Queria mandar uns postais, mas não tinha visto que estava fechado.

- Pode entrar aqui.

- Não! Não precisa! Eu mando depois, obrigada.

- Não tem problema, pode vir.

Entrei, entreguei os postais. Ele ainda se desculpou: "Só que eu só vou poder despachar na segunda-feira, tudo bem?". Eu disse que não tinha problema nenhum, paguei e saí.

Isso nunca, jamais, sob qualquer hipótese, de maneira alguma, aconteceria aqui na França! Aliás, muito pelo contrário, e é aí que entra a história do mercado...

Esse, especificamente, fechava às 19h00. Fechar às 19h00 significa dizer que nessa hora todo mundo (leia-se, os funcionários) quer estar na porta, de bolsinha na mão, pronto pra partir. Então, lá pelas seis começam os preparativos... Ainda bem que eu não gosto de peixe, porque nesse momento já não tem mais peixes pra comprar. Foi tudo recolhido. Frutas e verduras também já começam a desaparecer...

Seis e meia. Pelo alto-falante, nós ouvimos: "Estimados clientes, gostaríamos de informar que em meia hora nosso estabelecimento fecha suas portas. Agradecemos a visita."

Seis e quarenta. "Caros clientes, em vinte minutos encerramos nossas atividades. Queiram, por favor, procurar o caixa mais próximo. Obrigado".

Nessa hora começam a serem apagadas as luzes do fundo do mercado. Você já não acha ninguém pra pesar frutas e legumes.

Seis e quarenta e cinco. "Em quinze minutos, fechamos. Por favor, dirijam-se ao caixa". Mais luzes são apagadas.

Quem ainda está andando de cestinha ou empurrando carrinho pelo mercado, já quase totalmente no escuro, recebe a visita do segurança. "Senhor, estamos fechando". Você olha pro lado, depois pra cima. O cara é geralmente do tamanho de um armário. De imbuia. Não dá nem pra pensar em discutir ordens. Isso aconteceu com o Vidal...

Seis e cinqüenta. "Em dez minutos estamos picando a mula. Você aí com essa cebola na mão. É, você mesmo. Pode tirar suas patas daí e procurar um caixa! É isso aí. Vazando todo mundo!".

E isso não acontece só no mercado não!

Uma vez eu estava numa loja de móveis na periferia da cidade. De repente, todas as luzes se apagaram, a música que estava tocando acabou, sumiu todo mundo! Eu saí da loja, achei que tinha acontecido alguma catástrofe, um ataque aéreo, um atentado, sei lá. Daí vi que na porta tinha uma placa com o horário de funcionamento. A loja fechava para o almoço, do meio-dia dia às duas. Sem choro! Fiquei duas horas sentada do lado de fora esperando abrir! Chorando. De raiva!

Já me aconteceu um dia de estar num mercado vendo preços de máquinas fotográficas. Faltavam dez minutos pra fechar quando chegou um segurança do meu lado:

- Senhora, estamos fechando.

- Eu não vou comprar nada, só estou anotando os preços.

- Mas estamos fechando.

- Mas eu não vou comprar nada! Só estou olhando.

- Só que enquanto a senhora não sair daqui aquela moça ali do caixa não pode ir embora.

- E EU COM ISSO! ELA RECEBE PRA FICAR ATÉ ÀS NOVE, NÃO É? ENTÃO ELA QUE ESPERE!!!

Claro que eu não falei isso... Vocês me conhecem. Murmurei um "tudo bem" inconformado e saí. Mas que eu pensei, ah pensei!

Semana passada foi no correio. Eu estranhei aquela solicitude! Tinha três funcionários pra me atender. Cada um fazia uma coisa diferente, super rápido. Eficiência total. E eu que já estava me achando especial, quando virei pra trás e vi um quarto funcionário fechando as cortinas... Daí entendi tudo. Faltavam cinco minutos pra fechar o correio. "Igualzinho" ao colega brasileiro...

Eu sei, eu sei, eles é que estão certos, afinal, eles não são pagos pra fazer hora extra. Aqui nem seriam hoooooras extras, no máximo, minutos extras. Mas que dá uma saudade do Brasil nessas horas, isso dá...

sexta-feira, junho 17, 2005

SOCORRO!!!!!!

Desenterrem o Eistein! Alguém tem de conseguir explicar porque o tempo está passando mais rápido e a gente não consegue mais fazer o que fazia antes!!!

Eu achando que tinha escrito há uns 15 dias, descobri que já faz mais de um mês! Tanta coisa aconteceu nesse tempo...

Primeiro, recebemos a visita da Zélia (vejam fotos no Foto Blog, que aliás, também está jogado às traças digitais...). Foram dias maravilhosos! Ter gente da família por perto é uma coisa muito boa quando estamos tão longe. O difícil, mas difícil mesmo, é a hora da partida! De partir o coração... Mas nem por isso as visitas estão desencorajadas, viu? Aproveitem porque hotel gratuito na Europa, só por mais um ano! É, isso mesmo. Só mais um ano e estamos de volta...

Também tivemos duas notícias chatas...

Primeiro, o pedido de bolsa que o Vidal fez foi negado. A resposta veio semana passada... Nada de bolsa. Aliás, nem bolsa, nem sacola, nem mochila, nem malão, nem malinha, nem mesmo uma pochete! O Vidal disse que não esperava, mas eu, lá no fundo, tinha uma esperança. Mínima, minúscula, ínfima, raquítica, quase transparente, mas tinha... Tudo bem. Vamos sobreviver sem ela!

A segunda notícia é que um artigo que o Vidal submeteu a um congresso não foi aceito. Isso sim nos abalou. Para o que Vidal tenha o título de ‘dotô’ é preciso ter pelo menos uns três artigos aceitos em conferências. E o problema com esses artigos é que na maioria das vezes não é possível mandar o mesmo texto para duas ou mais conferências. Cada conferência quer um texto inédito. Então são meses escrevendo, daí o texto é enviado, aguarda-se mais uns meses pelo resultado. Isso significa que ficamos quatro, às vezes, cinco meses esperando por essa resposta. É um sofrimento... Principalmente quando a resposta é não.

