quarta-feira, maio 11, 2005

Vocês podem estar achando que minha vida de Rainha do Lar anda menos importante, já que faz tempo que eu não tenho um ‘causo’ doméstico pra contar. Nada disso! A minha lida aqui com meus produtos de limpeza continua firme e forte! Limpo, lavo, passo, cozinho, junto brinquedos do chão pelo menos umas cinco vezes por dia... Claro que eu tenho uma ajuda de alguns eletrodomésticos. Aspirador de pó, máquina de lavar roupas... Aliás, falando nela...

Eu já contei por aqui que alguns dias depois que chegamos o que eu mais queria era escutar música. Não qualquer música, mas sim uma em particular: o batuque ritmado de uma máquina de lavar roupas... Eu chegava a sonhar à noite com isso.

Pois bem, nos mudamos e compramos uma máquina. Como eu fiquei feliz! Já o Vidal quase ficou descadeirado pra fazer subir a máquina até aqui em cima (ela foi, de longe, a coisa mais pesada que ele carregou). Mas eu não via a hora de instalar a bichinha. Eu arrumei o cantinho dela, nós retiramos sofregamente todas as proteções da embalagem (vejam como é a vida... tem casais que retiram sofregamente a roupa... a que ponto chegamos!), ligamos o fio na tomada e... percebemos que uma máquina de lavar roupas é um eletrodoméstico um pouco mais complicado. Precisa de energia elétrica, tudo bem, isso a gente sabia como fazer, mas também precisa de uma entrada de água e de um lugar pra escoamento! Puxa vida!

O lugar da máquina é ao lado do pianque (aquela mistura de pia de cozinha com tanque sobre a qual eu já falei aqui) e não tinha nada preparado na parede pra receber a minha maquinazinha. O Vidal teve a audácia de sugerir:

- Bem, o encanador vai vir daqui a quinze dias fazer a reforma no banheiro, daí a gente pede pra ele instalar a máquina.

Ao que eu, prontamente, respondi:

- NEM PENSAR! Não quero ficar mais quinze dias lavando roupa na mão. Não, senhor! Vamos ligar essa máquina hoje mesmo!

Sábia decisão. Não sei se vocês estão lembrados, mas o encanador, que era pra vir em quinze dias, só apareceu dois meses depois! Já pensou? Ficar dois meses sem máquina de lavar roupa?

Pra escoar a água era fácil: a gente colocou o cano pendurado no pianque e tudo bem. Mas pra fazer entrar água na máquina a gente ia ter de ligar o outro cano direto na torneira, o que não era possível sem uma pecinha especial. O Vidal olhou pra mim segurando o cano em uma mão e a torneira na outra, abriu a boca e... não falou nada. Desconfio que alguma coisa no meu olhar fez com que ele desistisse da idéia de argumentar e resolvesse sair imediatamente pra comprar a tal pecinha.

Mas, como tínhamos acabado de nos mudar, por mais que eu quisesse muito ver a máquina funcionando cheia de roupas dentro, havia coisas mais urgentes a serem feitas como, por exemplo, dar uma limpada no banheiro pra gente poder tomar banho, tirar o plástico do colchão pra gente ter onde despencar o esqueleto, empilhar as caixas pra gente poder passar de um lado para o outro da maneira menos perigosa possível. Então, quando conseguimos ligar a máquina, já era quase meia noite.

Enquanto o Vidal ia conectando as coisas, eu ia lendo o manual de instruções, como se fosse um romance, imaginando as cenas das roupas saindo limpinhas da máquina sem que eu tivesse esfregado uma por uma antes! Um verdadeiro sonho!

Muito bem! Tudo instalado e pronto para o primeiro teste! Lá no manual dizia: ‘Utilize o programa número 1 para roupas de algodão muito sujas’. Perfeito! Era exatamente esse o caso: meias do Felipe que um dia tinham sido brancas, camisetas com respingos de molho de tomate, calças jeans que há muito não viam uma água com sabão... Enchemos tudo, colocamos a danada pra funcionar e nos sentamos próximo à mesa da cozinha pra ficar ali, olhando pra ela, assistindo comovidos aos seus primeiros movimentos e ouvindo o suave e discreto som do seu trabalho: chec, chec. Chec, chec. Chec, chec. Chec, chec. Chec, chec....

Rorrrrrrrrrrrr! Esse foi o som do ronco do Vidal que me acordou. Estávamos os dois, ele roncando e eu babando na mesa da cozinha. A máquina? Trabalhando! Uma hora já tinha passado depois de termos colocado a danada pra funcionar e ela não estava nem na metade do programa ainda!

