quinta-feira, março 25, 2004

Infelizmente, um assunto sério hoje. Vocês devem ter visto nos jornais que foi encontrada mais uma bomba em uma linha de trem aqui na França. Imaginamos que isso pode ter preocupado amigos e família que estão aí no Brasil, essa terra abençoada.

É verdade, e foi a segunda bomba encontrada nessas condições nas últimas semanas. Os possíveis responsáveis fazem parte de um grupo chamado AZF, do qual a gente não sabe muito e, pelo que pudemos ler rapidamente, nem mesmo os franceses têm pleno conhecimento das reivindicações.

Não vamos negar que os acontecimentos desse mês de março nos deixaram apreensivos, assim como todos os outros habitantes da Europa. É verdade que a França estava originalmente fora da lista dos países-alvo da Al-Qaeda, mas, como disse o presidente francês logo depois dos atentados de Madri: "Ninguém está a salvo". Um fato, particularmente, deixa a França vulnerável: recentemente foi aprovada uma lei que proíbe o uso de qualquer coisa (seja roupa ou acessório) de origem religiosa nas escolas públicas francesas. Os maiores protestos quanto à discussão e aprovação dessa lei vieram das mulheres muçulmanas que não podem mais usar o lenço sobre os cabelos. Isso pode ser suficiente para que um grupo de descontentes faça estragos por aqui, em sinal de protesto contra essa lei.

É uma pena que o mundo esteja dessa forma, mas, se está assim é por culpa única e exclusiva dos próprios humanos. Não houve nenhuma invasão extra-terrestre que viesse a ocasionar todas essas turbulências. Portanto, se os humanos causaram esse estado de coisas, eles próprios (ou seja, nós todos) devem resolver essa situação. Como? Não faço a mínima idéia! O que fico imaginando é que deve ter ocorrido alguma mudança genética nesse grupo de terroristas, porque eles perderam completamente o instinto de sobrevivência, inerente a qualquer pessoa. Li em uma revista uma coisa que me impressionou bastante. Em cartas enviadas logo depois dos vários atentados que eles cometeram havia uma frase: "Vocês querem a vida, nós queremos a morte". Como se defender de pessoas assim? Pessoas que estão dispostas a tudo, inclusive a morrer?

Dá uma revolta enorme ver o que essas pessoas fazem com quem não tem absolutamente nada a ver com o problema deles. Mas, infelizmente, eles perceberam que dessa forma conseguem se fazer notar. Fico tentando não alimentar sentimentos ruins dentro de mim, já que é isso que faz com que o círculo seja "vicioso" e não "virtuoso". É difícil, mas acho que até consigo às vezes. É um exercício constante de racionalidade, porque a raiva que dá ao ver as cenas de atentados é enorme.

Diante disso tudo, começamos a elaborar estratégias para nos sentirmos mais seguros. Em primeiro lugar, gostaria de dizer que não vivemos de tão perto essa ameaça. A vida continua normalmente e não temos sinais visíveis de que estamos em guerra. Sim, porque esta é exatamente a situação: estamos em guerra. Uma guerra mundial. Diferente daquela que estudamos nos livros de história, mas uma guerra assim mesmo. Pelo que vemos nos telejornais, a França parece estar bem preparada para situações de atentado, principalmente no sentido de minimizar as chances de que eles aconteçam. Existe um plano de vigilância anti-terrorista chamado "Vigipirate", que está a todo vapor já faz alguns dias. Justamente por causa desse plano é que essas bombas foram encontradas.

De nossa parte, decidimos tomar também algumas providências. Nada de muito especial, mas, mesmo sabendo que não se pode estar totalmente livre de uma fatalidade, sempre é bom se precaver. Já que, aparentemente, esses grupos terroristas têm a intenção de fazer sempre "mega produções", no sentido de atingir sempre um grande número de pessoas ao mesmo tempo, decidimos evitar o máximo possível os ambientes com muita gente (trens, estádios de futebol, shows). Também queremos fugir das grandes cidades, especialmente das capitais. Logo vão chegar as férias e temos a intenção de passear um pouco. Vamos, então, viajar de carro dando preferência às cidades pequenas. É mais ou menos o que fazemos aí no Brasil: não podemos garantir que não seremos assaltados, mas, nem por isso, andamos cheios de jóias, por ruas suspeitas à noite. A gente sempre prefere "não dar chance para o azar".

A mensagem que eu quero passar para vocês é a seguinte: o risco é real, mas não é maior do que os riscos que todos nós corremos todos os dias, só pelo fato de estarmos vivos. É chato que isso esteja acontecendo, a gente preferia que fosse diferente. Mas, vocês sabem, eu sou sempre otimista. Acredito mesmo que vamos conseguir sair dessa, principalmente quando olho para trás na história e percebo que já houve situações igualmente ruins que se resolveram (Hitler, Guerra Fria, etc.). Acredito que a situação que estamos vivendo vai exigir de nós tolerância em relação às diferenças. É o que devemos exercitar todos os dias e ensinar às nossas crianças: as pessoas são diferentes, acreditam em coisas diferentes, agem de maneira diferente. E nós precisamos aceitar e conviver com isso.

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