A recusa faz parte. Com todo mundo é assim, a gente entende. O duro é quando acontece com a gente!!!

Agora estamos animadinhos com a possibilidade de mudar de apartamento. Apareceu um para alugar no mesmo prédio em que moramos (na verdade, no bloco vizinho) com DOIS quartos! Se der certo mesmo, vou me sentir no palácio de Versalhes! Mas, novamente, o vil metal pode atrapalhar nossos planos... Mudar custa caríssimo: taxa de imobiliária, mudança da antena da tv, os papéis de parede que vamos ter de trocar no apartamento em que estamos porque foram devidamente ‘decorados’ pelas crianças... Minhas esperanças nessa mudança estão no mesmo nível daquelas que tinha para a bolsa.

Eu vou dando notícias... Mais curtinhas, menos ‘literárias’, mas pelo menos não deixo vocês se esquecerem de nós...

Até a próxima!

quarta-feira, maio 11, 2005

Vocês podem estar achando que minha vida de Rainha do Lar anda menos importante, já que faz tempo que eu não tenho um ‘causo’ doméstico pra contar. Nada disso! A minha lida aqui com meus produtos de limpeza continua firme e forte! Limpo, lavo, passo, cozinho, junto brinquedos do chão pelo menos umas cinco vezes por dia... Claro que eu tenho uma ajuda de alguns eletrodomésticos. Aspirador de pó, máquina de lavar roupas... Aliás, falando nela...

Eu já contei por aqui que alguns dias depois que chegamos o que eu mais queria era escutar música. Não qualquer música, mas sim uma em particular: o batuque ritmado de uma máquina de lavar roupas... Eu chegava a sonhar à noite com isso.

Pois bem, nos mudamos e compramos uma máquina. Como eu fiquei feliz! Já o Vidal quase ficou descadeirado pra fazer subir a máquina até aqui em cima (ela foi, de longe, a coisa mais pesada que ele carregou). Mas eu não via a hora de instalar a bichinha. Eu arrumei o cantinho dela, nós retiramos sofregamente todas as proteções da embalagem (vejam como é a vida... tem casais que retiram sofregamente a roupa... a que ponto chegamos!), ligamos o fio na tomada e... percebemos que uma máquina de lavar roupas é um eletrodoméstico um pouco mais complicado. Precisa de energia elétrica, tudo bem, isso a gente sabia como fazer, mas também precisa de uma entrada de água e de um lugar pra escoamento! Puxa vida!

O lugar da máquina é ao lado do pianque (aquela mistura de pia de cozinha com tanque sobre a qual eu já falei aqui) e não tinha nada preparado na parede pra receber a minha maquinazinha. O Vidal teve a audácia de sugerir:

- Bem, o encanador vai vir daqui a quinze dias fazer a reforma no banheiro, daí a gente pede pra ele instalar a máquina.

Ao que eu, prontamente, respondi:

- NEM PENSAR! Não quero ficar mais quinze dias lavando roupa na mão. Não, senhor! Vamos ligar essa máquina hoje mesmo!

Sábia decisão. Não sei se vocês estão lembrados, mas o encanador, que era pra vir em quinze dias, só apareceu dois meses depois! Já pensou? Ficar dois meses sem máquina de lavar roupa?

Pra escoar a água era fácil: a gente colocou o cano pendurado no pianque e tudo bem. Mas pra fazer entrar água na máquina a gente ia ter de ligar o outro cano direto na torneira, o que não era possível sem uma pecinha especial. O Vidal olhou pra mim segurando o cano em uma mão e a torneira na outra, abriu a boca e... não falou nada. Desconfio que alguma coisa no meu olhar fez com que ele desistisse da idéia de argumentar e resolvesse sair imediatamente pra comprar a tal pecinha.

Mas, como tínhamos acabado de nos mudar, por mais que eu quisesse muito ver a máquina funcionando cheia de roupas dentro, havia coisas mais urgentes a serem feitas como, por exemplo, dar uma limpada no banheiro pra gente poder tomar banho, tirar o plástico do colchão pra gente ter onde despencar o esqueleto, empilhar as caixas pra gente poder passar de um lado para o outro da maneira menos perigosa possível. Então, quando conseguimos ligar a máquina, já era quase meia noite.

Enquanto o Vidal ia conectando as coisas, eu ia lendo o manual de instruções, como se fosse um romance, imaginando as cenas das roupas saindo limpinhas da máquina sem que eu tivesse esfregado uma por uma antes! Um verdadeiro sonho!

Muito bem! Tudo instalado e pronto para o primeiro teste! Lá no manual dizia: ‘Utilize o programa número 1 para roupas de algodão muito sujas’. Perfeito! Era exatamente esse o caso: meias do Felipe que um dia tinham sido brancas, camisetas com respingos de molho de tomate, calças jeans que há muito não viam uma água com sabão... Enchemos tudo, colocamos a danada pra funcionar e nos sentamos próximo à mesa da cozinha pra ficar ali, olhando pra ela, assistindo comovidos aos seus primeiros movimentos e ouvindo o suave e discreto som do seu trabalho: chec, chec. Chec, chec. Chec, chec. Chec, chec. Chec, chec....

Rorrrrrrrrrrrr! Esse foi o som do ronco do Vidal que me acordou. Estávamos os dois, ele roncando e eu babando na mesa da cozinha. A máquina? Trabalhando! Uma hora já tinha passado depois de termos colocado a danada pra funcionar e ela não estava nem na metade do programa ainda!

O programa número 1, significava, na verdade, fazer a máquina passar por todas as sete etapas de lavagem para tecidos de algodão. Nem sei que horas eram, mas já era muito tarde. Eu sugeri deixar a máquina trabalhando e irmos dormir deitados, nem que fosse sobre alguma caixa de papelão, mas o Vidal achou mais prudente desligar a máquina e terminar a lavagem no dia seguinte. Dessa vez, a sábia decisão foi dele...

No dia seguinte, a primeira coisa que eu fiz foi ligar a máquina e continuar a limpeza e a arrumação das outras coisas. E assim foi: ela trabalhando no canto dela e eu no meu. E ela trabalhava. E eu também. E ela trabalhava. E eu também. Até que eu cansei e ela... continuou trabalhando! Cheguei a pensar que ela estava engasgada em algum dos sete passos do programa, mas não! Lentamente, mas põe lentamente nisso, ela avançava. Até que chegou no último passo: a centrifugação.

