quarta-feira, outubro 27, 2004

Esses dias estava pensando na nossa ida ao Brasil e me toquei de uma coisa super importante: vou comer uma comida que não fui em quem fez! Não que eu não esteja cozinhando direitinho, muito pelo contrário (modéstia à parte...) Mas sempre é bom variar um pouquinho, né?

Eu sempre gostei da idéia de cozinhar. Digo que eu sempre gostei da idéia porque eu não conseguia fazer isso muitas vezes. Vivia comprando livros de receitas para os acepipes que, um dia, eu faria... Pois bem, esse dia chegou e eu tive de deixar todos os meus livros de receitas aí no Brasil! Trouxe um Dona Benta básico, um da Ofélia para os momentos de desespero, mais uma ou outra coisinha e só! Daí cheguei aqui e me vi diante de panelas vazias e estômagos, idem.

Preparei uma primeira refeição e até tirei uma foto pra registrar o momento solene:


Essa cara de felicidade dos dois foi ANTES de comer. Na verdade, aquela comida era horrível (eu tinha comprado um prato pronto pra ser mais rápido), o suco era intragável e a salada... Bem, a salada fui eu quem fez desde o começo. Mas não sei se foi o cansaço, a pressa ou só a minha falta de jeito mesmo, mas na verdade eu acabei colocando detergente de louça na hora de temperar a alface. A cor era a mesma!!! Claro que eu percebi a tempo e enxaguei bastante. Pelo menos tenho certeza de que nunca comemos uma salada tão limpinha!

Nos dias seguintes eu fui melhorando as coisas. Comecei a me aventurar em alguns pratos, se bem que a cozinha do flat não ajudava muito. Tinha poucas panelas, o fogão só tinha duas bocas, o forninho elétrico era minúsculo... Tá! Tá! E eu era totalmente sem jeito! Tenho de confessar...

Mas sobrevivemos e nos mudamos para cá. Acabaram as minhas desculpas. Eu tinha espaço e panelas. Inclusive o meu caldeirão de pressão (sobre o qual eu já falei pra vocês).

Uma das primeiras coisas que a gente fez aqui foi instalar a TV por satélite por causa do Felipe. Queríamos que ele se sentisse bem e nada como os Power Rangers, mesmo falando em francês, para levantar o astral dele. Mas qual não foi a minha surpresa quando descobri que, entre os vários canais que estavam à disposição, tinha um chamado Cuisine TV. Isso mesmo. Só culinária, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Receitas, dicas, filmes, técnicas, um monte de coisas! Comecei a assistir sempre que podia. Me cadastrei no site deles na Internet (tem todas as receitas lá, é ótimo!) E, pouco a pouco, fui tomando coragem para tentar algumas receitas...

Fui me empolgando, já estava quase me achando o máximo. Daí minha mãe veio para cá para me ajudar no fim da gravidez e nos primeiros dias da Ana Luíza. Descobri que meu caminho era longo ainda...

Não é que eu não estivesse cozinhando direitinho. Estava. Só que eu fazia coisas meio diferentes, tudo com receita, em poucas palavras, coisa de principiante. Aquilo de pegar um frango à unha, fazer uma carne de panela, um bom ensopado... Isso eu não fazia... Mas, em vez de me deixar abater, resolvi enfrentar o problema de frente. Aproveitei que a minha mãe estava por aqui e pedi para que ela escrevesse umas receitinhas básicas. Só o que fosse mais complicado como um arroz temperado, uma carne de panela... Ninguém nasce sabendo, né?

Logo que ela foi embora, retornei às minhas atividades culinárias. Tinha ficado um repolho meio pela metade na geladeira e eu decidi que aquele repolho ia marcar o início de uma nova era: resolvi fazer um cozido! Coisa de cozinheira mesmo! Daquelas de lenço na cabeça, avental e chinelo de pano! Uma verdadeira tia Anastácia!

Procurei no site da Cuisine TV algum prato com repolho e achei: "Potée au chou" (algo como cozido de repolho). Perfeito. Meu primeiro problema foi com os ingredientes. Olhei a lista e vi que eu ia precisar de: carotte, navet, poireau, une botte de céleri entre outras coisas. Tirando a carotte que eu sabia que era cenoura, quanto ao resto, fiquei boiando como folhas de couve numa sopa. Peguei o dicionário e traduzi tudo. Minha lista era composta de, em bom português, cenoura, nabo, alho-poró e um ramo de aipo. Melhorou, né? Só se foi pra vocês porque eu fiquei mais ou menos na mesma! Nunca tinha visto aquelas coisas pela frente (com exceção das cenouras, é claro). Decidi pegar minha listinha e ir ao supermercado mesmo assim. Felizmente eles têm a bondade de colocar o nome das coisas nas gôndolas. Às vezes colocam até a foto do lado. Acho que não sou a única perdida...