O programa número 1, significava, na verdade, fazer a máquina passar por todas as sete etapas de lavagem para tecidos de algodão. Nem sei que horas eram, mas já era muito tarde. Eu sugeri deixar a máquina trabalhando e irmos dormir deitados, nem que fosse sobre alguma caixa de papelão, mas o Vidal achou mais prudente desligar a máquina e terminar a lavagem no dia seguinte. Dessa vez, a sábia decisão foi dele...

No dia seguinte, a primeira coisa que eu fiz foi ligar a máquina e continuar a limpeza e a arrumação das outras coisas. E assim foi: ela trabalhando no canto dela e eu no meu. E ela trabalhava. E eu também. E ela trabalhava. E eu também. Até que eu cansei e ela... continuou trabalhando! Cheguei a pensar que ela estava engasgada em algum dos sete passos do programa, mas não! Lentamente, mas põe lentamente nisso, ela avançava. Até que chegou no último passo: a centrifugação.

Parênteses. Quando fomos comprar a máquina, a vendedora que nos atendeu disse que ela era ótima e que, vejam só, chegava a até mil rotações por minuto na parte de centrifugação! Eu nunca tinha visto isso na vida, já que aí no Brasil as máquinas que eu conhecia ou centrifugam ou não centrifugam e pronto. Mas diante da vendedora fiz uma cara de muito satisfeita, do tipo ‘Ah bom, se não fossem as 1000 centrifugações por minuto eu nem ia querer saber dessa máquina’, quando, na verdade, ela era A opção que tínhamos, já que, não por acaso, era a mais barata entre todas as lojas que tínhamos pesquisado.

Obviamente, quando fiz as regulagens de quantidade e temperatura da água, selecionei mil rotações por minuto na hora de centrifugar. Imaginei que a roupa sairia da máquina praticamente seca! Fecha parênteses.

A centrifugação começou e eu não estava ali por perto. Ninguém estava. Aí começou a vir um barulho estranho e eu fui ver o que era. A máquina tinha se movimentado para trás e estava batendo na parede da cozinha. Na verdade, ela estava pulando mesmo. Eu fui tentar puxá-la pra frente, mas lembrem-se de que eu disse que ela era o que de mais pesado tinha por aqui. Além do mais, eu estava com meu barrigão de sete meses que não ajudava grande coisa, muito pelo contrário.

Enfim, eu tentava puxar a máquina pra frente, e ela pulava feito uma cabrita pra trás. Desisti de puxar e resolvi só segurar pra ela não fazer um estrago grande, nem na parede, nem nela mesma. Segurei a máquina pela parte de cima e apoiei os cotovelos na tampa, enquanto fincava os pés no chão e empurrava a bunda pra trás, apertando os olhos, fazendo o máximo de força que eu era capaz pra ver se conseguia manter aquela coisa no lugar! O Felipe tinha vindo atrás de mim na cozinha e me olhava com os olhos do tamanho de dois pires! Senti que estava no fim das minhas forças e chamei:

- Vidal!

Nada.

- VIDAL!

Nada.

- VIDA-A-A-A-A-A-A-A-A-AL!!!!!

O Felipe começou a chorar.

O Vidal chegou correndo na cozinha e assumiu o posto de segurador da máquina até que ela parou. Que alívio!

Fomos investigar os estragos... Ela tinha feito um buraco na parede. Tudo bem. Não foi nada mais sério do que isso.

Percebemos que não ia dar pra usar as mil rotações por minuto. Então começamos a diminuir: 800. Não deu. 700. Nem pensar! 600. Pulos ainda. 500. Coices pra tudo que é lado. 400. Pinotes! Depois de 400, só tinha mais duas marcas nos controles: mínimo e sem centrifugação. Colocamos no mínimo. Finalmente, ela não saiu do lugar! O problema é que, no mínimo, a roupa sai pingando da máquina. Até eu, que tenho uma força que beira o ridículo, sou capaz de torcer melhor.

Desolação total! Com o clima horroroso que faz aqui, e sem secadora de roupa, não dava pra não centrifugar! Resolvemos ler o manual novamente.

Lá dizia: ‘Depois de colocar a máquina no local escolhido, nivelá-la ajustando os pés anteriores, firmando em seguida as porcas com a chave fornecida. Atenção: todo nivelamento imperfeito provoca instabilidade da máquina, um funcionamento barulhento e risco de panes e rupturas’.

Estava explicado. Não tínhamos regulado os pés da máquina. Toca o Vidal pro mercado de novo pra comprar um nível daqueles de pedreiro e marceneiro. Vocês sabem que quando é pra fazer alguma coisa, a gente faz bem feito.

Mesmo com todo o aparato técnico, foi meio difícil ajeitar o nível porque era necessário levantar a máquina (leve como um hipopótamo), ajustar os pés, abaixar a máquina, olhar o nível, e assim sucessivamente até a gente perceber que era impossível! Na verdade, foi o Vidal quem concluiu brilhantemente que não dava pra colocar no nível uma coisa de quatro pés se ele só podia mexer nos dois pés da frente (os de trás eram rodinhas, não dava pra mudar a altura).