Parênteses. Quando fomos comprar a máquina, a vendedora que nos atendeu disse que ela era ótima e que, vejam só, chegava a até mil rotações por minuto na parte de centrifugação! Eu nunca tinha visto isso na vida, já que aí no Brasil as máquinas que eu conhecia ou centrifugam ou não centrifugam e pronto. Mas diante da vendedora fiz uma cara de muito satisfeita, do tipo ‘Ah bom, se não fossem as 1000 centrifugações por minuto eu nem ia querer saber dessa máquina’, quando, na verdade, ela era A opção que tínhamos, já que, não por acaso, era a mais barata entre todas as lojas que tínhamos pesquisado.

Obviamente, quando fiz as regulagens de quantidade e temperatura da água, selecionei mil rotações por minuto na hora de centrifugar. Imaginei que a roupa sairia da máquina praticamente seca! Fecha parênteses.

A centrifugação começou e eu não estava ali por perto. Ninguém estava. Aí começou a vir um barulho estranho e eu fui ver o que era. A máquina tinha se movimentado para trás e estava batendo na parede da cozinha. Na verdade, ela estava pulando mesmo. Eu fui tentar puxá-la pra frente, mas lembrem-se de que eu disse que ela era o que de mais pesado tinha por aqui. Além do mais, eu estava com meu barrigão de sete meses que não ajudava grande coisa, muito pelo contrário.

Enfim, eu tentava puxar a máquina pra frente, e ela pulava feito uma cabrita pra trás. Desisti de puxar e resolvi só segurar pra ela não fazer um estrago grande, nem na parede, nem nela mesma. Segurei a máquina pela parte de cima e apoiei os cotovelos na tampa, enquanto fincava os pés no chão e empurrava a bunda pra trás, apertando os olhos, fazendo o máximo de força que eu era capaz pra ver se conseguia manter aquela coisa no lugar! O Felipe tinha vindo atrás de mim na cozinha e me olhava com os olhos do tamanho de dois pires! Senti que estava no fim das minhas forças e chamei:

- Vidal!

Nada.

- VIDAL!

Nada.

- VIDA-A-A-A-A-A-A-A-A-AL!!!!!

O Felipe começou a chorar.

O Vidal chegou correndo na cozinha e assumiu o posto de segurador da máquina até que ela parou. Que alívio!

Fomos investigar os estragos... Ela tinha feito um buraco na parede. Tudo bem. Não foi nada mais sério do que isso.

Percebemos que não ia dar pra usar as mil rotações por minuto. Então começamos a diminuir: 800. Não deu. 700. Nem pensar! 600. Pulos ainda. 500. Coices pra tudo que é lado. 400. Pinotes! Depois de 400, só tinha mais duas marcas nos controles: mínimo e sem centrifugação. Colocamos no mínimo. Finalmente, ela não saiu do lugar! O problema é que, no mínimo, a roupa sai pingando da máquina. Até eu, que tenho uma força que beira o ridículo, sou capaz de torcer melhor.

Desolação total! Com o clima horroroso que faz aqui, e sem secadora de roupa, não dava pra não centrifugar! Resolvemos ler o manual novamente.

Lá dizia: ‘Depois de colocar a máquina no local escolhido, nivelá-la ajustando os pés anteriores, firmando em seguida as porcas com a chave fornecida. Atenção: todo nivelamento imperfeito provoca instabilidade da máquina, um funcionamento barulhento e risco de panes e rupturas’.

Estava explicado. Não tínhamos regulado os pés da máquina. Toca o Vidal pro mercado de novo pra comprar um nível daqueles de pedreiro e marceneiro. Vocês sabem que quando é pra fazer alguma coisa, a gente faz bem feito.

Mesmo com todo o aparato técnico, foi meio difícil ajeitar o nível porque era necessário levantar a máquina (leve como um hipopótamo), ajustar os pés, abaixar a máquina, olhar o nível, e assim sucessivamente até a gente perceber que era impossível! Na verdade, foi o Vidal quem concluiu brilhantemente que não dava pra colocar no nível uma coisa de quatro pés se ele só podia mexer nos dois pés da frente (os de trás eram rodinhas, não dava pra mudar a altura).

Aí o Vidal teve uma outra idéia. Foi novamente ao mercado e voltou com um serrote e um formão! Isso mesmo! Um formão, aquele instrumento que serve pra esculpir madeira.

Ele pegou uma ripa que tinha sobrado nem sei de qual embalagem e cortou um retângulo um pouco maior do que o espaço da rodinha da máquina. Então, entalhou um buraco do tamanho exato da rodinha. Horas e alguns cortes na mão depois, ele encaixou esse pedaço de madeira na rodinha traseira e aí, com o nível, foi ajustando a altura da máquina, serrando, entalhando, lixando até que a máquina ficou perfeitamente nivelada. A peça de madeira esculpida ficou de dar inveja ao Michelangelo!

Nova experiência de lavagem de roupas. O Vidal ansioso, me perguntou:

- E daí?

- Silêncio absoluto na cozinha!

<>A gente nem teve muito tempo pra comemorar. Na hora que começou a centrifugação, lá se foi a cabrita dando pinote de novo. O Felipe ficou histérico e, nós, resolvemos nos render.

Todas as vezes em que eu colocava a roupa pra lavar, ficava do lado da máquina esperando pra segurá-la na hora da centrifugação. Quando o Vidal estava em casa, ele mesmo segurava a cabrita. O Felipe, invariavelmente, ia se esconder no quarto chorando embaixo da cama.

Começamos a falar pra ele que isso era bobagem, que não tinha problema, que era até divertido encostar na máquina e falar enquanto ela trabalhava e, aos pouquinhos, ele foi perdendo o medo e passou até a, corajosamente, nos ajudar a segurar a louca.