Não deu outra! Para minha felicidade, cada coisa daquelas que estava na lista, estava também na parte de frutas e verduras do mercado com seu nomezinho marcado embaixo. Só não consegui achar os nabos. Fiquei tentando imaginar como seriam nabos. Tenho de confessar: coisas obscenas passaram pela minha cabeça... Achei que o melhor era pedir informações. Tinha uma mocinha arrumando uns legumes. Cheguei perto dela, me apoiei numas bolotas brancas e falei:

- Por favor, você poderia me dizer se tem nabos hoje? Eu não consegui encontrar...

Ela olhou pra mim com uma cara de "não entendi" e falou:

- São esses aí.

Eu estava com a mão em cima deles! Tudo bem, acontece. Murmurei um "Nossa! Que cabeça a minha!", peguei os ditos cujos e me mandei pra casa.

Descasquei tudo, cortei, preparei a cebola espetada com cravos, lavei o ramo de aipo, piquei tudo direitinho, coloquei no meu caldeirão e mandei ver. Ficou ótimo! Nem acreditei! Cheguei a repetir a dose. De novo um tremendo sucesso! Só teve uma coisa que eu não fiz direito da primeira vez e que corrigi na segunda... Foi com o ramo de aipo.

O aipo tem uma haste bem grossa e comprida com várias folhas parecidas com uma salsinha gigante na ponta. O negócio é grande mesmo. Uns 40 ou 50 cm de comprimento. Desses, mais da metade é caule, o resto são ramos de folhas. Na segunda vez que eu fiz o cozido, fiquei pensando que era um pecado jogar aqueles caules fora. Cortei uma parte deles e pus no cozido. Ficou bom também. Daí comecei a prestar atenção aos programas da Cuisine TV que faziam receitas com aipo e percebi que tinha me enganado da primeira vez. O que eles colocavam nos pratos eram os caules, não as folhas. Basicamente, o que eu fiz foi o seguinte: coloquei no cozido o que era pra jogar fora e joguei fora o que era pra colocar no cozido! Mas ficou bom mesmo assim, isso é o que importa.

Tive alguns maus momentos, é verdade. Uma vez fiz um pão com peito de frango e estragão. E aquele estragão... estragou tudo! Eu tinha pego a receita na Internet e tinha um erro lá. Em vez de 5g da erva, estava escrito 50g. Comprei um pacotinho de estragão fresco e vi que o peso era de 11g. Coloquei tudo. Foi mais do que o dobro da dose necessária. Ficou meio forte. Ainda bem que não comprei 5 pacotinhos de estragão! Aí sim teria estragado de vez!!!

Além disso, tinha o arroz. Ah, o arroz... Esse "calo" na minha vida! Eu estava bem feliz com meu arroz de pacotinho. Sempre dava certo. Aí minha mãe veio para cá e começou a fazer arroz de verdade. Quando ela foi embora, o Vidal, assim como quem não quer nada, comentou:

- Poxa, mas o arroz de pacotinho é bem pior que o outro, né?

Entendi o recado! Ia ter de fazer arroz de verdade também!

Os meus problemas com o arroz são os seguintes: ou eu deixo queimar, ou fica uma papa, ou fica sem sal, ou tudo isso ao mesmo tempo! Além do que, lavar uma panela de arroz é uma coisa abominável!

Minha disputa com o arroz é grave! Uma vez veio um casal jantar aqui em casa e eu fiz Feijão Mexicano. O acompanhamento é arroz. Fiz uma quantidade e achei que era pouco. Fiz mais um tanto. Quando o Vidal chegou, mostrei a panela pra ele e perguntei o que ele achava. O Vidal é super sincero e nem precisou falar nada pra que eu entendesse tudo. Eu, já meio desesperada, disse que tinha outra panela no forno e que eu podia tentar salvar a situação com ela. Mas, quando levantei a tampa, eu mesma me dei conta da calamidade. Sim porque, como eu não tinha colocado shoyo na água de cozimento do arroz, então aquela cor de caramelo só podia significar que ele tinha passado da conta na hora de fritar! Pensei em colocar uma luz meio indireta na sala, por exemplo, apagar tudo e deixar a televisão ligada para criar um clima de mais intimidade, assim não daria pra enxergar o arroz... Mas desisti. Como muitas vezes a melhor defesa é o ataque já de cara fui admitindo para os nossos amigos que eu sabia fazer um monte de coisas na cozinha, menos arroz, que ele era ruim mesmo e pronto!