Aí o Vidal teve uma outra idéia. Foi novamente ao mercado e voltou com um serrote e um formão! Isso mesmo! Um formão, aquele instrumento que serve pra esculpir madeira.

Ele pegou uma ripa que tinha sobrado nem sei de qual embalagem e cortou um retângulo um pouco maior do que o espaço da rodinha da máquina. Então, entalhou um buraco do tamanho exato da rodinha. Horas e alguns cortes na mão depois, ele encaixou esse pedaço de madeira na rodinha traseira e aí, com o nível, foi ajustando a altura da máquina, serrando, entalhando, lixando até que a máquina ficou perfeitamente nivelada. A peça de madeira esculpida ficou de dar inveja ao Michelangelo!

Nova experiência de lavagem de roupas. O Vidal ansioso, me perguntou:

- E daí?

- Silêncio absoluto na cozinha!

<>A gente nem teve muito tempo pra comemorar. Na hora que começou a centrifugação, lá se foi a cabrita dando pinote de novo. O Felipe ficou histérico e, nós, resolvemos nos render.

Todas as vezes em que eu colocava a roupa pra lavar, ficava do lado da máquina esperando pra segurá-la na hora da centrifugação. Quando o Vidal estava em casa, ele mesmo segurava a cabrita. O Felipe, invariavelmente, ia se esconder no quarto chorando embaixo da cama.

Começamos a falar pra ele que isso era bobagem, que não tinha problema, que era até divertido encostar na máquina e falar enquanto ela trabalhava e, aos pouquinhos, ele foi perdendo o medo e passou até a, corajosamente, nos ajudar a segurar a louca.

Daí ficamos assim: eu punha a roupa pra lavar e deixava a centrifugação no mínimo. Depois que ela terminava o serviço, eu colocava de novo pra centrifugar e ficava por perto. Quando ela começava a dar pinote eu montava na bichinha e gritava: ‘Seguuuuuuuuuuuuuura peão! Quem-tem-amor-tem-saudade-quem-não-tem-chora-uma-barbaridade!’ Barretos que me aguarde!

Claro que a gente deixava em 400 rotações por minuto, porque nas mil rotações não dá pra suportar. Ela chacoalha tanto que a gente tem a sensação de que o cérebro está chacoalhando também! Mesmo assim, quase no mínimo, na época em que eu amamentava a Ana Luíza tive a impressão de que uma vez ou outra ela não conseguiu mamar direito. Acho que meu leite acabou virando manteiga. Sei não!

Com o tempo eu fui ficando mais confiante. Ou preguiçosa, depende do ponto de vista! Primeiro eu parei de segurar. Passei a colocar só o pé na frente, enquanto aproveitava o tempo pra lavar a louça, por exemplo. Depois, comecei a deixar que ela pule e vá aonde bem entenda. Ela é limitada pelo fio da energia elétrica mesmo, então seus passeios não vão muito longe. Às vezes ela vai pra frente até parar no cesto de roupa suja, que empurra o cesto de lixo que gruda no armário que já está encostado na parede mesmo e não se mexe. Outras vezes ela vai pra direita ou pra esquerda e fica batendo na parede ou no pianque até que eu chegue pra puxá-la de novo pro lugar (isso quando eu não coloco um pote de amaciante ou a caixa de sabão em pó pra amortecer as batidas e deixo que ela fique sacolejando à vontade). Algumas vezes, milagre!, ela não se mexe! E não sei qual é a lei da física que explica isso mas, quando ela está em 400 ou 500 rotações por minuto, ela anda pra frente. Se a gente coloca 800 ou 1000 rotações por minuto, ela anda pra trás! Então, de vez em quando aproveito isso pra fazer o seguinte: ela vai pra frente, eu limpo o chão atrás dela, daí eu mudo a rotação e ela volta pra trás. Sozinha!!! Vejam que prático!

Claro que hoje ela não está mais na base da ‘ligação direta’! Não ia dar. Sabem o programa número 1? Demora três horas e meia pra completar! Quando a máquina estava ligada direto na torneira, a gente ficava esse tempo todo sem poder tomar água, cozinhar, lavar a louça. Sem falar no escoamento da água da lavagem direto na pia... Um horror! Não! Quando o encanador esteve por aqui tirando a banheira e colocando o box, ele fez também as instalações para a máquina. Ufa!

De qualquer maneira, mesmo pulando, tropicando ou estrebuchando, eu não viveria sem minha máquina de lavar roupas! Tudo bem que ela lava, mas não passa. Aliás, agora mesmo vou ter de parar de escrever porque, como eu disse um dia desses numa conversa, a pilha de roupas que eu tenho pra passar só não está mais alta do que as Twin Towers porque elas não existem mais! Oh vida!

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