Daí ficamos assim: eu punha a roupa pra lavar e deixava a centrifugação no mínimo. Depois que ela terminava o serviço, eu colocava de novo pra centrifugar e ficava por perto. Quando ela começava a dar pinote eu montava na bichinha e gritava: ‘Seguuuuuuuuuuuuuura peão! Quem-tem-amor-tem-saudade-quem-não-tem-chora-uma-barbaridade!’ Barretos que me aguarde!

Claro que a gente deixava em 400 rotações por minuto, porque nas mil rotações não dá pra suportar. Ela chacoalha tanto que a gente tem a sensação de que o cérebro está chacoalhando também! Mesmo assim, quase no mínimo, na época em que eu amamentava a Ana Luíza tive a impressão de que uma vez ou outra ela não conseguiu mamar direito. Acho que meu leite acabou virando manteiga. Sei não!

Com o tempo eu fui ficando mais confiante. Ou preguiçosa, depende do ponto de vista! Primeiro eu parei de segurar. Passei a colocar só o pé na frente, enquanto aproveitava o tempo pra lavar a louça, por exemplo. Depois, comecei a deixar que ela pule e vá aonde bem entenda. Ela é limitada pelo fio da energia elétrica mesmo, então seus passeios não vão muito longe. Às vezes ela vai pra frente até parar no cesto de roupa suja, que empurra o cesto de lixo que gruda no armário que já está encostado na parede mesmo e não se mexe. Outras vezes ela vai pra direita ou pra esquerda e fica batendo na parede ou no pianque até que eu chegue pra puxá-la de novo pro lugar (isso quando eu não coloco um pote de amaciante ou a caixa de sabão em pó pra amortecer as batidas e deixo que ela fique sacolejando à vontade). Algumas vezes, milagre!, ela não se mexe! E não sei qual é a lei da física que explica isso mas, quando ela está em 400 ou 500 rotações por minuto, ela anda pra frente. Se a gente coloca 800 ou 1000 rotações por minuto, ela anda pra trás! Então, de vez em quando aproveito isso pra fazer o seguinte: ela vai pra frente, eu limpo o chão atrás dela, daí eu mudo a rotação e ela volta pra trás. Sozinha!!! Vejam que prático!

Claro que hoje ela não está mais na base da ‘ligação direta’! Não ia dar. Sabem o programa número 1? Demora três horas e meia pra completar! Quando a máquina estava ligada direto na torneira, a gente ficava esse tempo todo sem poder tomar água, cozinhar, lavar a louça. Sem falar no escoamento da água da lavagem direto na pia... Um horror! Não! Quando o encanador esteve por aqui tirando a banheira e colocando o box, ele fez também as instalações para a máquina. Ufa!

De qualquer maneira, mesmo pulando, tropicando ou estrebuchando, eu não viveria sem minha máquina de lavar roupas! Tudo bem que ela lava, mas não passa. Aliás, agora mesmo vou ter de parar de escrever porque, como eu disse um dia desses numa conversa, a pilha de roupas que eu tenho pra passar só não está mais alta do que as Twin Towers porque elas não existem mais! Oh vida!

domingo, maio 01, 2005

Mudança de endereço!!!

Eu já tive um sério problema com o UOL uma vez, e não sei porque fui criar meu Foto Blog justo lá! Tinha limite diário para envio das fotos, elas não ficariam mais do que sessenta dias disponíveis, uma porcaria!

Fucei, fucei e achei um outro lugar pra colocar nossas fotinhos... O princípio é o mesmo, só que, má notícia, o site é em inglês. É eu sei, às vezes isso é meio complicado, mas vai ser só no começo... Quem tiver alguma dúvida é só me escrever que eu explico!

Só que esse novo site é bem mais legal, vocês vão ver!

Anotem aí o novo endereço, então: http://www.flickr.com/photos/familiamartins/

As fotos do antigo site estão lá na parte marcada como Fotos Gerais e as imagens do passeio de hoje (quer dizer, de ontem, acabei de ver que passa da meia noite já!) estão na parte marcada como Puy du Fou.

Mas essa família está ficando chique demais gente!

Até! Agora vou dormir!!!

sábado, abril 30, 2005

Tivemos um sábado super legal por aqui!

Dia lindo, de verão mesmo. Fomos a um parque que fica a uns 80Km, chamado Puy du Fou (www.puydufou.com). É um parque temático e o tema deste é a Idade Média, os Vikings, A Guerra dos Cem Anos, em outras palavras, tudo o que possa dar origem a golpes de espada, explosões e tudo o mais. Já viram a alegria do Felipe nos espetáculos, né? Um dia inteirinho só vendo lutas, fogo, cavalos, aves de rapina...

Na verdade, todos nos divertimos muito. E acabamos o dia com o verdadeiro bronzeado turistão! Aquele que, quando você tira a camiseta e o óculos, parece que ainda nem tirou: duas bolotas brancas ao redor dos olhos, nariz e bochechas vermelhos, o desenho da gola e da manga da camiseta bem marcados no pescoço e no braço!

Amanhã já começo a publicar as fotos no Foto Blog. Eu ia fazer isso agora, mas fiquei sabendo que não posso! Já estou providenciando um outro endereço virtual para nosso Foto Blog. Esse de agora não gostei...

Ah! O link que eu tinha publicado não estava funcionando mas eu já arrumei!

Até a próxima!

terça-feira, abril 19, 2005

NOVIDADE!!!

Tudo bem, não arranjo tempo pra escrever, mas consegui fazer uma coisa que acho que vocês vão gostar. Criei agora um Foto Blog. O princípio é simples: é como um blog, mas a diferença é que eu publico uma foto e um pequeno comentário embaixo. ESPERO conseguir publicar com freqüência... Prometo!

O endereço é http://familiamartins.nafoto.net. Vou colocar um link aí do ladinho também para quando este post sair da tela.

Por aqui estamos todos bem. Passamos por um período meio difícil por causa do trabalho do Vidal mas já está tudo entrando nos eixos de novo. Graças às orações de todos vocês por aí! Temos certeza disso.

Mas eu não estou abandonando este blog às traças digitais, não! Uma nova historiazinha já está na minha cabeça. Vou publicar logo!

Até!

sexta-feira, março 11, 2005

Acho que eu já disse uma vez neste blog que o grande problema do mundo atual é a intolerância. As pessoas não aceitam as diferenças e, por causa disso, vivem em guerra, acontecem barbaridades, massacres e todo o tipo de coisa ruim.