Só que os pedidos do Vidal começaram a se repetir. Eu não tinha outra alternativa. E depois, quem já fazia "Clafoutis au Brocolis", "Tartiflete", "Tarte aux Épinards" além de um magnífico "Potée au Chou", não poderia se deixar vencer por um mísero arroz, né?

As primeiras tentativas foram catastróficas. Quando os grãos caíam de cinco em cinco eu já achava que tinha feito o campeão do arroz soltinho. Tudo bem que ele não se soltava da colher com facilidade, mas saía da panela! Branco!!! Não me deixei abalar. Lembrei que, entre os poucos livros de receita que eu trouxe, tinha uma revista bem legal. Eu achava que falava alguma coisa de arroz lá. Dito e feito! Estava na capa: "Iniciantes - Receitas básicas e superfáceis, do arroz ao cafezinho". Fiquei meio deprimida... Eu, que já tinha feito um "Hachis Parmentier" (Madalena, para os íntimos) era reduzida ao nível iniciante! E pior! A escala iniciante ia DO arroz AO cafezinho, o que quer dizer que eu estava no nível mais baixo que se pode atingir!!! Respirei fundo, peguei a revista e fui para a cozinha. Segui à risca tudo o que dizia lá. Tim tim por tim tim. Tudo medido. Duas colheres de sopa de óleo. Uma colher de sobremesa de cebola picada. Fritar dois minutos. Liga o fogão e olha para o relógio. Contei os segundos! Fiz exatamente o que dizia lá e... deu certo!

Fiquei contente. Ainda umas duas vezes peguei a revista para seguir a receita na hora de fazer o arroz. Daí comecei a pegar confiança e a tentar vôos mais altos. O tombo só foi maior. Voltei às panelas grudadas e aos grãos colentos. Tudo bem, uma vez eu desconfiei daqueles caracteres estranhos na embalagem e me toquei do óbvio: japonês come arroz de palitinho! Não dá pra ficar soltinho mesmo e arroz de japonês SEMPRE vai ficar papento. Mas nem mudando de arroz... Nada dava certo definitivamente.

Vocês pensam que eu desisti?! Claro que não!

Acabei entrando no Orkut, uma invenção da internet onde a gente cria um grupo de amigos, pode participar de comunidades. Uma coisa legal. Me inscrevi em duas comunidades de culinária. E descobri, feliz, que eu não era a única! Tinha mais gente com o mesmo problema! Uma menina pedia ao grupo que a ajudasse explicando como fazer para o arroz ficar soltinho. Li todos os conselhos, tentei e funcionou. E o melhor: nunca mais errei! Ufa! Economizei uns cinco anos de terapia com o Orkut. Santa internet!

Aí me empolguei de vez. Comecei a testar temperos. Meu êxtase foi usar alecrim num frango assado. Fazer um frango assado já era, para mim, uma aventura. E, ainda por cima, com alecrim! E sem livro de receita! Um outro dia fiz uma carne de porco de panela. Com legumes cozidos! É ou não é comida de mãe de verdade?

Mas nada, nada mesmo, me deu tanto prazer quanto fazer um mexidinho. Para quem não sabe, o mexidinho é uma receita de família. Sua origem se perde nas cozinhas das fazendas no interior de Minas Gerais. Um mexidinho é sempre uma surpresa. Uma boa surpresa. Eu tinha esquecido da existência dele até que minha mãe fez aqui em casa e o Vidal se apaixonou... Pelo mexidinho, não pela minha mãe!!!

Logo que ela foi embora, me arrisquei. Fiz meu primeiro mexidinho... Não dá pra descrever o que senti naquele dia. Eu e o Felipe sentados ali na cozinha, um silêncio solene no ar e nossos mexidinhos fumegantes no prato. Senti a presença da minha mãe na cozinha. Não só dela, mas também das minhas tias, da minha avó, e de tantas outras mulheres dessa família que também já fizeram seus mexidinhos. Todas sobre o meu ombro, esperando pela primeira garfada e pelo hummmmm de aprovação. Ainda bem que espíritos não ocupam espaço. Não ia caber tanta gente na minha cozinha. Fiquei pensando no dia em que eu mesma vou passar essa tradição para a Ana Luíza...