O mundo está necessitando de tolerância para viver em paz. As pessoas deveriam exercitar diariamente o autocontrole e a compreensão. É preciso ter serenidade para conviver com o que é diferente. As religiões têm, no fim das contas, o mesmo objetivo. Partidos políticos têm opiniões diferentes, mas há espaço para que todos convivam em harmonia. Fabricantes de cerveja sabem que seus garotos-propaganda dividem a sua imagem entre todas as marcas pra ninguém ficar chateado. Times de futebol um dia ganham, outro dia perdem, e não precisamos brigar por isso...

Nós, aqui em casa, procuramos sempre compreender e aceitar o outro, mesmo seus piores defeitos, até quando é muito difícil. Diante do novo, do diferente, mantemos a serenidade, a calma. Tentamos entender as razões do outro, imaginar o seu mundo, as suas crenças. Exercitamos a empatia e a compreensão a cada dia. Recentemente, por exemplo, ficamos sabendo que a minha irmã trouxe para o seio da nossa família, um representante da torcida do time adversário. Na verdade, inimigo. Aliás, inimigo, não! Arquiinimigo!! Melhor dizendo, um daqueles p...

Calma! Vamos respirar fundo................ Isso... Todos juntos... Vamos imaginar a natureza, um céu azul, uma grama verde, garotos correndo, uma bola passando, um jogador agarrando a camisa do outro dentro da área e esse juiz fdp que nem marcou o pênalti!!!!!

Pérai! Não deu certo. Vamos tentar uma outra abordagem. Hum, me deixem pensar. Não! Essa não dá! Essa também não... Essa outra, nem pensar! Ih! Tá difícil.

Acho que, nesse caso, o melhor é a gente estabelecer umas regrinhas básicas para evitar problemas futuros. Mesmo porque, temos vários amigos que pertencem ao grupo do inimigo. Fazer o que, né? Nem todo mundo tem o nosso bom gosto. É por isso que decidi publicar as...

Regras para a convivência o mais pacífica possível entre torcedores de times (extremamente) rivais

Aí vão elas...

§1º - Evite ao máximo falar sobre futebol. Se, por acaso, você comentar alguma coisa e só depois se der conta de que o inimigo está presente, emende com alguma observação neutra como, por exemplo, ‘Será que chove hoje?’. Claro, observe antes se já não está chovendo mesmo pra não ficar muito evidente a manobra.

Alínea - A fim de que essas regras sejam, elas mesmas, o mais pacíficas possível, a partir de agora não usaremos mais expressões agressivas como ‘o inimigo’. Doravante (sempre quis usar essa palavra!) será utilizada a expressão ‘aquele que não teve o bom gosto de escolher o mesmo time que você’ ou, simplesmente, o Outro.

§2º - Em dias de jogos, evite encontrar o Outro antes da partida. É melhor também não cruzar com ele durante o jogo. Depois, então, nem pensar! Se for um confronto direto, o melhor mesmo é sair da cidade pra não correr nem o risco de passar perto.

§3º - Caso o encontro seja inevitável, adote uma das seguintes táticas:

- Se o jogo ficou empatado: essa é a situação mais fácil. Simplesmente sorria e faça algum comentário neutro como ‘Será que chove hoje?’, não esquecendo de verificar, antes, se já não está chovendo, etc., etc., etc.

- Se o seu time ganhou: sobretudo, não sorria! Assim que topar com o Outro, procure pensar em alguma triste como o seu time na zona de rebaixamento, por exemplo. Se não funcionar, tente pensar numa verdadeira catástrofe como o seu time rebaixado e o time do Outro campeão brasileiro. Isso vai ser mais fácil se o placar tiver sido magrinho. Agora, se o seu time deu uma lavada daquelas neles e a vontade de gargalhar for insuportável, pense rápido numa coisa muito engraçada pra dizer como, por exemplo: ‘Você sabe o que significa um pontinho prateado no jardim? Uma formiga de aparelho!’ ou ‘Sabe o que o tomatinho que estava atravessando a rua disse para o outro? Olha o carro! Ploch! Onde? Ploch!!’ e role no chão de tanto rir. Obviamente, evite piadas que façam qualquer referência à cor do time perdedor! Destruiria a estratégia.

- Se o seu time perdeu: mesmo que seja difícil, tente olhar para o Outro com a cabeça erguida. Claro, só faça isso se você conseguir evitar fuzilá-lo com esse olhar ou se conseguir não esmurrá-lo. Se não for possível, dê uma topada com o seu dedão do pé na quina da mesa pra poder falar todos os palavrões que você conhece sem despertar suspeitas. Novamente, se o placar foi modesto vai ser mais fácil. Mas, você saberá que atingiu o auge do autocontrole quando conseguir até rir da piadinha que ele contar. O problema é que acho que nem Madre Tereza de Calcutá atingiu esse nível.

§4º - É melhor evitar sinais ostensivos de torcida tais como: camisetas, bonés, bandeirinhas, chaveirinhos, etc. em dias de partida. Até mesmo a cor do time é bom banir do guarda roupa. A do seu time e a do time dele. A gente nunca sabe quando um mal entendido pode acontecer.

§5º - É comum torcidas utilizarem animais para fazer referência, seja ao seu próprio time, seja ao time do Outro. Assim, por exemplo, se você costuma se referir à torcida do Outro com algo sutil como ‘os porco’ (assim mesmo, misturando singular como plural que é pra ficar mais... suave) e, principalmente, se isso for de domínio público, não fica bem servir leitão à pururuca, com maçã na boca e tudo mais logo depois de uma derrota do time dele. Claro, se ele estiver presente.

Aliena - Importantíssimo! Jamais use esses apelidos ‘carinhosos’. É claro que só enquanto estiver na presença do Outro, porque quando ele não estiver por perto... aí, vale tudo! Mas, se por um azar do destino ele chegar e você for pego em pleno delito de agressões verbais explícitas, improvise. Puxe rapidamente algum assunto neutro como, por exemplo, ‘Será que chove hoje?’, não esquecendo, blá, blá, blá...

§6º- Você pode e deve ensinar aos seus filhos hino, gritos de guerra e tudo o mais que a torcida organizada inventar. De preferência, deve fazer isso enquanto eles ainda estão na barriga que é pra não correr o risco, nem mesmo o mais remoto, de ter o desgosto de, um dia (Deus me livre!) ter o sangue do seu sangue, a carne da sua carne, torcendo pelo time do Outro. Mas jamais permita que seus filhos cantem diante do Outro o hino ou muito menos aquelas musiquinhas simpáticas, inofensivas e pueris que as torcidas organizadas inventam para receber os rivais. Isso feriria mortalmente as regras aqui estabelecidas.

Alínea - Acho que nem é preciso dizer mas, use o seu bom senso e, jamais, mas em hipótese alguma, tente ensinar as musiquinhas do seu time para os filhos pequenos do Outro, nem dê de presente camiseta, chaveirinho, ou boné do seu time. Isso é golpe baixo demais e geraria uma ruptura sem volta e sem direito a apelação.

§ Último – Se você um dia atingir o ápice da perfeição e do desprendimento material e espiritual, pode comentar que chegou mesmo a torcer pelo time do Outro em um campeonato tipo Libertadores da América, afinal, a equipe estava lá representando o Brasil, e nesse momento as diferenças devem ser suplantadas, etc., etc., etc. Mas só faça isso se conseguir segurar os músculos da face e evitar gargalhadas quando o time tiver sido eliminado do tal campeonato com um gol contra, de mão, nos descontos do segundo tempo da prorrogação. Entretanto, se você disser isso de verdade, mas sinceramente mesmo, então, das duas uma: ou você não é torcedor coisa nenhuma, ou então pode ir ao Vaticano dar entrada no seu processo de canonização em vida!

É isso. Se os torcedores seguissem essas regrinhas, o mundo não seria um lugar melhor?

Ah! E seja bem vindo à nossa família, Sandro! A gente é do bem, pode acreditar. E nem vamos tentar te doutrinar.

Pelo menos, não muito!

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Estive pensando esses últimos meses e cheguei à conclusão de que o tempo passa, mas as coisas não mudam tão profundamente assim. Vou explicar. Quer dizer, na verdade, acho que uma historiazinha pode explicar melhor o que eu quero dizer.

Imaginem, então, o seguinte: um grupo de amigas conversando. O ambiente é uma sala de estar na casa de uma delas. Elas estão sentadas em roda, um café fumegante nas xícaras de porcelana colocadas sobre a mesa coberta com uma toalha de crochê, um pratinho de sequilhos recém-saídos do forno e todas falando e rindo muito. Mas o principal é a época. O ano é alguma coisa no início do século passado. Lá pelas tantas, uma delas pergunta:

- E a Fulana? Por que ela não veio hoje?

- Você não sabe?! - pela cara de espanto de todas as outras, a única que sabia o que tinha acontecido com a Fulana era ela mesma – Ela decidiu que vai trabalhar fora! Começou hoje.

Uma seqüência de "ohs" e "nãos" chocados se espalhou pelo ambiente.

- Como assim, trabalhar fora?

- Trabalhar fora. Sair de casa pra trabalhar e ganhar um salário pra isso.

- Não é possível!

- Mas como?

- Assim de uma hora pra a outra?

Então um silêncio de algumas toneladas despencou no meio delas. Algumas pensavam "é louca", outras, "que boa idéia!". E então, uma chuva de perguntas caiu sobre a única colega que parecia saber da vida da Fulana:

- Mas por que isso agora?

- Ela disse que quer ter o espaço dela. Que estava se sentindo sufocada.

- Mas e o marido? Ele está de acordo?

- Ela disse que está...

- Um dia ela vai querer voltar e vai encontrar outra no lugar dela, isso sim!

- Ela disse que sabe que está correndo esse risco...

- E os filhos? Eles vão ser apontados na escola, vão ser os únicos com a mãe nessa situação. Será que ela não pensa nas crianças?

- Pois é, eu disse isso pra ela.

- E nós! Quando nos encontrarmos, ela vai ficar deslocada, não vai ter mais assunto!

- Também disse isso pra ela, e ela disse que vai ser uma pena se isso acontecer, mas que ela sabe que tem várias mulheres que estão tomando a mesma atitude e que ela vai ter com quem conversar, sim.

- Não é verdade! Quem? Só estiverem fazendo isso escondido. Eu não conheço nenhuma! Quer dizer, agora conheço: a Fulana!

Novamente um silêncio constrangedor no ar... Cada uma perdida em seus próprios pensamentos, tentando entender a atitude da Fulana. Algumas realmente penalizadas, achando que a Fulana de repente tinha ficado menor, tinha passado a pertencer a um grupo, de certa forma, inferior. Outras talvez até estivessem pensando "E se eu fizesse a mesma coisa? Não! Não teria essa coragem...".

Então uma delas resolve aliviar o clima, mudar de assunto. Vira para o lado e, mostrando seu trabalho diz:

- Você podia me ajudar aqui com esse bordado? Não estou conseguindo interpretar esse gráfico...

Agora um outro cenário, uma outra época.

Um grupo de amigas conversando (podem até ser filhas ou netas das outras amigas, quem sabe...). O ambiente é um canto de uma sala numa empresa qualquer. Elas estão em pé numa rodinha, um café fumegante, recém saído da cafeteira, nos copinhos de plástico, um potinho cheio de bolachas água e sal (afinal, estão todas de dieta) na mesinha coberta com papel toalha que está do lado da máquina de xerox e todas falando e rindo muito. O ano é alguma coisa bem recente, início deste século XXI. Lá pelas tantas, uma delas pergunta:

- E a Fulana? Por que ela não veio hoje?

- Você não sabe?! - pela cara de espanto de todas as outras, a única que, novamente, sabia o que tinha acontecido com a Fulana era ela mesma – Ela decidiu que vai parar de trabalhar fora! Pediu demissão.

Uma nova seqüência de "ohs" e "nãos" chocados se espalhou pelo ambiente.

- Como assim, parar de trabalhar fora?

- Parar de trabalhar fora. Voltar pra casa pra cuidar do marido e dos filhos sem ganhar um salário pra isso.