Se um cozinheiro francês visse um mexidinho teria uma reação forte. Proporcional à quantidade de estrelas que ele possui no guia Michelin (um guia que classifica os cozinheiros e os restaurantes. Dizem que um cozinheiro se suicidou quando perdeu uma estrelinha do guia Michelin). Quanto mais estrelas, mais forte a reação. Uma estrela: uma síncope. Duas estrelas: uma síncope seguida de uma parada respiratória. Três estrelas: um infarte fulminante! Sim, porque a aparência de um mexidinho é qualquer coisa de estranho. O mexidinho é feito com todas as sobrinhas que existem na geladeira. Por isso ele é sempre uma surpresa. Mas, o sabor... Ah, o sabor. Nenhuma constelação inteira no guia Michelin poderia classificar um mexidinho...

Uma vez tentei inovar: estava empolgada com os temperos e coloquei tomilho no mexidinho. Ficou péssimo, é claro! Como o próprio nome diz, um mexidinho só pede coisas no diminutivo: uma salsinha, uma cebolinha, um feijãozinho, uma carninha e, até mesmo, uma abobrinha (que é uma coisa que eu deploro). Tomilho é demais! Imponente demais, esnobe demais. Claro que não podia dar certo.

Um mexidinho só tem vantagens. É bom, acaba com todos os restinhos da geladeira e é milagroso. A gente olha para a quantidade de arroz, de feijão, de carne e tem certeza de que não é suficiente para uma refeição. Só que daí a gente faz um mexidinho e aquilo se multiplica! Todo mundo come e sai satisfeito.

Não! Não posso falar mais. Um mexidinho é um segredo de família que é transmitido de mãe para filha de geração em geração. Não pode ser revelado. Nem sob tortura! Já estou até vendo a cena...

Uma casa simples, no meio de um bosque. Na verdade, a casa da bruxa do Joãozinho e Maria. Aquela feita de chocolates, balas, bolachas. Eu, amarrada numa cadeira no meio da sala há cinco dias sem comer... E a bruxa na minha frente:

- Fale!

- Não!

- Diga: como se faz um mexidinho?

- Não falo! Você pode fazer o que quiser comigo, mas eu não conto!

Ela passa uma picanha no espeto bem perto do meu nariz. Eu começo a me afogar com a saliva. Ela puxa minha cabeça para trás:

- Conte!

- Não conto!!!

Ela apela: pega um prato de paçoquinhas. Meus olhos lacrimejam, eu começo a respirar pela boca para não sentir o cheiro, mas ela me obriga a respirar pelo nariz.

- Não resista! Vai ser pior para você! Como se faz um mexidinho!!!

- Não digo!

Aí ela abre uma garrafa... Tchiiiiii... E enche um copo de Guaraná Antarctica bem na minha frente...

- Tá bom! Tá bom! Eu conto tudo!!!!

Quanta bobagem... (menos a saudade do guaraná)

Mas é verdade, viu? Nem adianta abarrotar minha caixa postal com pedidos de receita de mexidinho. Não posso cometer essa traição. Aliás, ainda antes de ir embora para o Brasil, vou queimar aquela receita de mexidinho que eu pedi para minha mãe escrever pra mim quando ela esteve aqui e... Ei! Espere aí! NÃO! Tem alguém aqui roubando minha receita!!! Devolve já!

Vou ter de resolver isso! Um outro dia eu volto!


segunda-feira, outubro 18, 2004

Eu não contei uma coisa pra vocês!

Tem um dos canais abertos de televisão daqui (o que seria mais ou menos equivalente à Rede Globo aí no Brasil) que promove todos os anos uma música para ser o sucesso do verão. Ninguém vai acreditar em qual foi o "hit" desse ano: Mamãe eu quero!

Estou falando sério! O sucesso do verão francês deste ano foi "Mamãe eu quero", que aqui recebeu o nome de "Choopeta" (que os franceses pronunciam "tchupetá"). A música é cantada por um trio de meninas brasileiras que são trigêmeas. O grupo se chama T-Rio. Até achei o nome legal, já que é um trio, elas são do Rio de Janeiro, são trigêmeas e os nomes delas começam todos com a letra T. Claro que tinha coreografia, vídeo-clipe com as meninas de biquini na praia e tudo o mais.