- Não é possível!

- Mas como?

- Assim de uma hora pra a outra?

Então um silêncio de algumas toneladas despencou no meio delas. Algumas pensavam "é louca", outras, "que boa idéia". E então, uma chuva de perguntas caiu sobre a única colega que parecia saber da vida da Fulana:

- Mas por que isso agora?

- Ela disse que quer ter o espaço dela. Que estava se sentindo sufocada.

- Mas e o marido? Ele está de acordo?

- Ela disse que está...

- Um dia ela vai querer voltar e vai encontrar outra no lugar dela, isso sim!

- Ela disse que sabe que está correndo esse risco...

- E os filhos? Eles vão ser apontados na escola, vão ser os únicos com a mãe nessa situação. Será que ela não pensa nas crianças?

- Pois é, eu disse isso pra ela.

- E nós! Quando nos encontrarmos, ela vai ficar deslocada, não vai ter mais assunto!

- Também disse isso pra ela, e ela disse que vai ser uma pena se isso acontecer, mas que ela sabe que tem várias mulheres que estão tomando a mesma atitude e que ela vai ter com quem conversar, sim.

- Não é verdade! Quem? Só estiverem fazendo isso escondido. Eu não conheço nenhuma! Quer dizer, agora conheço: a Fulana!

Novamente um silêncio constrangedor no ar... Cada uma perdida em seus próprios pensamentos, tentando entender a atitude da Fulana. Algumas realmente penalizadas, achando que a Fulana de repente tinha ficado menor, tinha passado a pertencer a um grupo, de certa forma, inferior. Outras talvez até estivessem pensando "E se eu fizesse a mesma coisa? Não! Não teria essa coragem...".

Então uma delas resolve aliviar o clima, mudar de assunto. Vira para o lado e, mostrando seu trabalho diz:

- Você podia me ajudar aqui com essa planilha do Excel? Não estou conseguindo interpretar esse gráfico...

Agora me digam: não é verdade? Os tempos são outros mas os dilemas femininos, nem tanto. Pensei tudo isso porque passei pela situação de ter de parar de trabalhar para ficar em casa cuidando da família. Antes de vir pra cá fiz o Vidal prometer cinqüenta e duas vezes que ele não ia me achar menos importante porque eu passaria a ser "só" dona de casa. Aqui mesmo, sempre que me perguntam se eu trabalho fora, digo que não e já emendo "meu visto não me permite trabalhar fora", pra ninguém ficar pensando isso ou aquilo... Que loucura! E pensar que até relativamente pouco tempo atrás as coisas eram totalmente invertidas.

Por isso hoje queria fazer uma homenagem a várias mulheres. De propósito, não vou publicar isso no dia 8 de março porque acho simplesmente O FIM essa coisa de "Dia Internacional da Mulher". Quero parabenizar aquelas mulheres que tiveram a coragem de sair de casa quando tudo e todos estavam contra, mas também quero declarar minha admiração àquelas que, recentemente, decidiram voltar pra casa. Por um tempo ou pra sempre, tanto faz. E por escolha própria, sem ser por falta de alternativa, como foi o meu caso. Como essas últimas estão mais próximas de mim, vou citar alguns nomes. Beth, Cristiane, Sueli, Silvana... Quanta coragem vocês tiveram! Todas as outras, que não fizeram isso, são também corajosas porque vivem a eterna divisão "se saio pra trabalhar, não cuido dos filhos, do marido da casa, mas se fico em casa, não cuido de mim. Só que, saindo pra trabalhar fora todos os dias, não tenho tempo pra nada, mas também, se resolver ficar em casa, aí não vou ter dinheiro pra nada... oh vida, oh mundo cruel...".

Quer dizer, mulherada, não importa o que a gente faça, sempre vai estar em conflito. Então o negócio é relaxar e viver do jeito que a gente quiser de verdade. E ainda tem a TPM! Acho que a gente merecia receber do divino um adicional por insalubridade, não é?

sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Estamos de volta!

Claro, todo mundo já sabe disso, faz quase um mês... Sei que estou em dívida literária com nesse blog. Mas demoramos um tempinho até entrarmos nos eixos de novo. Uns, como o Vidal, foram mais rápidos. Quando ele chegou o cavalo já estava encilhado e andando, então ele montou, pegou nas rédeas e saiu galopando a toda velocidade. Outros, como eu, precisaram de mais tempo... No meu caso montei um jeguinho esquálido e demorei umas duas semanas até me sentir de novo no ritmo. Que coisa isso! Eu não imaginava que uma simples viagenzinha de 26 horas na ida, 23 horas na volta, que durou quase 40 dias fosse causar um estrago desse tipo!

Vimos tanta gente, falamos tanto e temos a impressão de que não vimos nem falamos o suficiente... Tudo bem. Em um ano e meio estamos de volta...

Apesar de cansativa, a viagem foi boa. Claro, tivemos alguns momentos tensos, mas nada grave. O primeiro deles aconteceu com o Vidal e foi dividido em duas partes: no dia em que saímos e no dia em que ele voltou à Universidade...

O Vidal tem um colega que divide a sala com ele, chamado Reza. Ele é iraniano e é uma pessoa super legal. Um bom companheiro para o Vidal que partilha os bons e maus momentos, além de ser alguém com quem ele pode conversar tecnicamente sobre o trabalho. Os dois se apóiam mutuamente nesse período que não tem nada de tranqüilo.

Pois bem. Vocês podem imaginar que a diferença de cultura entre iranianos e brasileiros é bem grande e ela já se fez notar várias vezes nesse um ano e meio de convivência entre os dois. Nada de muito grave de ambas as partes. Mas no dia em que o Vidal foi se despedir do Reza...

Ele chegou na Universidade pra pegar algumas coisas antes de sair e foi dizer tchau. Um simples tchau. Não era uma despedida definitiva. Só um “Então tá! Tô indo... Daqui um mês estou de volta, patati, patatá...” e aí, na hora do aperto de mão... Plaf! O Reza lascou três beijinhos no Vidal! Vocês já imaginaram um marmanjo dando três beijinhos no Vidal? Conseguem fazer uma idéia da reação dele? Nesse caso, foi uma absoluta falta de reação! Ele ficou meio catatônico por alguns segundos, com a mão ainda estendida no ar, a boca entreaberta, emitindo sons meio guturais como “ahn.... eh.....”. E o problema maior nem foi esse! O problema foi que o Vidal ficou os 40 dias ai no Brasil só tentando imaginar como ia ser na volta!!! E esse dia chegou...

Chegamos no domingo à noite e na segunda-feira cedo o Vidal já estava na Universidade. Ele chegou, abriu a porta da sala devagar, foi colocando a cabeça pra dentro e respirou aliviado. O Reza ainda não tinha chegado. Durou pouco o alívio. Uma meia hora mais tarde, o Vidal já estava concentrado no computador, limpando o lixo da caixa postal e, o pior, de costas para a porta. Então ele não teve a chance de se preparar para o golpe! Sim, porque ele veio! O Reza chegou e foi cumprimentar o Vidal. O tradicional aperto de mão. O Vidal com o braço meio duro, o pescoço esticado para trás, mas... Plaf, plaf, plaf! Três beijinhos de novo.

Naquele dia o Vidal chegou em casa completamente injuriado!

- Assim não vai dar! Espero que tenha sido só por causa do tempo longe e da distância! Mas se ele começar a adotar esse hábito todos os dias eu vou ser obrigado e a dizer que no meu país as coisas não são assim, que pra mim isso pega mal, que eu sou um professor universitário, pai de família, alérgico a testosterona, sei lá!

Mas vocês podem respirar aliviados... Foram só esses dois episódios mesmo! Tudo bem que o Vidal já está se preparando psicologicamente para o dia em que formos embora definitivamente! Talvez ele boicote as despedidas finais. Ele ainda está bolando alguma coisa...

Esse foi o primeiro episódio, digamos assim, delicado. O segundo aconteceu comigo.

Na ida, no momento em que estávamos passando pelo detector de metais e pelo raio X da bagagem de mão, já em Paris, eu fui chamada por um inspetor.

- De quem é essa mala?

- É minha.

- A senhora está levando uma faca aqui dentro?

- Faca? Não!

- Foi a senhora quem arrumou essa mala?

- Sim, fui eu.

- Pode abri-la, por favor?

Abri a mala e ela estava cheia de fraldas. Olhei para o inspetor com uma cara de “será que fralda corta”? Mas ele insistiu.

- A senhora não está levando um descascador de legumes aí dentro?

Aí caiu a ficha...

Como nosso orçamento aqui é gordo como um faquir, não podíamos levar presentes para todos como gostaríamos. Mas também não queríamos chegar de mãos tão vazias, então compramos uns chocolates e, para a mulherada da família, eu tive a idéia de levar um descascador de legumes. Eu já tinha vontade de comprar um desses quando estava aí no Brasil, mas como cozinhava uma vez a cada dois meses mais ou menos, acabava nunca comprando. Aqui a realidade é outra e eu já não posso mais viver sem um descascador de legumes. E, o melhor, ele é bem baratinho! Fui a um supermercado e comprei alguns. Eu devia ter imaginado que eles iam me dar problemas... No dia em que eu comprei as faquinhas a moça do caixa já me olhou com uma cara meio esquisita...

Isso quer dizer então, que eu não estava levando um, mas sim NOVE descascadores de legumes na minha bagagem de mão.

Levantei as fraldas e peguei a sacolinha onde estavam os objetos perfuro-cortantes impensáveis dentro de uma cabine de avião nesses tempos de terroristas loucos. Mas o pior nem foi isso...

Quando eu retirei a sacolinha, o inspetor pousou os olhos num tubo de cola spray para tecido. Um produto francês para patchwork super legal que eu estava querendo mostrar para minhas amigas aí no Brasil. Ele pegou a cola e eu falei:

- Ah! Isso é uma cola. Uma coisa ótima, eu faço patchwork, sabe... E essa cola é francesa, só tem aqui. Ela é o máximo e.... Ei! O que o senhor está fazendo?

Ele estava tirando a cola da mala e jogando no mesmo saco de lixo onde tinham ido parar os meus descascadores...

- Isso aqui é uma arma, madame!

E me mostrou um inocente desenho de um foguinho na embalagem.

- Isso aqui dentro de uma cabine de avião é um perigo. E eu não posso deixar a senhora entrar armada e com explosivos na aeronave.

Eu fiquei chocada. O Vidal até tentou me ajudar, dizendo que os descascadores tudo bem, ele até entendia, mas a cola. Será que não daria pra eles enviarem pra nossa casa aqui na França pelo correio? Precisava jogar no lixo sem dó nem piedade?

- E quem vai fazer isso, senhor?

Assim, super simpático. Mas aí ele viu meus olhos e nariz vermelhos, as lágrimas começando a correr pelo rosto e disse:

- Mas por que a senhora não despachou isso na bagagem embarcada? - olhou no relógio - Agora já não dá mais tempo...

Minha vontade foi de gritar:

- Porque eu não tinha nenhuma intenção de seqüestrar esse avião! Ele está indo exatamente para onde eu quero!!! Por acaso eu tenho cara de terrorista? Buááááááá.....

Mas eu vi que ele estava até meio penalizado com o meu estado. Não disse nada... Só fiquei olhando para o saco de lixo, onde estavam meus descascadores de legumes, quer dizer, meus não, de vocês, e a minha colinha... Buáááááá de novo!

O Vidal foi me empurrando.. “Deixa pra lá... Tudo bem, quanto custou tudo isso, 15, 20 Euros? Não tem problema...”

Mas eu fiquei inconsolável por uns 10 minutos. Depois passou.

É CLARO que eu vou levar de novo os descascadores de legumes quando formos embora definitivamente. Dessa vez, vou colocar dentro da mala que vai despachada, é óbvio! Mas que eu fiquei bem decepcionada.... Ah, fiquei.

Isso é passado, agora é tocar pra frente esse um ano e meio que ainda temos por aqui. Tenho várias coisas pra contar, mesmo coisas que já passaram, mas que merecem fazer parte dessas nossas memórias cibernéticas. Aguardem! Vamos ver se eu consigo ser mais assídua por aqui.

Até a próxima!