Alguém aí conhece esse grupo?

De qualquer forma, até que foi legal. Deu pra matar um pouco das saudades... Passamos alguns meses ouvindo Mamãe eu quero todos os dias!

quinta-feira, outubro 07, 2004

Agora é oficial! Foram mais de dois meses pra conseguir comprar quatro passagens de avião, mas, enfim, estamos com as passagens em mãos e data certa para chegar: 9 de dezembro!!! Nem vou me dar ao trabalho de contar toda a função pela qual passamos. Não vale a pena. O importante é que as passagens estão aqui em casa, certinhas!

Só que eu vou ter de adiantar uma coisa para vocês. É o Felipe. Não é que ele tenha esquecido o português, é que o francês está muito presente na vida dele. Tem coisas que ele já prefere falar em francês mesmo porque acha mais fácil. Se antes ele nos perguntava "como é que fala tal coisa em francês?" agora a pergunta já é "como é que fala tal coisa em português?".

Mas o pior nem é quando ele fala francês. Esse aí a gente conhece e até consegue entender. O mais complicado é quando ele fala português mesmo, mas com estruturas que não são nossas. Aí a gente tem de fazer um trabalho de "engenharia reversa", quer dizer, a gente traduz para o francês o que ele disse pra tentar entender o que foi que ele, na verdade, quis dizer.

Como, nos primeiros dias que a gente estiver aí no Brasil, pode acontecer de alguém conversar com ele e não compreender o que foi que ele quis dizer, vou publicar aqui um "Pequeno dicionário para compreender o Felipe". Na verdade, vou escrever aqui um possível diálogo pra vocês entenderem o problema. As "traduções" vão estar entre parênteses.

- Felipe, onde é que você está?

Ele sai de dentro do armário onde estava escondido e diz:

- Eu estou (aqui)! Mamãe, eu vou fazer pra você um trabalho que a professora me aprendeu (me ensinou) na escola.

- Que legal!

- Você pega um papel e plia (dobra) ele assim uma vez, depois plia outra vez pro outro lado e de novo e de novo.

- Ficou bem bonito, Fê!

- Oh, non!

- Que foi?

- Aconteceu um accidente (acidente, mas com pronúncia francesa)! Eu pliei errado! Eu vou tudo começar! (começar tudo de novo). Oh! Merde! (esse já está saindo em francês mesmo...)

- Não tem problema, Felipe. Está lindo assim. Mas se você não está gostando, faz alguma outra coisa.

- Já sei! Tive uma melhor idéia. (idéia melhor). Vou pegar a cisô (tesoura) e cortar esse pedaço. Mamãe, onde é que foi passar (está) a cisô?

- Não sei. Procura na gaveta da cozinha.

- Vai lá pegar pra mim...

- Agora não dá, Felipe! Eu preciso terminar de passar essas roupas...

- Ah, vai...

- Não dá, querido!

- Alê (vai)...

- Agora não dá, Felipe!

- Quando o papai chegar eu vou contar pra ele que você não me obeiu (obedeceu) e vou pedir pra ele ir me achar!!! (buscar na escola)

Eu olho pra ele com uma expressão de quem diz "faça-me o favor!" e ele pergunta:

- Por que você fez essa cabeça? (fez essa cara)

- Por que eu tenho essa pilha de roupas para passar e não posso ficar parando pra ir procurar tesoura pra você!

- Faz ver. (Deixa eu ver) Ahnnnn... Tudo bem. Então vou escutar uma musíca (não sai mais música de jeito nenhum).

Como vocês podem ver, o caso nem é tão grave. Mas às vezes eu e o Vidal precisamos fazer uma pequena conferência pra conseguir captar o que ele quis dizer.

Mas não pensem que ele ficou metido não... No domingo passado ele pediu um calendário pra começar a riscar os dias que faltam pra gente ir para o Brasil! Como nós, ele também não vê a hora de pisar de novo a nossa terrinha, sentir um vento quente no rosto, comer um churrasquinho de verdade! Essas coisas de falar esquisito ele vai perder em dois ou três dias. E depois, qualquer problema maior de comunicação a gente pode resolver!

Vamos começar a contagem regressiva!